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Veja como limpar vidros em obras de grande porte

22/04/2021 - 12h01

Belas construções envidraçadas existem aos montes – basta folhear qualquer edição de O Vidroplano para encontrá-las. Mas a eficiência de nosso material depende não só da especificação e instalação correta — a limpeza das peças faz a diferença para o desempenho dos vidros, principalmente daqueles com tecnologia e revestimentos especiais.

Para entender as melhores formas de se fazer essa tarefa, nossa reportagem conversou com empresas especializadas no serviço, além de fornecedoras de materiais utilizados nesse momento. Assim, temos aqui quais os produtos indicados, a importância de se levar em conta como será o processo de limpeza antes mesmo de a obra ser erguida e quais as técnicas utilizadas.

Desde o escritório
Por mais plano que possa parecer, o vidro tem uma superfície porosa. “Sabe-se que manchas são ocasionadas quando as impurezas se instalam nesses minúsculos orifícios”, explica Jacqueline Neves, responsável pelo marketing da Abrasipa. A sujeira interfere na estética e nos conceitos arquitetônicos de um edifício, impedindo a transparência de uma fachada com essa característica, e vai além. Vidros de controle solar ou com células fotovoltaicas, por exemplo, têm o desempenho prejudicado consideravelmente caso acumulem impurezas.

A limpeza precisa começar já no escritório dos arquitetos e engenheiros. “Devem ser previstos em projeto os meios de acesso para realizar a tarefa, como pontos de ancoragem para cadeirinhas e balancins, passarelas, pontes e guinchos especiais”, destaca o diretor da Avec Design, José Guilherme Aceto. Esses pontos garantem a segurança das pessoas responsáveis por esses serviços. Três documentos os regulamentam: a Norma Regulamentadora (NR) 18 — Segurança e saúde no trabalho na indústria da construção; a NR 35 — Trabalho em altura; e a NBR 16325 — Proteção contra quedas de altura. “Os acessos devem ser projetados para atender o uso de cordas ou cabos, resistindo a uma carga pontual de até 1,5 t e também a intempéries. Por isso, são fabricados normalmente com aço inoxidável”, informa Aceto.

 

especial2Outra solução encontrada, dependendo da tipologia da fachada, é a criação de aberturas na estrutura para servirem de acesso. No entanto, independentemente da escolha seguida, a presença dos pontos de ancoragem precisa se tornar prática padrão por parte de quem cria os edifícios. “Esse seria o ideal, inclusive para garantir maior vida útil aos vidros, mas, efetivamente, não ocorre a todo o momento”, lamenta Karina Chiavegatto, gerente-comercial da Supply Brasil, companhia especializada em limpeza. Nossas empresas devem, então, fazer a lição de casa: acompanhar e cobrar, quando possível, arquitetos e engenheiros para a inclusão desses elementos.

 

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Avaliando a tarefa
Qual a frequência ideal para se limpar uma obra envidraçada de grande porte? Isso vai depender de sua localização. Se tiver contato com situações específicas como as citadas abaixo, terá de ser realizada mais vezes, talvez até mensalmente, dependendo da sujeira acumulada.

- Trânsito: excesso de veículos nas ruas pode impregnar o vidro de fuligem, oriunda da fumaça emitida pelos automóveis;

- Parques e regiões costeiras: o vidro pode sofrer corrosão por conta da maresia e umidade, chegando ao ponto de ficar coberto de limo em casos extremos;

- Chuva: a água pode formar manchas caso tenha alto teor de minerais, como cálcio e magnésio.

 

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Ícone da arquitetura nacional, a Catedral Metropolitana de Brasília, criação de Oscar Niemeyer, passa regularmente pelo processo de limpeza. Os envolvidos na tarefa usam mangueiras a partir do chão, mas também cabos pra escalar a estrutura até as partes mais altas

 

A avaliação de como a tarefa ocorrerá cabe sempre ao especialista contratado. Wagner Machado Ribeiro, membro do setor comercial da Puraqleen, comenta a importância da visita presencial à obra. “É o recomendado para avaliar todos os pontos de interesse, incluindo acessos disponíveis, e estudar a melhor estratégia para a execução, chegando a uma justa elaboração do orçamento”, relata. Essa empresa, especializada em limpezas técnicas industriais, hospitalares e de projetos arquitetônicos, faz parte do braço brasileiro do grupo alemão Qleen, fabricante de equipamentos para a tarefa.

Técnicas
De acordo com as fontes consultadas para esta reportagem, o trabalho se divide em dois grupos:

1) A partir do chão: a limpeza das partes envidraçadas próximas ao solo, com até 20 m de altura (o padrão varia de acordo com a prestadora do serviço), é realizada com mangueiras, escovas e rodos equipados com hastes de longo alcance. Importante: devem ser evitadas máquinas que geram jatos d’água sob pressão, pois podem comprometer a estanqueidade das estruturas;

2) Em altura: nesses casos, a limpeza deverá ser feita utilizando-se equipamentos como balancim ou corda. O foco é garantir a segurança dos trabalhadores envolvidos, pedestres e também da obra em si. Karina, da Supply Brasil, aponta tópicos relevantes:

– É obrigatório que o profissional seja treinado com base na NR 35 e utilize EPIs durante o serviço;

– Dependendo do local, pode-se utilizar plataformas elevatórias, desde que se sinalize o local ao redor ou se evite o acesso de pedestres às redondezas;

– Dependendo do tamanho da obra, o trabalho precisa ser realizado com um mínimo de três profissionais: uma dupla de limpadores e um técnico de segurança do trabalho acompanhando todo o processo.

 

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O que usar?
Como já mencionado, é importante respeitar a integridade de nosso material durante a limpeza – assim como a das esquadrias e demais elementos presentes nas estruturas. A partir disso, seguem algumas observações a respeito do que está liberado e do que jamais pode ser usado:

– Sabão ou detergente neutros com água funcionam para boa parte do serviço;

– Água desmineralizada é uma solução moderna usada por algumas empresas. “A desmineralização, que se dá por troca iônica em um sistema próprio para isso, retira os sais minerais da água”, explica Ribeiro, da Puraqleen. Quando as partículas de H2O estão ‘descarregadas’, elas funcionam como um agente de limpeza mais eficaz, aderindo às partículas e facilitando sua remoção. Além disso, não deixam manchas nas chapas.

 

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– Para situações específicas, alguns produtos de limpeza são indicados – as empresas só precisam de atenção para saber se seu conteúdo afeta as propriedades dos vidros. Destacam-se os detergentes desengraxantes, próprios para graxas e gorduras; solventes naturais de baixa alcalinidade, com alto poder de retirada de óleo e fuligem; e desinfetantes à base de peróxido de hidrogênio, que garantem a desinfecção das peças.

– Importante frisar: materiais abrasivos, ou que venham a causar corrosão, jamais devem ser aplicados no vidro.

 

Guindastes ou outros maquinários também podem ser usados para limpar prédios envidraçados: tudo depende da facilidade de acesso à estrutura

Guindastes ou outros maquinários também podem ser usados para limpar prédios envidraçados: tudo depende da facilidade de acesso à estrutura

 

Soluções especiais
Empresas do setor vidreiro também comercializam produtos para serem utilizados na hora da limpeza de nosso material. A Abrasipa, por exemplo, conta com o ProClean, a ser aplicado em manchas, utilizando-se uma fibra de limpeza macia e uma lixadeira tipo rota orbital. Já o EnduroShield, proteção de superfície, quando aplicado forma uma espécie de película sobre a peça. Segundo a Abrasipa, o produto reduz a necessidade de limpeza em 90%, além de garantir a durabilidade do vidro por até dez anos. A Avec Design tem o Polímero Hidro Repelente, que atua de forma semelhante: ao “selar” a porosidade da superfície, impede de a ocorrência de oxidação ou a deposição de sujeiras. Ambos podem, inclusive, ser aplicados no momento da instalação das chapas.

 

Proteção extra: produtos como o EnduroShield criam uma espécie de película sobre a superfície do vidro, evitando que sujeira e água se acumule. Do lado esquerdo, a peça recebeu a aplicação; do lado direito, não

Proteção extra: produtos como o EnduroShield criam uma espécie de película sobre a superfície do vidro, evitando que sujeira e água se acumule. Do
lado esquerdo, a peça recebeu a aplicação; do lado direito, não

 

Existem ainda os vidros autolimpantes: eles recebem uma camada metálica e hidrofílica (que atrai água), responsável por quebrar as moléculas orgânicas das sujeiras. No entanto, deixaram de ser produzidos no Brasil – a Cebrace retirou a linha Bioclean de seu portfólio no fim do ano passado.

Limpar vidros em grandes obras é um trabalho seguro e não pode ser esquecido. A atividade potencializa os benefícios do material, além de deixar tudo mais bonito.

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Este texto foi originalmente publicado na edição 580 (abril de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 



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