Vidroplano
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Benefícios em dose dupla

17/02/2017 - 18h23

Confortos térmico e acústico, iluminação natural, economia de energia nas construções. Tudo isso é fornecido pelos vidros insulados — e, ainda assim, pouco são usados no Brasil. Por quê? Em parte, pela existência de “mitos” sobre eles. Os insulados, conhecidos também como vidros duplos, são muito eficientes em qualquer lugar do País, do frio Sul ao quente Norte, seja em prédios ou residências. É hora de agirmos para mudar esse cenário e emplacar mais obras com esse material que possui alto valor agregado. Confira a seguir o que o setor precisa fazer para popularizar o produto, incluindo dicas sobre esquadrias e novas tendências em tecnologia.

Perfeito para os climas do Brasil

O maior mito referente aos insulados é que eles são apenas para locais com clima frio. Na Europa e América do Norte, duas regiões com invernos rigorosos, as janelas das residências, incluindo apartamentos, possuem o material como padrão. Mas a solução serve para várias situações.

O São Paulo Corporate Towers recebeu vidros da GlassecViracon nas fachadas. Ao todo são 41 mil m² de insulados de temperados laminados com tecnologia de controle solar

O São Paulo Corporate Towers recebeu vidros da GlassecViracon nas fachadas. Ao todo são 41 mil m² de insulados de temperados laminados com tecnologia de controle solar

 

“O insulado deve ser usado quando há grande diferença de temperatura entre o ambiente interno e externo”, explica o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fernando Westphal. “Também é indicado para projetos com grande área envidraçada sujeita à radiação solar intensa”, acrescenta Westphal, que também é engenheiro e sócio-fundador da ENE Consultores.

Como lembra o gerente de Desenvolvimento de Mercado da Cebrace, Remy Dufrayer, o insulado reduz o efeito de parede fria (quando se sente frio ao se aproximar de um vidro durante dias gelados) e também de parede quente (a sensação de calor sentida perto de vidros num dia quente). Em outras palavras, a troca de temperatura entre os ambientes é reduzida. Assim, cria-se conforto térmico, tema que será abordado com detalhes mais adiante.

“Estamos em um país tropical”, lembra Claudia Mitne, diretora de Marketing e Produtos da processadora GlassecViracon. “Nossa arquitetura gosta de grandes panos envidraçados. Por isso, são desafios para se trabalhar ao mesmo tempo: barrar a entrada de calor, filtrar a luz natural, baixar o reflexo indesejável no ambiente interno e ainda contar com cores ou aspectos originais dos vidros. Ao especificar um insulado, você opta pela solução mais ‘verde’ disponível no mercado brasileiro.”

Por dentro de um insulado

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O material é formado por duas ou mais placas de vidro paralelas (daí ser chamado de vidro duplo, triplo etc.). Essas placas são separadas por um espaçador, com as bordas hermeticamente seladas. Com isso, forma-se uma câmara estanque no interior

- Vedação primária: feita com butil, tem função impermeabilizante, impedindo a transmissão de gases e vapores de umidade;

- Perfil: elemento estrutural que dá a espessura da câmara e garante a estabilidade mecânica do sistema;

- Peneira molecular: dessecante concentrado, absorve a umidade dentro da câmara. Garante que o ar ali fique sempre seco e não embace com a diferença de temperatura entre o exterior e o ambiente interno dos edifícios;

- Vedação secundária: feita com polissulfeto ou silicone estrutural, tem função impermeabilizante, impedindo a transmissão de gases e reforçando a estabilidade mecânica do sistema, além de melhorar o desempenho térmico.

Conforto térmico com economia
Por si só, um vidro duplo já oferece conforto térmico. Afinal, todo o calor que passa do exterior para o interior perde energia ao encontrar a camada de ar do conjunto. Mas existem segredos para aumentar o desempenho e poupar dinheiro. “O uso de vidro de

O campus da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em Porto Alegre, é projeto da AT Arquitetura. As fachadas do edifício possuem insulados laminados NP50 da Guardian.

O campus da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em Porto Alegre, é projeto da AT Arquitetura. As fachadas do edifício possuem insulados laminados NP50 da Guardian.

controle solar em unidades insuladas pode ter um impacto significativo também no consumo de energia”, explica Gustavo Calegari, coordenador de Marketing da Guardian. “O investimento em envidraçamento trará economia ano a ano, pela redução do uso de sistemas de refrigeração.” Essa é uma ótima solução, já que o preço da energia elétrica não para de aumentar — e no verão sempre se usa mais eletricidade, devido ao ar-condicionado e outros tipos de climatizador.

Para a fabricante de esquadrias Weiku, o investimento feito na aplicação de insulados, com perfis apropriados, paga-se em três a cinco anos (o cálculo exato depende de vários fatores, como a quantidade usada de vidro, a temperatura média do local etc.).

É preciso vender o peixe

Outro motivo da pouca aplicação dos insulados é a falta de conhecimento. O que fazer para mais pessoas conhecerem os benefícios do produto?

- Levar conhecimento técnico: “Precisamos fazer um trabalho de conscientização em toda a cadeia do vidro plano”, opina o professor Fernando Westphal. Matheus Oliveira, do Departamento de Marketing da AGC, concorda: “É necessário um trabalho técnico junto dos especificadores, trazendo informações sobre as possibilidades de aplicação, vantagens e potencial do produto”;

- Possibilidades financeiras: “O segredo é ganhar o cliente por meio de exemplos que demonstrem, em números, a economia na conta de energia elétrica quando utilizados insulados nas fachadas comerciais ou residenciais. Algumas empresas já fizeram isso e o payback, o pagamento do investimento, é surpreendente”, indica Viviane Moscoso, gerente de Produtos da Vivix;

– Normas técnicas: Elas também são relevantes para esse processo de popularização. A NBR 16.015 — Vidro insulado – Características, requisitos e métodos de ensaio trata da qualidade dos insumos e do produto final. Outra norma, a NBR 15.575 — Desempenho de edificações habitacionais, também ajudou a divulgar a importância de requisitos de desempenho. Mas o trabalho não pode parar. “Precisamos aumentar o nível do desempenho brasileiro, assim como já aconteceu na maioria dos países desenvolvidos e em alguns mais próximos como Argentina, Chile e México”, comenta Giorgio Martorell, do setor de vendas da Lisec. A consultora de Normalização da Abravidro, Clélia Bassetto, lembra que “a evolução das normas é algo comum e esperado no mercado. Com isso, os produtos se tornam cada vez mais bem-desenvolvidos”;

- Produtos de qualidade: Para Martorell, da Lisec, “quando o consumidor final entender que existem opções de diferentes níveis térmicos para janelas, por exemplo, eles começarão a exigir maior valor agregado, os custos de fabricação serão mais competitivos e todos os membros da cadeia produtiva se beneficiarão”.

Em Blumenau (SC), o Hotel Plaza ganhou insulados com esquadrias especiais da Weiku. O empreendimento está à beira de uma das principais e mais movimentadas ruas da cidade. Assim, a escolha pelo material conferiu conforto acústico aos hóspedes.

Em Blumenau (SC), o Hotel Plaza ganhou insulados com esquadrias especiais da Weiku. O empreendimento está à beira de uma das principais e mais movimentadas ruas da cidade. Assim, a escolha pelo material conferiu conforto acústico aos hóspedes.

 

Conforto acústico e a importância das esquadrias
Outro dos principais benefícios dos insulados é o conforto acústico. Porém, atenção: “Isso ocorre somente se o vidro for utilizado numa esquadria que seja feita para esse fim. Sozinho, o vidro não vai salvar o desempenho de uma peça com problemas”, reforça Nicole Fischer, da Atenua Som.

Não se compra o vidro sozinho, mas um conjunto completo. Nosso material sempre estará associado a um elemento de fixação. O diretor da Atenua Som, Edison Claro de Moraes, especialista na questão, apresenta alguns dados:

– Considerando uma porta de insulado com desempenho acústico de 35 dB: se a vedação do conjunto for malfeita e deixar uma fresta de 1 mm, o desempenho cai para 25 dB;

– Se no mesmo local for instalada uma porta de 25 dB de desempenho, também com a fresta de 1 mm, o desempenho passa a ser de 23 dB.

abertura

Ou seja, soluções mais caras (como a do primeiro exemplo) podem não oferecer o retorno esperado se um detalhe muitas vezes subestimado, como a vedação das esquadrias, não for benfeito. Lembre-se, insulados não são apenas o vidro, são o conjunto inteiro.

Por isso, a importância do selante também deve ser levada em conta. Afinal, como reforça Nilton Batista, diretor da Süpport Glass, empresa que representa os produtos químicos da Kömmerling em nosso país, ele é muito mais que aquele “material pegajoso e preto”. Explica Batista: “Ao usar um produto inferior ou silicone que não sejam compatíveis com o primeiro selante, a unidade muito provavelmente terá problemas, pois o silicone irá atacar esse selante. Uma falha como essa pode custar tempo e dinheiro, e o pior: vai danificar a sua marca e a reputação da indústria em geral.”

Por falar em esquadrias, fabricantes do produto desenvolvem projetos sob medida para atender as características necessárias de cada projeto, como é o caso da Weiku. “O cliente que, por exemplo, optou em um primeiro momento por um vidro simples, posteriormente pode realizar a troca por insulados, tendo apenas de realizar uma mudança nas baguetes das esquadrias”, comenta o membro do departamento de marketing da empresa, Tarso Marco Cardoso, fazendo referência aos elementos que fixam os vidros na esquadria.

“O conforto acústico fornecido pelos insulados cabe principalmente em obras residenciais, que sofrem de forma constante com o barulho indesejado do ambiente externo, incluindo trânsito, aviões, helicópteros, bares, restaurantes, construções, movimentação de caçambas etc.”, reforça Giorgio Martorell, da Lisec.

Com o maior uso de panos de vidros em casas (em janelas e sacadas), o produto vai não só garantir a maior integração visual com o ambiente ao redor, mas também a tranquilidade da atenuação sonora.

Residência no Guarujá, litoral de São Paulo, ganhou portas deslizantes na sacada com insulados. A instalação foi realizada pela Atenua Som.

Residência no Guarujá, litoral de São Paulo, ganhou portas deslizantes na sacada com insulados. A instalação foi realizada pela Atenua Som.

Tendências nos insulados
Com a maior opção da arquitetura pelo minimalismo, incluindo janelas e portas com pouco perfil aparente, os insulados se firmam como importante opção. Por isso, vamos entender melhor sobre o estado da atual tecnologia do produto.

- Perfis:“Nos perfis espaçadores, a tecnologia avançou dos de alumínio anodizado aos do tipo warm edge, de aço inoxidável e polímero plástico”, explica a assistente comercial da Fenzi, Ayelen Hampel. Por conta da matéria-prima, reduzem a transferência de calor por meio da esquadria, aumentando a eficácia energética;

- Especificações diferentes: Outra opção para a especificação do produto é usar vidros resistentes ao fogo. “É uma tendência que tem sido bastante requisitada pelos bombeiros ultimamente”, revela Fernanda Roveri, do Escritório de Vendas Internacionais da Schott. São classificados em dois tipos: para-chama, que isola fumaças, gases tóxicos e chamas, e corta-fogo, que também inibe a irradiação do calor;

- Entre os vidros: Micropersianas entre os vidros, instaladas nas câmaras de ar, são outra tendência cada vez mais usada, ajudando no controle de luminosidade e privacidade. Giovanni Quarti, da Forel, aponta o uso de gases nobres, como argônio e criptônio, no interior das câmaras, aumentando o desempenho dos conjuntos. “Vale citar ainda o desenvolvimento da qualidade dos selantes, principalmente na questão da resistência às mudanças climáticas”, afirma;

- Para a produção: Novidades também são encontradas nos maquinários para produção dos vidros. A Lisec, por exemplo, investe em uma linha compacta de baixo custo, desenvolvida para mercados emergentes, chamada base. Um diferencial da linha TPA é o fato de trabalhar com espaçadores termoplásticos e dispensar a necessidade de compra de perfis de várias larguras, pois a própria máquina define essa medida (até 20 mm). A Forel, outra fabricante de maquinários, possui uma linha completa instalada na fábrica da Divinal Vidros, em Jaguaré (SP).

insulados valem a pena: 4 motivos para investir no produto

Fale com eles!

AGC — www.agcbrasil.com

AT Arquitetura — www.at.arq.br

Atenua Som — www.atenuasom.com.br

Cebrace — www.cebrace.com.br

ENE Consultores — www.eneconsultores.com.br

Fenzi — www.fenzigroup.com

Forel — www.forelspa.com

GlassecViracon — www.glassecviracon.com.br

Guardian — www.guardianbrasil.com.br

Lisec — www.lisec.com

Schott — www.schott.com

Süpport Glass — www.supportglass.com.br

Vivix — www.vivixvidrosplanos.com.br

Weiku — www.weiku.com.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 530 (fevereiro de 2017) da revista O VidroplanoLeia a versão digital da revista.




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