Vidroplano
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Diretoria da Cebrace comenta a parada do C2

22/03/2022 - 11h40

Na última semana de fevereiro, a editora de O Vidroplano, Iara Bentes, conversou com a diretoria da Cebrace sobre a reforma do forno C2, de Caçapava (SP), a ser iniciada em março. Participaram do bate-papo os diretores-executivos Leopoldo Castiella e Manuel Corrêa e também o diretor-comercial Flávio Vanderlei. Além dos preparativos para a parada da planta, a pauta incluiu a atual situação dos principais mercados consumidores de vidro, os investimentos em sustentabilidade nas fábricas do grupo e as expectativas para o Ano Internacional do Vidro.

A reforma do C2 está marcada para março. Essa data está mantida ou é possível ter algum adiamento?
Leopoldo Castiella — Está mantida. Em teoria, começa dia 8. A única preocupação, para ser sincero, é que depois do carnaval acabe tendo outro pico da Covid-19. E isso poderia trazer algum ruído para o início. Mas seria pouca coisa, algo de dias. Tudo está encaminhado. [Nota da redação: de fato, não houve imprevistos e a reforma foi iniciada no início de março.]

E quando o forno voltará a operar?
LC — São 90 dias de parada.

O que podemos esperar de impacto no abastecimento do mercado interno nesse período? Tivemos uma experiência traumática em 2017 com uma reforma parecida em outro player, o que causou desarranjo no setor.
LC — A gente se organizou para aumentar os estoques. Inclusive, dada a situação do mercado, o estoque está um pouco mais alto do que gostaríamos. Mas temos vidro para fazer frente a essa parada. E também estamos trabalhando para o início das operações do segundo forno da Vasa, na Argentina, em maio. Então, se tiver uma emergência mais para frente, a Vasa também pode ajudar. Estamos bem preparados.

Manuel Corrêa — Essa preparação é feita a muitas mãos. Inclui a área de logística, cadeia de suprimentos e direção industrial e comercial. A gente tem reuniões regulares e, desde novembro, é preparada essa transição. Temos cinco linhas, vamos parar uma e, com os estoques devidamente planejados desde o final do ano, não esperamos ter impacto em nossos clientes.

Flávio Vanderlei — Esse trabalho alinha toda a estrutura da empresa para que se possa passar por ele da melhor forma possível. Lógico que também tem fatores externos — e as movimentações do mercado nesse ponto podem ajudar ou atrapalhar. O mês de janeiro foi bem de acordo com o que tínhamos planejado, já fevereiro ficou aquém. Infelizmente, foi uma situação bastante crítica, com quedas muito robustas de 40% a 50%. Como existe aquela ideia de que o Brasil só começa o ano depois do carnaval, a gente espera que a partir da outra semana possamos ter uma situação de mercado mais equilibrada.

LC — Quando você tem uma queda rápida e inesperada do mercado, a primeira alternativa é baixar o preço, mas isso dura, aproximadamente, cinco minutos (risos), pois o concorrente reage e acabou. Agora, as verdadeiras soluções são dolorosas nesses casos. Conferir as exportações, reduzir as cargas, começar um planejamento diferente, recuperar o mix de produtos em itens que não estamos fabricando… E, como líder de mercado, a Cebrace tem responsabilidade. Seguimos trabalhando com essas alternativas. Lembrando que a Cebrace não exporta apenas para a Argentina. Independentemente do forno da Vasa, temos um caminho para seguir nos outros países da América do Sul.

FV — Tivemos várias discussões sobre o momento da parada, se dava para postergar novamente, antecipar. Depois desse histórico todo, o melhor momento é mesmo agora.

Com o novo forno da Vasa pronto, veremos uma redução do volume exportado para a Argentina?
LC — Nas três primeiras semanas de janeiro, a situação da Covid-19 na Argentina foi um desastre. Um impacto gigantesco, times de fornecedores ficaram sem 50% de seu pessoal por conta de infecções. A partir daí, traçamos um plano detalhado com os três fornecedores mais importantes dessa obra e voltamos a empurrar a data de entrega pra frente. Mas agora, por exemplo, os profissionais colocando os tijolos refratários nas chaminés estão trabalhando praticamente 24 horas.

Com a reforma, a capacidade do forno será aumentada?
LC — Esse forno tem capacidade nominal de 750 t. Mas como é um forno especializado para automotivo, trabalha numa carga inferior, pelo fato de fazer espessuras menores. Então, não vai ter aumento da capacidade.

MC — Tem ainda a questão de a planta ser preparada para reduzir as emissões de poluentes. Ou seja, estamos fazendo um esforço grande para transformar esse forno no estado da arte em termos desse assunto.

A Cebrace vai assumir algum compromisso de redução de emissões, como tem sido feito em outras plantas da Saint-Gobain pelo mundo, por exemplo?
MC — Tanto a Saint-Gobain como a NSG têm declarado seus compromissos com a redução de poluentes. Estamos dentro dessa agenda global. E isso a gente vê que é um bom negócio. Vamos aproveitar a reforma para investir nisso.

LC — Esse conceito também estará no C6 quando ele for construído. Mas não podemos revelar números de redução, por questão de confidencialidade.

E em termos de investimento para a reforma do C2, quais os valores envolvidos?
LC — A reforma custará, aproximadamente, US$ 45 milhões. São valores que incluem o reparo do forno e toda a adaptação da fábrica em relação à diminuição de emissões.

Já que o assunto foi mencionado anteriormente, alguma novidade sobre o C6?
LC — A gente está trabalhando no projeto, tendo discussões entre acionistas sobre o perfil da planta. Estamos avançando. Em relação a quando faremos o anúncio, neste momento é impossível precisar, ainda mais com as incertezas que podem aparecer no horizonte.

A indústria automotiva vem apresentando resultados ruins. Como a Cebrace vê a recuperação desse mercado para os próximos anos, ainda mais levando em consideração que o C2 atende esse segmento?
MC — O automotivo é um mercado cíclico. E este momento ruim do ciclo nem é tanto causado pela demanda, pois ela existe, tem filas enormes de gente querendo comprar automóveis. É mais uma questão de ajuste da cadeia de suprimentos, muito afetada pela pandemia – notadamente, a questão dos chips, mas não só isso. Conta também a grande crise da Covid-19 em janeiro, um mês brutal no pico de casos nas empresas automotivas. Mas acredito que seja mais uma situação de curto prazo, todo mundo está trabalhando para voltar a produzir como no passado. Sou otimista nesse sentido.

Quando vocês acreditam que se dará a retomada de crescimento do automotivo?
MC — Muito difícil dizer ainda. Inclusive no próprio planejamento para a reforma do C2 estavam essas discussões. Não vejo nada acontecendo no curtíssimo prazo. Ainda serão dois ou três meses num nível não tão baixo como em janeiro, mas nada explosivo.

E quais são as expectativas para os demais segmentos consumidores de vidro?
FV — Começando pelos mais difíceis primeiro, o varejo tem sido afetado pela queda do poder de compra, e isso atinge diretamente o setor de linha branca e moveleiro. A previsão do segmento de eletrodomésticos é de -12%, segundo o IBGE.

Em relação à construção civil, nosso maior consumidor, representando cerca de 80% de nossas vendas, começamos com uma expectativa maior para este ano. O PIB dela tinha estimativa de 4%, agora está em 2%. Em 2022, acho que não teremos o efeito positivo das pequenas reformas, como aconteceu nos anos passado e retrasado. Mas com os investimentos em construções novas, pela quantidade de dinheiro captada para a construção, a gente deve ter algum incremento na atividade já este ano e talvez nos próximos.

LC — Vale a pena acrescentar que, em relação à queda do moveleiro e linha branca, o que a gente observa nos últimos meses é algo brutal, mais de 50% de baixa.

FV — A gente vê vários clientes desses dois setores dando férias coletivas nesta época de carnaval. A distribuição desse desempenho ruim não é linear. Algumas regiões do País mostram baixa maior do que em outras regiões, mas o resultado médio é de queda importante.

Não se pode achar de forma intempestiva que tudo vai se resolver com o preço, pois o momento é bastante complicado. O volume caiu. E se o preço cair só vai agravar mais a situação.

MC — A questão é manter o equilíbrio comercial, evitar uma guerra de preços. O mercado é o mercado, a gente não consegue agir sobre ele.

FV — E os custos estão aí. Energia, commodities aumentando de valor. Não dá pra brincar com isso. É preciso muita resiliência neste momento para que possamos todos passar bem pela situação.

A Cebrace já tem ideia de quando fará movimentações em outras plantas?
MC — Temos uma parada a quente na linha de Jacareí (SP), mas é uma parada rápida, de duas a três a semanas. E o planejamento para a parada de Barra Velha (RJ), no forno C4, que será uma reforma a frio, já começou há tempos.

Há alguma data para isso?
LC — Vai ser no primeiro semestre do ano que vem, mas não temos a data definitiva.

2022 ainda é um período especial para nosso setor, por conta do Ano Internacional do Vidro. O que a Cebrace tem a comentar sobre a data?
LC — Acho que o tema mais importante sobre o Ano Internacional do Vidro é o que o Manuel comentou antes: a Cebrace tem a sustentabilidade como prioridade em nossa agenda. A mensagem para o consumidor final e para o público em geral é que o vidro, seja plano ou oco, é um material 100% reciclável. É preciso potencializar essa mensagem o máximo possível.

Uma das ações é tentar aumentar o uso de cacos nas nossas fábricas. Nesse sentido, estamos investindo em nossas plantas. Essa campanha começa primeiro com investimentos internos. Depois, a responsabilidade vai para o nosso time comercial engajar e educar os clientes para que isso se torne uma realidade. Existe pouca consciência de como deve ser feita a destinação dos resíduos, o que pode ser reciclado e como separá-los. Há ainda a contaminação disso.

Outra coisa que estamos pesquisando: encontrar uma destinação para a borra de vidro no processo de lapidação. É um pó contaminado com óleo de refrigeração, água e tudo mais. Temos uma parceria com especialistas em materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), para encontrar uma solução para isso.

Crédito da imagem de abertura: Reprodução

Este texto foi originalmente publicado na edição 591 (março de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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