Vidroplano
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Vidro também é arte

22/11/2018 - 09h50

Nas páginas de O Vidroplano, é comum ver o papel do vidro na construção civil, na arquitetura e até na tecnologia. Porém, ele também apresenta diversas características que o tornam interessante para artistas nacionais e internacionais. A Glasstec, evento vidreiro mais importante do mundo (e que estampa a capa desta edição), que o diga: uma de suas atividades simultâneas é a mostra Glass Art, em que peças de várias partes do mundo feitas com o nosso material encantam os visitantes da feira.

Por meio de diferentes técnicas, o vidro pode gerar obras impressionantes. A seguir, veja o que alguns artistas vidreiros têm a dizer sobre as qualidades, métodos de trabalho e aplicações.

Dando forma à expressão
Uma das definições de arte apresentadas pelo dicionário Michaelis descreve-a como sendo a “atividade que supõe a criação de obras de caráter estético, centradas na produção de um ideal de beleza e harmonia ou na expressão da subjetividade humana”. Em outras palavras, é um ofício que envolve criatividade — e, com isso, precisa de substratos que traduzam essa capacidade da mente do artista para o plano físico.

Nesse sentido, o vidro mostra-se um material bastante valioso. “São muitas as qualidades que ele pode oferecer para um projeto, da transparência e resistência física à grande versatilidade de cores, texturas e espessuras que pode ter”, explica Matheus Primo, diretor-criativo da Glass11, produtora de peças de mobiliário a partir de vidros e espelhos.

Gustavo Benini, fundador do Ateliê Benini, comenta que a variedade de tipos de vidro disponíveis no mercado abre espaço para inúmeras formas de manifestação artística. “A arte com vidro é uma arte de persistência e de dedicação na qual se tem o domínio completo das operações”, avalia. Cida Kitze, criadora do ateliê Artes & Ideias, concorda: “Trabalhar com vidros artísticos é um constante aprendizado de tentativa e erro. Há sempre algo a mais para descobrir”. Ambos os espaços instalados em São Paulo não só produzem peças de arte, mas também oferecem cursos de capacitação para artesãos interessados em suas técnicas.

vp_seibert1Vale ainda citar a possibilidade de reaproveitamento de materiais. Um dos trabalhos realizados pela artista gaúcha Carmem Seibert, por exemplo, envolve a fusão de garrafas de vidro descartadas. “Gostaria que mais pessoas tivessem o prazer de realizar esse tipo de arte, pois uma garrafa leva mil anos para se decompor na natureza”, aponta a artesã.

Ao longo dessa reportagem, algumas técnicas para obras de arte com vidro são apresentadas — e, como as fotos bem mostram, nosso material permite uma grande diversidade de aparências e efeitos, com muita beleza e criatividade.

Cores agregadas à arte
Embora a transparência seja um dos aspectos atrativos do vidro, ele também pode ser combinado a tintas e pastas para ganhar coloração. Há diferentes maneiras de como esse processo pode ser feito: aplicando tintas para secagem a altas temperaturas com pincel, dissolvendo-as na cola usada nas peças e com pulverização de pós coloridos, entre outras.

Mas existe um ponto em comum entre todas essas possibilidades destacadas pelos artistas ouvidos por O Vidroplano: “A aplicação dessas tintas praticamente sempre é efetuada de maneira artesanal e manual”, ressalta Thomas Kitze, filho de Cida e integrante do Artes & Ideias.

Criatividade em exposição
A mostra Glass Art, braço da Glasstec, tem como objetivo mostrar o lado criativo da indústria vidreira. Para isso, reúne expositores de galerias com renome internacional com trabalhos variando de vasos a esculturas e pinturas em vidro.

EFEITOS DE PERSPECTIVA
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Entre as peças apresentadas na Glass Art este ano, a do alemão Wilfried Grootens chamou atenção. À primeira vista, parecem vidros moldados em formatos ovais, esféricos ou cúbicos, mas seu processo de criação é muito mais complexo que isso: ele corta o vidro em um grande número de camadas, cada uma recebendo pinturas ou desenhos individualmente. Elas são então, cuidadosamente, agrupadas e coladas. O resultado salta aos olhos. Por fora, parece que a obra sempre foi um objeto inteiro; por dentro, as cores aplicadas em cada camada juntam-se para formar corpos tridimensionais, que parecem flutuar dentro do vidro, com aspecto diferente dependendo da posição do observador.

CORPOS DE VIDRO
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Outro destaque da Glass Art foi o trabalho do artista espanhol Carmelo López, elaborado com o tema Changing human figures through time and movement (Mudando as figuras humanas por meio do tempo e do movimento). Para López, o material escolhido para suas esculturas reflete perfeitamente o tema, pois, quando derretido, o vidro encontra-se em movimento fluido, solidificando-se em um momento concreto capturado nas peças apresentadas.

MAIS OBRAS DA GLASS ART 2018
Muitos outros artistas expuseram trabalhos na Glass Art, com as mais variadas técnicas e resultados. Veja algumas delas:

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Aproveitando a maleabilidade do vidro
Uma das técnicas para o trabalho com nosso material é o fusing. Como o próprio nome diz, ela envolve a fusão ou derretimento do vidro. “As chapas são colocadas em moldes e a pintura é aplicada a elas imediatamente antes de levá-las ao forno, onde são aquecidas a 810 ºC”, explica Carmem Seibert (nas fotos, algumas obras da artesã feitas com essa técnica). Ela tomou conhecimento do fusing quando procurou uma alternativa para a argila na produção de peças japonesas. Hoje, trabalha com peças float descartadas por vidraçarias e com garrafas usadas.

 

Tradição secular
vp_benini2Os vitrais já existem há mais de quinhentos anos. “São trabalhos artísticos com vidro trabalhado, geralmente coloridos e usados em peças planas para uso em janelas e vãos em que exista passagem de luz. Isso revela a beleza desse tipo de obra, cujo modo de produção pouco mudou de lá para cá”, conta Gustavo Benini (nas fotos, alguns vitrais feitos pelo Ateliê Benini). O método tradicional de produção dos vitrais consiste na soldagem de peças de vidro cercadas por chumbo e estanho, até atingir o formato desejado.

 

Do chumbo para o cobre
vp_arteseideias2No início do século 20, o artista norte-americano Louis Comfort Tiffany desenvolveu uma nova forma de criar vitrais. Em vez de usar o chumbo, ele criou uma fita de cobre adesiva, muito mais maleável, que é aplicada nas bordas dos vidros cortados. Esse método permitiu o uso de vitrais em abajures e cúpulas arredondadas, além da composição de desenhos rebuscados e sinuosos no estilo art nouveau, mais geométrico (nas fotos, obras de vitral Tiffany feitas pelo Ateliê Artes & Ideias).

Sem limites para a criatividade
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Criada em 2016, a Glass11 reúne designers e arquitetos para elaborar mobiliário e objetos de vidro que aliam arte e praticidade. Colagem ultravioleta, incisões, curvatura e laminação são algumas das práticas adotadas para alcançar o produto desejado, dependendo de suas características (abaixo, algumas das peças da Glass11).

“Não temos limites físicos para uma execução, há somente a preocupação de que as peças tenham apelo estético e valor comercial. Se for um projeto exclusivo para um determinado cliente, o céu se torna o limite!”, afirma Matheus Primo. Para ele, é importante que as grandes fabricantes de vidro fomentem o uso do material de forma artística, permitindo que os especificadores possam dar asas à criatividade.

Este texto foi originalmente publicado na edição 551 (novembro de 2018) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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