Vidroplano
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Esquadrias minimalistas potencializam transparência

20/08/2020 - 10h28

A arquitetura moderna busca, principalmente nos últimos anos, a integração entre o ambiente interno e o espaço externo das obras — basta ver várias reportagens de O Vidroplano ao longo dos últimos anos mostrando edificações ao redor do mundo que seguem essa tendência (nesta edição, por exemplo, confira um spa nos alpes austríacos com esse conceito clicando aqui). Boa parte dessas construções tem algo em comum: o uso de esquadrias minimalistas, cuja função é aumentar a área de transparência, fazendo com que os benefícios oferecidos pelo vidro sejam maximizados.

Confira nas próximas páginas os detalhes sobre o desenvolvimento desses produtos, o que deve ser levado em conta para sua especificação e os cuidados no manuseio e instalação.

Quanto pesa?
Projetadas para chapas de vidro jumbo (ou de tamanhos maiores que o usual), as esquadrias têm como prioridade suportar o peso de nosso material. “O desafio é que queremos perfis mais finos que atendam grandes vãos”, afirma Marcos César Prediger, diretor-comercial da Unibox. “Os componentes precisam ser reinventados para se adaptar a espaços menores e suportar grandes pesos.” Mesmo porque o termo “minimalista” vem do fato de os perfis ficarem escondidos: “O caixilho pode ser até 100% embutido na parede ou no chão, garantindo, frontalmente, maior exposição dos vidros”, explica Michael Lochner, gerente de Marketing da Weiku do Brasil.

Esses sistemas são de alumínio, embora os de PVC já comecem a ser comercializados, conforme veremos mais à frente nesta reportagem. Segundo a multinacional alemã Schüco, o tempo de desenvolvimento dos produtos é, em média, de três anos. “Após análises de tendências e de mercado, um gerente de Produto em conjunto com uma equipe de engenheiros estuda os perfis a serem fabricados, assim como todos os seus acessórios, garantindo encaixe e funcionamento de ponta”, revela Tiago Costa, diretor-comercial e de Marketing América do Sul da empresa. Ou seja, itens como roldanas e dobradiças também são preparados para receber uma grande sobrecarga.

Com o produto pronto, são realizados diversos testes, como os de resistência e acústica, utilizando diferentes configurações de espessuras das chapas. Os componentes passam pelas provas de durabilidade e exposição a raios UV e a ambientes salinos, entre outras. Já os sistemas como um todo são submetidos a ensaios de resistência ao vento, permeabilidade a água e ar, assim como aos de longevidade — nos quais robôs abrem e fecham as esquadrias para garantir ciclos de vida útil acima das 10 mil aberturas das folhas (podendo chegar, dependendo do item, até a 1 milhão de aberturas).

Procedência global
Algumas das fabricantes de esquadrias consultadas por O Vidroplano importam os produtos de suas matrizes internacionais. No entanto, todas as fontes desta reportagem utilizam vidros nacionais. Isso abre possibilidades interessantes para as processadoras brasileiras que precisam ser exploradas, até pelo fato de os perfis suportarem chapas de 20 a 52 mm, dependendo do modelo, incluindo peças de valor agregado como laminados e insulados. A escolha do vidro, geralmente, é de responsabilidade do cliente, arquiteto ou serralheiro. Cabe à fornecedora das esquadrias validar os pesos aplicados por folha e as espessuras.

Os perfis de alumínio da Schüco vêm de fora do País, assim como os acessórios usados neles. No entanto, alguns já são extrudados localmente, incluindo os produtos mais comercializados no Brasil. A versão de PVC, feita pela divisão Schüco Polymer, é a primeira minimalista do mundo fabricada com essa matéria-prima, segundo a companhia. Foi lançada este ano em março num evento online (a feira na qual o item seria mostrado em primeira mão foi cancelada por conta da pandemia). No momento, é produzida apenas na Alemanha, na fábrica da cidade de Weissenfels.

A Unibox e a Weiku, por sua vez, são companhias totalmente nacionais. Além de empregar vidros brasileiros, suas linhas minimalistas também são totalmente produzidas por aqui.

Escondidos: os trilhos por onde correm as esquadrias ficam embutidos no assoalho.

Escondidos: os trilhos por onde correm as esquadrias ficam embutidos no assoalho.

 

Como projetar
A especificação precisa levar em conta diversos fatores específicos para esse tipo de estrutura. Priscila Andrade, agente comercial da Schüco Polymer para Brasil, Argentina e Uruguai, explica alguns pontos:

– Esse é um “projeto de prancheta”. Ou seja, deve ser pensado ainda nas primeiras fases do desenvolvimento da obra em que será instalado;

– Isso se deve à necessidade de a instalação dos drenos e marcos embutidos (e até de elementos de automação, caso existam) estar prevista;

– A captação de água, nesse sentido, é fundamental: como a esquadria não forma um degrau para bloquear a entrada de água, o sistema precisa estar pronto para captá-la e enviá-la por meio de drenos para o sistema de captação pluvial.

Para aguentar o peso das grandes chapas de vidro, esses produtos são feitos de alumínio – no entanto, já existem versões de perfis de PVC no mercado.

Para aguentar o peso das grandes chapas de vidro, esses produtos são feitos de alumínio – no entanto, já existem versões de perfis de PVC no mercado.

 

Vale prestar atenção aos tamanhos máximos dos perfis e do peso total que cada modelo suporta, pois isso vai interferir no tipo de vidro a ser aplicado. Além disso, importante reforçar: esquadrias comuns jamais podem ser adaptadas para receber chapas de grandes dimensões.

Manuseio e instalação
Não é simples instalar chapas de vidro que podem pesar mais de 300 kg. Como afirma Prediger, da Unibox, toda esquadria já exige cuidados especiais. E essas têm um grau de complexidade e cuidado bem maiores. Vidros corretamente calçados e fixados garantem vida útil maior ao sistema, podendo chegar a décadas de uso — desde que o manuseio das peças seja feito de maneira correta.

“A maior dificuldade é o acesso à obra, pois essas esquadrias só devem ser transportadas por caminhões munck”, analisa Michael Lochner, da Weiku. Na hora da instalação, os profissionais nunca devem carregar as chapas sem ajuda de meios de elevação mecânica (até porque nem conseguiriam levantá-las). Pequenos guinchos com ventosas são usualmente utilizados no auxílio da carga e descarga dos materiais. “Equipes altamente qualificadas e treinadas para efetuar o processo de maneira precisa também fazem a diferença”, destaca Lochner.

Vidros corretamente calçados e fixados garantem vida útil maior ao sistema, podendo chegar a décadas de uso.

Vidros corretamente calçados e fixados garantem vida útil maior ao sistema, podendo chegar a décadas de uso.

 

Tendência transparente
Como O Vidroplano mostrou em reportagem da edição de julho, o vidro será um elemento chave da arquitetura e design no período pós-pandemia, já que permite a integração de espaços ao mesmo tempo que os separa, além de ser limpo com facilidade. Esquadrias minimalistas encaixam-se perfeitamente nessa tendência. “Com o aumento da demanda, mais empresas têm oferecido esse tipo de produto, aumentando a concorrência”, comenta Marcos César Prediger, da Unibox.

Segundo Priscila Andrade, da Schüco Polymer, a evolução das esquadrias vem de muito tempo. “Acredito que, desde que se abandonou a massa de vidro e começou a se pensar em sistemas integrados, essa evolução não parou”, pondera. “Já faz tempo que se pede mais vidro em obras residenciais. Porém, nos últimos três anos, arquitetos querem sistemas que ofereçam não só grandes áreas transparentes, mas também conforto de abertura, segurança e estanqueidade térmica e acústica.”

O arquiteto de interiores Roberto Migotto é um exemplo dessa tendência. Já em 2018, na edição daquele ano da Casa Cor São Paulo, o profissional apostou em grandes áreas envidraçadas. Um sistema de correr (com laminados neutros incolores 10 mm) funcionava como parede da cozinha de seu espaço, chamado Le Riad Bontempo, permitindo a interação entre interior e exterior. “Dessa forma, os panos de vidros passam a integrar o ambiente, deixando-o bem moderno”, explica Migotto. “Gosto de usar esquadrias do piso ao teto. Isso deixa o local mais iluminado.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 572 (agosto de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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