Vidroplano
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Veja detalhes das principais palestras do GPD 2019

19/07/2019 - 14h27

O “guru” do vidro
Uma das palestras mais aguardadas de cada edição do GPD é a do consultor Bernard Savaëte, da BJS Différences, um dos maiores estudiosos do mercado global vidreiro, que completa cinquenta anos no setor este mês. Dessa vez, traçou um panorama da indústria de float no século 21. Vale lembrar que os tópicos abordados são impressões e estimativas do próprio Savaëte.

– O mundo tem cerca de 460 plantas produtivas. A China é de longe o país líder, com 235 no total. O boom na construção de fornos chineses começou no final da década de 1980;

– A América do Sul tem o 3º menor número de fornos por 10 milhões de habitantes;

– A vida útil dos fornos cresceu dos anos 1980 para cá: de seis anos, em média, subiu para treze em 2015. No mesmo período, a produtividade dos equipamentos mais que dobrou;

– Entre as empresas com maior número de fornos, a AGC está na frente, com 36. A Saint-Gobain possui um a mais, mas fica em 2º, pois dez são geridos em parceria com outras empresas. Em 3º, aparece a NSG com 28 linhas. Entre as dez mais, cinco são chinesas;

– Estima-se que, em 2018, foram produzidos 75 milhões de toneladas de float no mundo;

– Nesse mesmo ano, foram contabilizadas cerca de 300 a 350 linhas de coating no planeta, usadas para a produção de vidros de controle solar e outros materiais com revestimento. O setor de têmpera, por sua vez, é muito mais concorrido: são de 8 mil a 11 mil fornos;

– Com a tecnologia vidreira ajudando na produção e a entrada de diversos players na fabricação de float, o preço do produto variou tremendamente de 1960 para cá: 1 t custava naquela época cerca de € 1.300. Hoje, sai por menos de € 400;

– Nos últimos dez anos, a AGC é a indústria com maior número de patentes. Quando se analisa o país com mais investimento em novos produtos, a liderança é da China;

– A inovação vem de fora da indústria, a partir das demandas dos clientes. Além disso, universidades e pesquisadores independentes tornaram-se grandes colaboradores para o maior número de publicações e estudos a respeito do vidro;

– O setor de energia solar está virando um grande consumidor de vidro.

Bernard Savaëte

Mais dados e crescimento
Sener Oktik, presidente do departamento de Pesquisa da usina turca Sisecam, também ofereceu impressões e estimativas sobre os números do setor:

– Para ele, a demanda por vidro, atualmente, é maior que o volume produzido: em 2017, a indústria tinha capacidade para 76 milhões de t, contra uma demanda estimada de 80 milhões;

– A China segue sendo a maior fabricante do nosso material: em 2017, contava com 216 fábricas e produzia 48 milhões de t;

– Na Europa, as produtoras líderes são a própria Sisecam (segundo os dados revelados pela empresa) e a Saint-Gobain, ambas com 20,3% da produção do continente;

– Em relação ao crescimento do mercado, os estudos de Oktik estimam que a América do Sul pode crescer de 3% a 3,5% ao ano até 2022. O Brasil se desenvolveria abaixo desse patamar: cerca de 1,6% ao ano.

Sener Oktik NOVA

Controlando a anisotropia
Desde a última edição do GPD, a anisotropia é assunto constante no setor. Ela é uma propriedade óptica de vidros que passam por tratamentos térmicos, manifestando-se como manchas visíveis em certas condições de luz e posições de observação. Este ano, Reijo Karvinen, da Universidade de Tecnologia de Tampere, demonstrou como a melhor distribuição de calor nas chapas pode diminuir a incidência do efeito.

Louis Moreau, da Agnora, relembrou o trabalho feito com um grupo de estudos para criar uma norma americana sobre o tema. O texto a ser submetido ao ASTM, órgão americano de normalização, já está praticamente pronto. Moreau também comparou diferentes soluções de scanners que identificam anisotropia existentes no mercado, das empresas Arcon, Glaston, Lite-Sentry, SoftSolution e Viprotron.

Kai Vogel, da Viprotron, discutiu a otimização dos fornos, com o auxílio de métodos para mensurar anisotropia e haze (mancha esbranquiçada em laminados devido a falhas no processo de autoclave). Segundo ele, as melhorias podem ser feitas em equipamentos novos e antigos a partir da análise dos produtos com scanners in-line.

Louis Moreau

Revolução automotiva
Mike Pilliod, diretor da empresa automotiva norte-americana Tesla, explicou como o material facilita o design de carros, usando como exemplo o modelo X, que tem teto solar com maior visibilidade e para-brisa panorâmico com chapas com película solar (que escurece o vidro na parte de cima). Graças a parcerias com companhias vidreiras, como a Glaston, foi possível aumentar a área envidraçada nos veículos, utilizando peças com tamanhos e formatos diferentes.

Mike Pilliod

Filtragem da luz
Joe Kao, da Physee, apresentou um insulado com vidros que possuem revestimentos para filtrar a reflexão da luz, além de terem células fotovoltaicas. O produto capta energia solar para a criação de eletricidade, oferecendo maior eficiência energética à edificação, e também garante a estética das fachadas envidraçadas pretendida pelos arquitetos, pois a reflexão da luz por nosso material será menor.

Joe Kao NOVA

Tecnologia para mudar a produção
A Indústria 4.0 foi assunto de várias apresentações. AJ Piscitelli, da FeneTech, debateu a necessidade de preparar uma fábrica digital em que haja o uso inteligente dos dados coletados pelos equipamentos: o ambiente deve ser interconectado para que as informações fluam facilmente entre máquinas, funcionários e sistemas.

Philippe Thiel, da Siemens, enfatizou que é preciso saber usar as novas tecnologias. De acordo com uma pesquisa recente, 70% das iniciativas da Internet das Coisas fracassam. Por isso, é preciso preparar a empresa, incluindo um planejamento detalhado, ter disposição para investir nesse planejamento, formar equipes qualificadas e adotar uma cultura corporativa mais colaborativa.

AJ Piscitelli

O futuro da têmpera
Duas palestras trataram das mudanças que surgirão nesse processo. Riku Färm, da Glaston, e Tarun Bhatia, da Viridian Glass, explicaram que a qualidade do vidro deve estar associada às necessidades do cliente — um vidro para fachadas, por exemplo, não poderá ter marcas visíveis dos rolos dos fornos. Citaram também a importância da análise de dados durante a atividade, afinal as soluções de digitalização já permitem o controle detalhado de tudo que acontece na fábrica. No entanto, não basta coletar dados, é preciso interpretá-los para tomar as melhores decisões.

Riku Färm

Vidro é arte
Stefan Blach, representante do Studio Libeskind, apresentou obras envidraçadas projetadas pelo escritório, um dos mais renomados no uso do vidro pelo mundo. Uma das construções citadas foi a Tampere Central Deck and Arena, espaço multiuso localizado na cidade-sede do GPD. O fundador do estúdio, Daniel Libesking, já apareceu na capa de O Vidroplano, em janeiro de 2011.

Stefan Blach

Este texto foi originalmente publicado na edição 559 (julho de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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