Cyberglass celebra cem anos de atividades no setor vidreiro
24/02/2025 - 17h28

Empreender é uma tarefa complicada: no Brasil, uma a cada quatro empresas que geram emprego não sobrevive até completar seu primeiro aniversário. Quando esse espaço de tempo é aumentado de um para cinco anos, a taxa de sobrevivência segue baixa – apenas 37% das companhias criadas em 2017 no país seguiam em operação em 2022. Esses dados alarmantes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam o quanto a perenidade dos negócios se torna um desafio a ser superado todos os dias em nosso país.
Por isso mesmo, não é sempre que uma empresa, especialmente do setor vidreiro, chega a cem anos. A Cyberglass, processadora localizada em São Paulo, alcançou esse feito neste fevereiro de 2025, completando um século de trabalho com vidro. Essa história tão rara merece ser contada, e agora você confere um pouco sobre ela.
Crescimento através dos tempos
Natural de Santos, Domingos Seixas (avô de José Domingos Seixas, o atual CEO da empresa) fundou, em 1925, um pequeno negócio familiar chamado Seixas & Cia, no bairro do Brás, na cidade de São Paulo. O empreendimento no tradicional bairro paulistano, reduto de italianos, tinha por objetivo comercializar vidro em uma época em que a produção era limitada. Utilizado principalmente em janelas e na decoração, o vidro era considerado um luxo – mas a demanda por ele aumentava conforme a construção civil se desenvolvia, impulsionada pelo crescimento urbano.
Com um setor vidreiro mais consolidado nas décadas seguintes, a empresa sempre buscou novos posicionamentos dentro da cadeia: se tornou Fábrica de Espelhos Seixas & Cia (na época não existiam usinas, como hoje, para fabricar o produto); depois, virou Indústria e Comércio de Vidros e Espelhos São José; e, mais tarde, mudou de nome mais uma vez, para Verdi. Finalmente, em 2002, ocorre um rebranding total. A companhia se transforma na Cyberglass, passando a atuar como processadora, agora no vizinho bairro da Mooca, também muito italiano e que já foi importante polo industrial da cidade.

Algumas das logomarcas da Cyberglass ao longo de seus 100 anos (a atual é esta de baixo)
Longevidade
Para o CEO (e neto do fundador) José Domingos Seixas, é uma honra estar à frente da beneficiadora neste momento histórico. “Eu, como terceira geração da família a gerir o negócio, me orgulho de dizer que somos uma empresa saudável. Passamos por grandes desafios, mas sobrevivemos a todos. E fico mais feliz ainda sabendo que a quarta geração está pronta para assumir a Cyberglass a qualquer momento”, revela, fazendo referência aos sobrinhos Gláucia Guerrero, que é diretora de Suprimentos, e Rodrigo Guerrero, diretor de Operações.
“Estou na empresa há 27 anos e, quando olhamos para trás, vemos uma grande mudança. A Cyberglass, de uma pequena vidraçaria, se tornou uma grande indústria, sendo uma das referências hoje no mercado nacional”, comenta Rodrigo. “Eu não estou há tanto tempo, cerca de treze, quatorze anos aqui, mas também acompanhei essa evolução: a chegada dos computadores, das grandes máquinas, e nós conseguindo investir nessa tecnologia e manter a perenidade dos negócios”, analisa Gláucia.
A comemoração do aniversário foi dividida em dois momentos: uma festa para os colaboradores, e outra, para fornecedores, parceiros e clientes.
Conheça a Cyberglass
- Fundada em 1925
- 140 colaboradores
- Foco na produção de vidros para a construção civil, especialmente os segmentos de fachadas e atendimento a prédios residenciais, comerciais e empresas de envidraçamento de sacadas
- Capacidade para produzir 110 mil metros de laminados e 60 mil metros de temperados mensais
“O segredo é não fazer do negócio uma herança”
José Domingos Seixas e seus sobrinhos Gláucia e Rodrigo foram entrevistados pelo VidroCast, o podcast da Abravidro, e comentam a importância do legado da família nos negócios da Cyberglass
Como alcançar essa meta tão expressiva de cem anos em um mercado com concorrência tão acirrada como é o segmento vidreiro?
José Domingos Seixas: O segredo é não fazer do negócio uma herança. Porque com a herança existem interesses não muito claros entre as pessoas. Uma empresa familiar tem de ser gerida por capacitação, tem de ser direcionada. Eu acho que isso é o que levou a Cyberglass a sobreviver até hoje.
Gláucia Guerrero: Nós respeitamos muito a hierarquia. Cada um sabe exatamente onde é o seu lugar. O Domingos é o chefe, o dono da Cyberglass, e nós somos funcionários dele. Quando a gente fala de empresa familiar, várias pessoas perguntam como é viver, trabalhar no dia a dia sem brigar. Eu falo que cada um respeita o seu espaço. Ninguém passa por cima, ninguém quer ter mais poder. Existe a diferença de opinião, a divergência, mas a gente respeita o outro.
JDS: A família é a mantenedora desse pilar, desse equilíbrio. Isso, muitas vezes, é discutido em família, os problemas são colocados em família. Ninguém sofre sozinho, vamos dizer assim. A gente sofre em família e a gente se diverte em família.
Quais são os principais desafios do mercado?
Rodrigo Guerrero: A importação de vidros é uma coisa que afeta diretamente a gente, principalmente quando tem reajuste da usina, pois alguns importadores continuam com preços antigos, então quem importa tem uma competitividade maior. A informalidade, todo mundo sabe, é desleal. E também o que vem do governo, atrapalha não ter uma previsão mais clara, com os empresários tendo dificuldade em realizar investimentos, alta taxa de juros, incerteza do mercado, a construção civil prevendo uma redução para os próximos anos… Acho que esse é o momento que estamos vivendo hoje, e que não é muito diferente do que vivemos no passado.
Em 2019, vocês passaram por um momento terrível: uma enchente que atingiu as instalações da Cyberglass. Como foi aquele período?
RG: Esse é um dos pontos que mais marcou a empresa.
GG: E que mais machuca até hoje.
RG: É difícil pensar nisso sem se emocionar, porque, por mais que outras empresas tenham passado por isso, quando acontece com você, é dolorido. Mas a gente teve muita ajuda, vinda até de pessoas e empresas das quais a gente não esperava ou mesmo de quem a gente nem conhecia. Foi um prejuízo gigantesco, produção paralisada por meses. Todos os equipamentos eram eletrônicos, automatizados, com painéis na parte de baixo das máquinas, então tudo ficou submerso. E ainda teve a dificuldade para repor os componentes de maquinários com vários anos de uso.
JDS: Além de você não ter dinheiro, você tem de gastar. Naquele momento você não tinha de onde tirar. Todo meu estoque estava submerso. Todas as máquinas ficaram submersas. A gente perdeu todos os documentos trabalhistas, para você ter uma ideia… Mas a gente tinha certeza de que a empresa ia continuar. Então, a gente fez de tudo pra manter, pelo menos, os nossos clientes atendidos.
Qual a importância da resiliência de vocês pra construir essa história, inclusive nesses momentos de dificuldade?
GG: Tem que haver resiliência. Senão, você afunda e não volta. Você vai afundar em algum momento, mas você vai voltar, levantar, respirar.
Quais outros momentos da história da Cyberglass ajudaram a definir a empresa?
JDS: Qualquer episódio para a gente é relevante. A simples compra de um carro novo era super importante. A gente trabalhou com muito sacrifício e conquistamos as coisas assim. Então, festejava cada momento, cada pequena coisa. Eu acho que a gente é movido à satisfação. Todos os momentos dão muito prazer para a gente. É a conquista de um cliente, de um espaço novo, de um amigo no setor.
Para chegar aos cem anos de mercado, ter as pessoas certas na empresa deve ter sido fundamental. Qual a importância dos funcionários nessa trajetória?
RG: Total. Temos vários cases de vários funcionários crescendo e ajudando a empresa chegar onde chegou. Já tivemos ajudante geral da expedição, o carregador de vidro, que se tornou um dos melhores vendedores; tivemos ajudante que virou gerente e hoje tem vidraçaria própria. É disso que a gente precisa. Eu participei do setor de RH por alguns anos e, quando contratava alguém, falava “não trabalhe pra mim, trabalhe para você, porque você é uma empresa”. Tem muita gente que escuta e acaba crescendo junto.
Vocês chegaram a tentar outras áreas profissionais ou sempre quiseram seguir carreira no vidro?
RG: Comecei bem cedo e não porque eu quis [risos]. Foi bem no período de férias da escola, meus amigos na piscina e eu indo almoçar rápido em casa pra voltar pra empresa. Mas a gente pega amor, né? Desde pequeno eu frequentava a empresa, e sempre a vi como um futuro.
GG: Eu me formei em Direito, não tinha pretensão alguma de ir pra empresa. Mas após o término do meu casamento, precisei seguir minha vida, pensei “e agora, pra onde eu vou?”. E aí eles me abriram as portas e cá estou até hoje.
JDS: Eu comecei muito cedo. A gente morava em cima da fábrica, era um sobrado. E eu, aos 10 anos, trabalhava na produção de espelhos. Depois eu fiz cursinho pra vestibular, ia prestar pra Medicina, mas meu pai ficou muito doente. E aí mudei para ciências contábeis. Trabalhei um ano fora, em escritório de contabilidade, e depois retornei.
Domingos, depois de ser presidente da Abravidro por seis anos, e agora como vice-presidente do Sinbevidros-SP, qual é a sua visão sobre a importância do associativismo?
JDS: É algo que não tem parâmetro, sabe? É importante e ponto. É ali onde você discute, vê as dificuldades de todo mundo, procura entender o mercado, traz opiniões. Hoje eu percebo o quanto a gente perdeu no período em que a empresa não participava desse movimento do associativismo. Mas você só tem a ganhar. Não é uma despesa, é um investimento.
Nos últimos anos, a Cyberglass tem investido mais em marketing. Essa estratégia é parte da construção dos próximos cem anos da empresa?
RG: Eu acredito que sim. Quem não é visto não é lembrado. Quando a gente olha o histórico da empresa, por muitos e muitos anos ela foi uma vidraçaria muito pequena, então agora que a gente passou a ter um nome mais forte, a ser reconhecido no mercado, é preciso aparecer, participar de feiras etc. Hoje a gente tem o maior forno de têmpera do mercado, nós produzimos um dos maiores multilaminados de temperados do Brasil, atendemos a construção civil de ponta a ponta, desde a decoração até peças estruturais – e a gente tem de ser visto, tem de investir em marketing, para que as pessoas tenham conhecimento daquilo que a gente faz.
Antes de terminar nosso bate-papo, teriam um recado para deixar para o setor?
JDS: Para quem está junto com a gente no mercado vidreiro, concorrente ou não, quero falar que tudo é possível. A Cyberglass é a prova disso. A gente tem mais um caminho enorme a percorrer, sempre estendendo a mão, né? Porque se estamos aqui hoje é porque também estenderam a mão para nós.
RG: Gostaria de deixar um agradecimento aos funcionários. Eu acho que a gente é muito abençoado por tudo que conquistou. Eu lembro que quando era mais novo peguei um caderno e eu fiz uma lista de equipamentos que eu queria pra empresa. Uma lista de desejos. Há algum tempo atrás eu achei esse caderninho e me emocionei, porque, tudo o que estava naquela lista, nós conquistamos.
GG: Ninguém consegue nada sozinho. A gente precisa dos nossos colaboradores, dos clientes, dos fornecedores, e eles precisam da gente também. E tem de ter o apoio da família, sem sombra de dúvida, porque sem a família a gente não vai pra frente.
Foto de abertura: Douglas Mann – Mkt Cyberglass
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