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VidroCast entrevista Glória Cardoso, da Blindex

31/03/2025 - 18h17

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, ao longo de março, o VidroCast recebeu e conversou com mulheres que fazem a diferença no nosso mercado. A primeira delas foi Glória Cardoso, gerente-geral da Divisão de Vidros para Arquitetura do Grupo NSG, detentor da marca Blindex. A conversa com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, abordou diversos assuntos, incluindo a trajetória na empresa, a busca por equidade de gênero no segmento vidreiro e como surgiu o Fórum Transparência com Elas. Leia alguns destaques a seguir – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.

Você entrou como estagiária na Pilkington e desenvolveu sua carreira na empresa. Quais foram os grandes desafios e vitórias nessa jornada?
Glória Cardoso – Eu sempre falo que o grande desafio é a gente se manter diariamente motivado, querendo entregar o melhor trabalho possível independentemente do nível de carreira em que a gente se encontra. As coisas, quando são consistentes e sólidas, não acontecem com grandes saltos. Comecei na Pilkington, na Blindex, há catorze anos, como estagiária de Marketing e, até chegar à função em que estou hoje, passei pelos cargos de assistente de Marketing, analista de Marketing, coordenadora, gerente de Vendas, gerente de Marketing e, finalmente, gerente-geral. Então, se entregarmos sempre o melhor resultado que temos para entregar no dia a dia, é possível construir algo realmente sustentável.

O marketing é uma área com muitas mulheres, mas quando a gente olha para o mercado do vidro, ainda é um setor muito masculino. Você entende que o segmento tem caminhado em que ritmo em relação à equidade de gênero?
GC – Eu entendo que está todo mundo preocupado com isso, muito pelas questões de ESG, pelas certificações e pela imagem corporativa que se quer transmitir – mas, para trazer isso como um benefício para o ambiente de trabalho, e para que a equidade realmente aconteça, é muito nossa responsabilidade também. Antes de trabalhar a equidade de fora para dentro, eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá. Nós temos de nos colocar primeiro como equânimes do ponto de vista de competência, de possibilidades, anseios de carreira. Então, acho importante trabalhar isso em nós mesmas primeiro, para depois estimular as outras pessoas a fazer igual.

 

“Eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, tenha que se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá.” Glória Cardoso

“Eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, tenha que se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá.”
Glória Cardoso

 

Você é a primeira gerente-geral da Blindex nos mais de setenta anos de história da marca. Passado algum tempo após assumir essa posição, qual o balanço do que você viveu até agora na nova função?
GC – Meu balanço é muito positivo. Em 2023, quando eu assumi, a Blindex estava passando por um momento de reconfiguração do modelo de negócio da marca. O sistema de franquia se consolidou de 2003 a 2023, mas qual era o próximo passo, como fazer esse sistema continuar sendo relevante? Foi aí que a gente percebeu que unir duas têmperas, para ganhar eficiência logística, velocidade na produção e uma padronização no atendimento, faria muito mais diferença do que montar uma fábrica em São Paulo. Então, abrimos a primeira joint-venture entre dois temperadores com a Visatta, em São Paulo, olhando para os desafios do mercado, especialmente nesse Estado que é o grande polo econômico do Brasil, para o que exatamente as vidraçarias e o consumidor final precisam.

Essa é a principal característica da nossa marca: não “sentamos em cima” do sucesso da Blindex, não nos acomodamos e continuamos trabalhando do mesmo jeito de sempre. O meu papel hoje é trabalhar para o fortalecimento, a perenidade e a sustentabilidade da marca.

A Blindex tem realizado o Fórum Transparência com Elas. O evento chegou à sua 4ª edição no ano passado, reunindo mulheres para debater a presença feminina no empreendedorismo. Como surgiu essa ideia e qual o balanço que você faz das edições passadas?
GC – A ideia surgiu muito pequena: eu ainda estava no departamento de marketing e começamos a perceber que, dentro do nosso sistema Blindex de franquias, com os temperadores que levam a nossa marca para o mercado nacional, as lideranças femininas estavam aparecendo de forma muito proeminente. Hoje, a gente já tem grandes têmperas que são lideradas por mulheres. Além das têmperas, a gente tem também as vidraçarias, que são a linha de frente do mercado. E deu pra perceber que muitas vidraçarias também eram lideradas por mulheres. Só que, muitas vezes, dentro do nosso próprio setor, as pessoas nem sabem que as mulheres têm essa representatividade toda. E aí começamos a pensar em como mostrar essas histórias.

 

“Se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele ‘levar gato por lebre’.” Glória Cardoso

“Se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele ‘levar gato por lebre’.”
Glória Cardoso

 

O Transparências com Elas surgiu no momento em que eu estava voltando da licença-maternidade e essa questão feminina estava à flor da pele. Como nesse momento a gente fica com incertezas, comecei a refletir muito sobre isso, sobre por que eu estava tão insegura. E as outras mulheres, que estão voltando de licença também? E quais são os outros desafios que deixam as mulheres inseguras? Então, a gente começou a coletar as histórias de profissionais, sendo proprietária da empresa ou uma funcionária, e vimos que aquilo teve uma repercussão muito grande: as mulheres começaram a trocar experiências entre si e a se apoiarem muito mais. Quando se conhece a história da outra pessoa, existem alguns pontos de similaridade com a nossa história que acabam nos confortando. Os desafios são semelhantes e as coisas que nos assustam também.

Vimos que isso ajudou muitas pessoas: começamos a receber feedbacks muito positivos, de mulheres falando que o fórum mudou seu ano e as perspectivas do que elas podem fazer dentro das suas carreiras e possibilidades. Em 2024 houve muitos eventos e o fórum não coube na agenda, mas em 2025 será retomado com certeza.

A Blindex é uma marca forte, com mais de setenta anos de mercado, e se transformou em sinônimo de vidro temperado para o consumidor final – ao invés de falar que um vidro é temperado, ele diz que é um “Blindex”. Qual a responsabilidade de gerar uma marca que carrega esse simbolismo?
GC – É muito grande. É claro que é um orgulho, não é qualquer marca que consegue consolidar esse reconhecimento, mas é uma responsabilidade no sentido de que a gente precisa educar o consumidor a identificar o que é um vidro temperado da marca Blindex, para conscientizar as pessoas e para resguardar a marca. Quando as pessoas chamam um produto pelo nosso nome, se acontece algum problema, o nosso nome também acaba vinculado a esse problema: no nosso SAC, recebemos frequentemente reclamações de quebra de vidro e, quando perguntamos se o vidro está com a gravação na superfície, a pessoa responde que não tem marca nenhuma, mas diz que o vidraceiro garantiu que era Blindex – então, se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele “levar gato por lebre”.

Este texto foi originalmente publicado na edição 627 (março de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Ivan Pagliarani



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