Vidroplano
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Glasstec Virtual traz palestras e exposição de produtos

19/11/2020 - 10h52

Não é porque a Glasstec 2020 foi adiada para 15 a 18 de junho de 2021, devido à pandemia, que a principal feira de nosso setor não aconteceria, de alguma forma, este ano. A Messe Düsseldorf, montadora do evento, organizou, nos dias 20 a 22 de outubro, a versão online da mostra, a Glasstec Virtual. Os três dias de palestras, exposição de produtos e rodadas de negócios, tudo pela Internet, serviram como aperitivo do que os participantes encontrarão em Düsseldorf, na Alemanha, ano que vem.

Audiência
O evento, gratuito, foi dividido em três partes: showroom online, com cerca de 800 empresas divulgando produtos por meio de textos, fotos e vídeos; área de conferência, com mais de 20 palestras ministradas por profissionais de variadas áreas do segmento, além de mesas-redondas discutindo tendências globais; e praça de networking, em que clientes e fornecedores podiam marcar reuniões por áudio ou vídeo.

Mais de 10 mil participantes, de 110 países diferentes, acessaram o conteúdo oferecido. Desse total, 73% eram de fora da Alemanha – o número reforça o aspecto internacional da feira, assim como ressalta a facilidade de se participar pela Internet. O diretor de Operações do evento, Erhard Wienkamp, admitiu que o coronavírus pode ter mudado o desenho das mostras daqui pra frente: “O futuro das feiras será híbrido”. Para a diretora da Glasstec, Birgit Horn, a solução encontrada ofereceu à indústria uma plataforma adicional para intensificar e expandir os contatos. “Agora, o foco está inteiramente na preparação da edição física”, comenta.

Presença brasileira
Duas companhias nacionais participarão da versão física em 2021 – por isso mesmo, informações sobre seus produtos puderam ser consultadas durante a Glasstec Virtual. “Valeu o esforço por parte dos organizadores, mas para nós o impacto foi baixo”, explica Cesar Zanchet, gerente internacional da Adezan, desenvolvedora de soluções de logística e de embalagens que já expôs na Glasstec em 2018. “Naquele ano, a experiência foi muito positiva e abriu diversas frentes nas quais trabalhamos até hoje.”

Sobre a edição do ano que vem, Zanchet acredita que seja cedo para algum prognóstico. “Sentimos uma onda de transformação de consciência e responsabilidade com a pandemia. Por isso, fica difícil prever se haverá muito ou pouco movimento e como será a receptividade dos frequentadores para receber materiais e conversas comerciais”, revela.

Para a fabricante de rebolos e ferramentas Arbax, participar do evento pela primeira vez foi estratégico para os negócios. “Deu-nos retorno muito acima do esperado, gerando também um fluxo de pedidos e procura por nossos produtos”, analisa o diretor Flávio Sirotto. “Conseguimos aumentar nossa demanda em relação às exportações, o que ajuda na expansão de nosso mercado internacional.” Isso deixou a empresa animada para a versão presencial da feira. “Com os resultados e parcerias gerados, já temos clientes na expectativa em relação à nossa presença em 2021”, revela Sirotto. “E, devido ao resultado dessa solução digital, acreditamos ser possível um sucesso ainda maior em Düsseldorf.”

A seguir, veja um resumo das melhores palestras.

 

PALESTRAS

Europa na pandemia
Em uma mesa-redonda com participantes de entidades vidreiras globais, Luca Oggianu, conselheiro de Advocacia e Comunicação da Glass for Europe, comentou a situação atual e as expectativas para o mercado na União Europeia. A queda na produção e demanda foi alta: as plantas que abastecem o setor automotivo pararam por cerca de dois meses e muitas obras da construção civil também ficaram paralisadas. No entanto, cada país teve uma experiência específica. A Alemanha sofreu um impacto relativamente leve, enquanto Itália, França, Espanha e Reino Unido foram duramente afetados. Várias associações locais estão trabalhando para implementar um pacote de recuperação econômica, envolvendo uma injeção massiva de dinheiro no mercado pelos próximos três anos. Esse plano incluirá investimentos na renovação de edificações – e daí pode vir a recuperação do setor vidreiro, já que vidros de alto desempenho oferecem diversos benefícios, como eficiência energética e conforto térmico.

Sanjeev Oberoi, da Asahi Indian Glass, falou sobre o mercado de float da Índia: crescendo em média 8% nos últimos anos, espera uma queda de 20% em 2020 e 2021 na comparação a 2019. Pela China, o país mais populoso do planeta, o professor da Universidade de Zhejiang, Gaorong Han, traçou um panorama do desenvolvimento do vidro plano local, desde os anos 1960 até os tempos atuais, com destaque para a importância dos vidros ultrafinos modernos, dos revestidos (low-e) e dos usados em painéis fotovoltaicos (extra clear). Citou também o grande aumento nos preços do produto (60% este ano) e ainda revelou que a produção durante a pandemia, na comparação com a do ano passado, teve queda nula (de apenas 0,3% em relação ao primeiro semestre de 2019).

Finalizando as apresentações, Nicole Harris, presidente e CEO da National Glass Association (NGA), a principal entidade vidreira da América do Norte, comentou sobre o impacto do coronavírus no setor de construção civil: o segmento deve cair de 8% a 10% no ano que vem. Além disso, os níveis atingidos em 2019 só serão igualados novamente em 2022 ou 2023.

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Envidraçamento para todos os climas
A próxima geração dos vidros de controle solar será adaptável ao clima – é o que explicou Daniel Mann, da Brightlands Materials Center, empresa que desenvolveu uma solução termocrômica ideal para todo tipo de temperatura, principalmente locais de clima moderado. Segundo Mann, a busca pela economia de energia será mais fácil se crescer o uso das novas tecnologias vidreiras, seja em retrofits ou novas edificações. Nesse sentido, um envidraçamento adaptável, que “regula” a transmissão de calor, será fundamental – e esse é o objetivo da pesquisa da Brightlands. De acordo com simulações, esse vidro termocrômico garante redução de até 29% de calor em uma cidade quente (os testes usaram Abu Dhabi como exemplo) e até 18% em uma região fria (Reykjavik, capital da Islândia). Em outras palavras, quanto mais quente, mais o calor é rejeitado; quanto menos quente, maior a entrada de calor para aquecer os interiores.

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Soluções verdes
Bernhard Fleischmann, da alemã HVG, apontou caminhos para tornar menor a emissão de gás carbônico durante a produção de float. De acordo com os dados apresentados, a quantidade de gases poluentes lançada pela indústria vidreira da Alemanha diminuiu no ano passado, alcançando o menor nível desde 2012 – em parte, pela maior tecnologia dos maquinários utilizados. No entanto, o segmento de float é o mais poluente em relação aos demais (oco, fibra de vidro etc.). Com a busca por um setor mais verde, isso se tornará prioridade para as empresas no futuro próximo. De acordo com Fleischmann, o gás carbônico liberado vem das fontes de energia que alimentam os fornos e também de algumas matérias-primas, como a dolomita. Para resolver a questão, sugeriu possíveis saídas, como trocar o gás natural por combustíveis sintéticos (metano ou etanol, por exemplo); substituir os combustíveis comuns por hidrogênio; e apostar em energia renovável para fornos híbridos. E isso já está se tornando realidade: como citamos em O Vidroplano de março deste ano, o Grupo NSG pretende testar o hidrogênio como alternativa para sua planta em St. Helens, no Reino Unido. O trabalho terá financiamento de £ 5,2 milhões do governo local, e os primeiros testes começam este mês.

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Dupla tecnologia
Edward W. Ferreira, da Toledo Engineering Company (Teco), abordou a possibilidade de uso de fornos híbridos que também funcionem com eletricidade. Essas instalações são uma possível solução para as metas envolvendo pegadas de carbono, uma vez que suas emissões são oriundas somente da carga produzida. Foram mostradas diversas vantagens desses maquinários, incluindo a uniformidade do vidro produzido, manutenção e operação mais fáceis e custo capital mais baixo. No entanto, Ferreira ressaltou pontos negativos, como os custos variáveis da eletricidade e a possibilidade de risco de queda de energia.

Como analisar informações
A digitalização das empresas, conceito representado pela integração dos processos produtivos, foi o tema de Peter Seidl e Maximilian Ocker, da Grenzebach. A palestra abordou a importância da análise dos dados obtidos na produção (como o desempenho dos maquinários e a produtividade) pelas tecnologias 4.0: não é preciso levantar todas as informações possíveis para melhorar determinado processo, apenas as relevantes para a situação da empresa. Somente ter os dados não melhora a produção, é preciso analisá-los. Para resumir suas ideias, mostraram uma sequência de processos a ser seguida:

geração de dados pelos maquinários => aquisição de dados => preparação dos dados, separando o que realmente é importante => análise dos dados => e, finalmente, a adaptação das máquinas aos dados relevantes

Vidros revestidos
Jens Ellrich, também da Grenzebach, comentou sobre vidros revestidos, fabricados com o processo de coating. Citou a grande variedade de aplicações existentes atualmente, incluindo revestimentos temperáveis, baixo emissivos (low-e) e até os fotovoltaicos integrados à construção (BIPV) para geração de energia. Em termos de desafios de mercado, Ellrich destacou os custos de produção (os dois principais são as matérias-primas, com 69%, e a mão de obra, com 17%) e como definir os preços para itens de valor agregado como esses. Para o profissional, os próximos passos na evolução do segmento de revestimentos envolvem a otimização da manutenção e a excelência operacional.

 

EMPRESAS EXPOSITORAS

O espaço virtual da Adezan mostrou aos participantes da feira as soluções de embalagens da empresa, incluindo pallets, ring boxes (caixas de madeira usadas para maquinários e componentes) e as chamadas export packings, maiores que as demais e próprias para serem manuseadas por empilhadeiras e outros veículos em estoques.

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A Arbax divulgou seus insumos pra processamento do vidro: rebolos copo e periféricos para lapidação (com ótimo custo benefício, segundo a empresa); óxido de cério (disponíveis nas versões Super Brilho, Super Brilho 35 e Premium Super Brilho); e a linha GPT para remoção de riscos das chapas.

Além do portfólio de fechaduras para portas, a Assa Abloy apresentou ao público virtual um item adequado aos tempos de pandemia, o Planet NoHander, uma espécie de alavanca que abre portas com os pés. Isso mesmo: ao invés de girar uma maçaneta, você empurra esse produto com o pé. Instalado na parte de baixo das portas, é indicado para pivotantes com uma folha e foi desenvolvido pensando em aumentar a higiene dos ambientes.

A mesa de corte Brembana Runner Line, apresentada pela CMS, conta com transportador automático e três eixos interpolados para o trabalho em chapas de 3 a 19 mm de espessura. Dois CNCs se destacam: o vertical Brembana Vertec, que fura vidros monolíticos, laminados e low-e; e o Maxima, de cinco eixos, controle numérico e mudança automática de ferramentas, próprio para polimento, lapidação, corte, furação e até gravação de chapas.

A linha de impressoras digitais da israelense Dip-Tech, empresa do grupo americano Ferro, também marcou presença. Além dos equipamentos da GPi e da NEraD Series, ambas reconhecidas por trabalharem em alta resolução, há ainda a VEra Series: ideal para impressão em vidros usados no setor de linha branca, utiliza as tintas cerâmicas Ultra-Fix, as quais se fundem às chapas após o processo de têmpera.

A finlandesa Glaston promete revolucionar as linhas de laminação com a Glaston ProL. Totalmente automatizada, ela tem lavadora (pode, inclusive, lavar vidros revestidos como o low-e) e um sistema de montagem do “sanduíche” de vidro e interlayer. O forno é de convecção: o ar quente circula por cima e por baixo das chapas. Segundo a empresa, a solução garante alta economia de energia.

O espaço virtual da italiana Intermac teve foco institucional. De forma geral, a empresa divulgou, sem destaque para um equipamento específico, suas linhas de maquinários para processamento de vidro, incluindo mesas de corte (tanto para float como para laminado) e centros de lapidação.

A gama de interlayers da Trosifol, marca da Kuraray, inclui diversas opções para vidros laminados. Além dos estruturais, indicados para instalações em que nosso material é parte da sustentação da obra, foi divulgado o Trosifol Acoustic, para vidros automotivos. Desenvolvido com propriedades de absorção de som, evitam a entrada do barulho externo no veículo.

A Schott apresentou o Schott Amiran, vidro antirreflexivo para fachadas. O produto oferece alta transparência mesmo com grande diferença de luminosidade na frente ou atrás do painel. Por isso, é indicado para showrooms, vitrines, camarotes em estádios, cabines de gravação e lobbies de entrada de edifícios. Solução semelhante é o Schott Mirogard, antirreflexivo próprio para quadros – reduz a reflexão para menos de 1%, o que permite total visão de uma pintura colocada atrás dele.

Mostrada pela Lisec, a linha automática para laminados PlusLam conta com medidor de espessura (podem ser usadas chapas de 3 a 19 mm) e detector do lado revestido do vidro (para os casos de laminação com esse tipo de material). Para peças de tamanho maior que o usual, o corte do excesso de interlayer é feito por um robô, aumentando a produtividade. O ciclo de trabalho é de até 50 laminados por hora, dependendo da especificação das chapas.

A espanhola Turomas expôs em seu espaço online a linha de mesas de corte Rubi Series, para float e também low-e. Outro destaque: a Lam Series, própria para laminados de até 12+12 mm de espessura. Ambas as linhas se destacam por não manipularem o vidro do lado revestido, garantindo a integridade do material.

Este texto foi originalmente publicado na edição 575 (novembro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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