Vidroplano
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Conheça mais sobre vidros curvos

22/11/2021 - 10h38

O desafio de produzir peças de vidro curvo é enorme, mas a beleza das peças vale o esforço – basta conferir as imagens desta reportagem e o projeto apresentado na matéria sobre uso de vidros de controle solar em residências. Este mês, O Vidroplano traz um conteúdo especial sobre esse produto, revelando alguns segredos de sua fabricação. Como é feita a curvação? Trabalhar com vidro curvo exige mais técnica? Qual a importância do cálculo para se chegar às medidas corretas das peças? Saiba tudo isso e mais a seguir.

 

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Quais são os processos de curvação?
Existem duas formas de produzir esse material:

- A quente
Nesse processo, o vidro é aquecido a altas temperaturas de duas maneiras:

-No forno próprio para a tarefa: nesse tipo de equipamento, a peça é aquecida a cerca de 580 °C, tornando-se flexível o bastante para ser conformada em moldes com o formato desejado. Assim como na têmpera (veja abaixo), o resfriamento deve ser controlado para evitar que o vidro crie tensões dentro dele – o que pode levar a quebras posteriores;

-Na têmpera: aqui a peça passa por uma célula de curvatura chamada calandra. “Primeiro, o float entra em uma seção de aquecimento, a uma temperatura de até 650 °C. Na sequência, vai para a calandra, onde é programado o raio de curvatura desejado e feito o resfriamento. Esse processo leva, em média, um minuto e meio – e o vidro já sai temperado de lá”, explica Mônica Griesang, diretora da VHM Vidros. Devido à praticidade e economia, justamente por dispensar moldes, esse é o método mais utilizado atualmente.

- A frio
Pouco utilizada no Brasil, a peça não é aquecida, já que é produzida de acordo com a temperatura ambiente – pode, inclusive, ser curvada após a têmpera. O vidro é colado ou parafusado em um caixilho — e é esse caixilho o responsável por “dobrar” nosso material mecanicamente. As peças feitas dessa forma terminam com uma curvatura pequena, com um ângulo bem aberto. Por isso, são indicadas para painéis únicos de vidros finos ou para unidades de insulados.

 

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Cálculos perfeitos
As processadoras devem levar em consideração a própria capacidade de produção antes de aceitar pedidos de vidro curvo: sempre consulte previamente os projetos para saber se conseguirá atender as formas solicitadas. Caso tenha de criar um formato específico de peça, esse custo a mais tem de ser somado ao valor da mercadoria.

Por isso mesmo, quem trabalha com vidros curvos precisa saber alguns termos de geometria básica, relacionados a circunferências – somente assim será capaz de especificar de acordo com o que foi solicitado pelo cliente. Lembre-se: caso as peças não atendam o que foi acordado, é sua empresa que terá de arcar com os custos do retrabalho.

Listamos aqui alguns dos principais termos utilizados na produção do vidro curvo.

- Diâmetro: reta que passa pelo centro da circunferência e vai de uma extremidade à outra;

- Raio: reta que une um ponto qualquer da circunferência ao centro dela;

- Arco: pedaço da circunferência;

- Corda: reta que une dois pontos da circunferência;

- Flecha: reta que une um ponto localizado na metade da corda a um ponto localizado na metade do arco correspondente.

Desafios e como superá-los
De acordo com as empresas consultadas para esta matéria, o processamento de vidros curvos é mais difícil e técnico do que o de um sem curvatura – por diversos motivos. “O sistema de calandra exige controle maior do sistema de aquecimento e curvatura para garantir um raio uniforme”, comenta Emerson Arcenio, diretor-industrial da Vidrolar.

Mônica Griesang, da VHM, cita que o vidro curvo tem menor aproveitamento no forno de têmpera se comparado ao plano. “Além disso, o ajuste do raio não é tão simples, pois se deve realizar conferências com gabaritos, já que uma parte do ajuste se dá de forma mecânica”, afirma. Outra questão a ser levada em conta: a menor produtividade durante a fabricação do produto para projetos de construção civil. “Devido ao setup lento para o ajuste do raio de curvatura, trabalhar com muitos raios diferentes em uma única obra pode ser um empecilho”, destaca Mônica. No entanto, outros setores, como o de linha branca e refrigeração, são mais ágeis nesse sentido. “Para expositores gastronômicos, por exemplo, contamos com raios padronizados para os clientes. Como se trata de peças seriadas, isso não se torna um problema.”

Durante a fabricação, a atenção à configuração dos maquinários mostra-se como o principal segredo para o beneficiamento bem-feito. Bruna Nandi da Motta, diretora da Vipel, aponta tópicos relevantes sobre isso:

– Rolos do forno devem sempre estar extremamente limpos, para não causarem marcas nas peças;

– A regulagem das calandras precisa seguir as pressões corretas do equipamento;

 

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– A pressão de ar da calandra também deve ser regulada, para evitar problemas relacionados à fragmentação da peça;

– O excesso de temperatura pode gerar manchas como marcas do rolo.

Como alerta José Guilherme Aceto, diretor da Avec Design, o processamento também é responsável por questões que farão a diferença quando o material estiver instalado. “Um vidro malprocessado gera distorções ópticas e instabilidade mecânica, podendo quebrar espontaneamente ou com pequenos esforços”. E, além desses cuidados, não se pode esquecer da procedência do vidro a ser curvado: deve-se ficar atento em falhas na superfície das chapas, como lascas e riscos: elas podem comprometer a vida útil do produto.

 

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De olho na instalação e manuseio
Aceto, da Avec Design, reforça que a complexidade segue depois do processamento. “A dificuldade se dá principalmente na instalação, seja em vãos ou caixilhos, pois requerem muita precisão dimensional.” Deve-se ter o cuidado de não deixar as peças tensionadas ao serem aplicadas – o encaixe precisa de uma folga entre o vidro e o caixilho, já que nosso material dilata quando sofre variação de temperatura. Importante reforçar que isso também ocorre em fornos e balcões refrigerados. Ou seja, nesses mobiliários, caso não haja a folga, a chapa pode se romper.

O transporte e manuseio são outros elementos do trabalho que precisam de cuidados especiais. Dependendo do tamanho das peças, equipamentos especiais são necessários, como ventosas que acompanham a curvatura dos vidros, para que não corram risco de quebras ou acidentes durante a movimentação no canteiro de obras.

 

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Dicas preciosas para o processamento
O instrutor técnico da Abravidro, Cláudio Lúcio da Silva, também apresenta sugestões de boas práticas para a tarefa:

Curvação com têmpera:
– Enformar as peças usando o mesmo lado do vidro para cima (por exemplo, se for o lado do estanho, fazer com que todas estejam viradas do mesmo jeito). Isso trará em maior uniformidade ao resultado final em relação aos raios e curvatura;

– Ter atenção especial à planimetria dos dois sistemas de rolos (superiores e inferiores) da calandra. Se não configurados, pode resultar em raios irregulares e diferentes ou pontos de concentração de tensionamento;

– Conservar o revestimento dos rolos superiores e inferiores da calandra;

– Ter atenção especial ao posicionamento de entrada das peças no módulo de aquecimento, para que fiquem posicionadas corretamente na calandra.

Curvação sem têmpera:
– Ter atenção à limpeza do vidro;

– Usar revestimento adequado na forma de curvação, para que o vidro não tenha contato direto com o molde.

 

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Este texto foi originalmente publicado na edição 587 (novembro de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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