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Entenda a importância dos estoques para uma processadora

02/05/2024 - 18h36

A matéria especial de fevereiro de O Vidroplano explicou como evitar desperdícios durante as diversas etapas do processamento. Mas como ficam as matérias-primas antes e depois de serem beneficiadas? É aí que entra a importância dos estoques – não apenas para a conservação de vidros e insumos, mas também para a organização de toda a processadora.

Para esta reportagem, conversamos com fornecedores de soluções para estocagem (incluindo softwares) e buscamos entender como as próprias beneficiadoras encaram o tema.

Muito além da conservação
Antes de mais nada, é necessário saber que a função de um estoque vai muito além de ser um espaço destinado aos materiais usados na produção. “Ele serve para preservar e manter matérias-primas, componentes, produtos semiacabados, produtos acabados e materiais diversos destinados a suprir as necessidades de atendimento do pedido”, explica Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro.

Todo empreendedor precisa ter em mente que, mesmo produtos parados no estoque custam dinheiro, alerta Cláudio Lúcio. “Afinal, envolvem depreciação, aluguel em certas situações, deterioração, obsolescência, manutenção de equipamentos de movimentação etc.” Por isso mesmo, tudo envolvendo a área física e a gestão do estoque deve ser pensado em detalhes.

 

Foto: Виталий Сова/stock.adobe.com

Foto: Виталий Сова/stock.adobe.com

 

Espaço
As características da área física vão variar de acordo com o tamanho da empresa e o layout de sua produção. No entanto, algumas recomendações valem para todas:

  • Manter o local limpo e organizado;
  • Identificar e distribuir corretamente;
  • Ter acesso restrito, com área demarcada e passagens desobstruídas.

Todos os materiais usados pela processadora em suas atividades devem ser estocados dessa maneira, não só as chapas de vidro. Isso inclui rodízios e óleos de corte, ferramentas abrasivas, telas e esmaltes, interlayers (PVBs, EVAs etc.), selantes, perfis de alumínio para insulados e cantoneiras de papelão para proteção, entre outros.

Além disso, a organização do espaço passa pela separação da situação das peças na produção:

  • Estoque de produtos em processo: itens intermediários ou semiacabados;
  • Estoque de produtos acabados: itens prontos para expedição ou disponíveis para a retirada pelo cliente;
  • Estoque de resíduos e refugo: materiais para reciclagem ou descarte (caco, pó da lapidação etc.).

De olho em todos os passos
O espaço físico é apenas parte do estoque: tão importante quanto é a gestão dele, como afirma Cláudio Lúcio: “É preciso criar políticas para isso, estabelecendo os interesses da empresa e a satisfação dos clientes. É essencial definir, de maneira formal, quais materiais estocar, as quantidades mínimas e máximas e o ponto de pedido”.

Entre os diversos métodos para gerir estoques, um dos mais conhecidos – e eficazes – é o PEPS, sigla para “primeiro a entrar, primeiro a sair”. Ou seja, os produtos que entraram primeiro no estoque serão os primeiros a sair da empresa. Dessa forma, tem-se controle sobre a rotatividade dos materiais, além de permitir com mais precisão o cálculo dos custos de produção e da margem de lucro.

Adquirir soluções inteligentes de estoque, portanto, não são meros gastos, mas investimentos que podem ajudar, inclusive, na saúde financeira da processadora. “A tecnologia atual é responsável por armazenar os pacotes ou colares, otimizando o espaço físico e melhorando o layout de entrada. Dessa forma garantem-se ainda o controle de inventário automatizado, o gerenciamento da rastreabilidade de lotes fabris, o abastecimento dos cortes automáticos com agilidade, a segurança etc.”, detalha Jones Hahn, fundador e CEO da Nex, empresa que atua no mercado de tecnologias para processos fabris de nosso setor.

 

Foto: Divulgação Nex

Foto: Divulgação Nex

 

Controle digital
Softwares ERP para processadoras contam com dispositivos para a gestão de estoques. “Esses sistemas avaliam a disponibilidade ao realizar pedidos de venda e ordens de produção, assim como a necessidade de compra de matérias-primas. Também registram o histórico de movimentações e até mesmo avaliam a tendência de consumo”, explica Carlos Santos, diretor da SF Informática, dona da solução GlassControl. O produto da empresa, na versão para indústrias, controla os insumos e componentes empregados nos vidros – como a tinta utilizada em uma peça serigrafada (revestida com esmalte cerâmico) ou o PVB em um laminado, por exemplo.

Priscila Kimmel, gerente-comercial da SystemGlass, explica como os softwares funcionam: “A cada adição de um novo produto ao sistema, ocorre a atualização automática do saldo de entrada de materiais. Esse processo assegura uma rastreabilidade eficiente, compatível com padrões e certificações de qualidade como os do Inmetro e ISO”. A cada faturamento, é acionada a baixa automática do produto, refletindo de maneira precisa e atualizada a disponibilidade dos itens. “Se houver a geração de materiais residuais, como retalhos, esses são automaticamente reintegrados ao processo, otimizando o reaproveitamento de recursos”, detalha Priscila. O módulo de estoque da fabricante está presente nos modelos GRICS e ToolGlass.

O passo a passo do controle automático de estoque de chapas de vidro
Com a ajuda de Jones Hahn, da Nex, listamos todas as etapas do processo:

  1. Recebimento da carga de vidro;
  2. Alimentação das informações do pacote no sistema e alocação do pacote na plataforma seletora;
  3. Envio da plataforma para dentro do armazém, garantindo as informações para o sistema de gestão;
  4. Otimizador ou engenharia executam a otimização conforme informação de estoque do sistema;
  5. Envio do arquivo otimizado para o sistema de estoque, que é interligado com a mesa de corte;
  6. Operadores da mesa de corte apenas abrem e carregam o arquivo recebido e o sistema leva as chapas otimizadas até o equipamento de forma automática;
  7. Após o corte, um sinal é emitido ao sistema dizendo qual chapa foi utilizada, dando baixa no estoque. Enquanto não for cortado e somente otimizado as chapas são reservadas e não poderão ser otimizadas novamente;
  8. Sempre que o estoque chegar em um nível definido pela empresa, o chamado “ponto do pedido”, o sistema emite um alerta de matéria-prima ao otimizador, que poderá ser sincronizado com os e-mails dos responsáveis da empresa.

 

Um estoque organizado dispensa o manuseio desnecessário das matérias-primas, evitando o desgaste dos produtos e também garantindo mais segurança aos operadores (Foto: Divulgação Vipel)

Um estoque organizado dispensa o manuseio desnecessário das matérias-primas, evitando o desgaste dos produtos e também garantindo mais segurança aos operadores (Foto: Divulgação Vipel)

 

O dia a dia nas processadoras
Na prática, com o nível de tecnologia envolvido nas atividades, uma beneficiadora não consegue trabalhar sem sistemas de estoque inteligente. Por isso, perguntamos a algumas processadoras como é o trabalho nesse sentido.

Segundo Crislene Soares de Oliveira, gerente de Marketing da mineira Pestana Vidros, toda a estrutura de armazenagem e movimentação da empresa está dimensionada para chapas jumbo (com tamanho de 6 x 3,2 m), as quais representam mais de 90% de seu mix, permitindo maior e melhor aproveitamento do espaço. “A movimentação e estocagem de chapas de vidro, principalmente as de grande dimensão, precisam garantir de forma irrestrita a segurança das pessoas envolvidas na tarefa”, esclarece. “Para isso temos processos muito bem-definidos, equipes treinadas, corredores de circulação amplos, SKUs (códigos para identificação de produtos) organizados e bem-dimensionados, além de automatização de várias etapas, de forma que os operadores tenham o mínimo possível de contato com o material.”

A Vipel, de Tubarão (SC), utiliza indicadores via sistema para apontamentos e previsões de demanda, seguindo ainda processos da certificação ISO 9001. “As chapas ficam armazenadas em cavaletes e paleteiras em um local organizado e limpo, com identificações para rastreabilidade do produto”, conta Jonas Vieira, coordenador de Produção da empresa. “Buscamos sempre usar o estoque mais antigo primeiro e aplicamos mensalmente uma contabilização no físico para executar o inventário e os ajustes necessários.”

Vinícius Moreira Silveira, diretor-executivo da PV Beneficiadora, do interior paulista, afirma que a empresa faz medições diárias da quantidade de insumos. “Dessa maneira, transformamos as compras desses itens em compras técnicas, não movidas por preço, mantendo o custo efetivo total adequado.” Além de ter locais específicos de armazenagem para cada tipo e espessura de vidro, a PV emprega o conceito just in time, baseado na ideia de não produzir antes da hora. “A matéria-prima só sai do estoque com direcionamento do PPCPE”, informa.

Os 5 inimigos do controle de estoque

  1. Falta de estabelecimento das políticas de estoque;
  2. Falta de local e condições adequadas, incluindo limpeza do espaço;
  3. Falta de organização e identificação dos produtos;
  4. Falta de inspeção de recebimento, controle de entrada, preservação dos itens de maneira adequada, guarda e saída;
  5. Transferência da responsabilidade: a responsabilidade da gestão dos estoques para a produção de produtos é do PPCPE e não de vendas, compras, produção ou expedição.

Este texto foi originalmente publicado na edição 616 (abril de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: vpilkauskas/stock.adobe.com



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