Vidroplano
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Esquadrias são as melhores amigas do vidro

22/08/2024 - 14h12

Se você lê O Vidroplano, sabe do altíssimo nível tecnológico do setor vidreiro. Existem vidros dos mais diferentes tipos, oferecendo os mais diferentes benefícios – conforto térmico, acústico, segurança, estética etc. Mas não podemos nos esquecer de algo fundamental: só o vidro não faz milagre. Todos os elementos que compõem uma obra envidraçada precisam ter qualidade; do contrário, nosso material não alcançará o desempenho desejado. E dentre esses elementos, o melhor amigo do vidro são as esquadrias – afinal, qualquer fachada, janela ou porta precisa da união perfeita entre ambos.

A matéria especial deste mês traz um panorama sobre o mercado de esquadrias, as diferenças entre as principais matérias-primas desses produtos, quais seus componentes e a importância da normalização para aumentar o desempenho das edificações.

Qual o papel da esquadria?
É fundamental saber otimizar o desempenho do vidro junto à esquadria. Ambos precisam ser pensados em conjunto, para otimizar a performance individual de cada um. “Vou dar um exemplo, envolvendo isolamento acústico. A principal regra para o vidro é a chamada ‘lei das massas’: quanto mais peso, quanto mais espessura da chapa, melhor isolamento. Mas quando você aplica isso na esquadria, muda totalmente”, explica o diretor da Atenua Som, Edison Claro de Moraes. “Uma janela convencional de correr, de 1,6 m x 1,2 m, que é o padrão encontrado em apartamentos, não suporta mais de 15 ou 20 quilos por m². Então, como fica a ‘lei das massas’ nessa hora?”

De acordo com Moraes, para se chegar à solução ideal para determinado projeto, é preciso lembrar que o sistema como um todo sempre deve ser levado em conta. “Para as esquadrias, existe o que eu chamo de ‘lei das frestas’. Qualquer vão deixado entre o vidro e a esquadria, assim como entre a esquadria e o local onde será instalada, pode invalidar todo o isolamento proporcionado.”

Como são formadas
O trabalho com esquadrias, então, se torna essencial para a qualidade da instalação. Por isso, é importante conhecer em detalhes os componentes desses produtos:

  • Perfis: são as estruturas que formam os caixilhos (a parte fixada na parede) e as folhas (parte móvel) das esquadrias. “Eles conferem rigidez e sustentação, garantindo a estabilidade e durabilidade do produto”, aponta Michael Lochner, gestor de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Weiku do Brasil. Segundo ele, existem perfis com sistemas de multicâmaras internas, o que aumenta significativamente o isolamento termoacústico e a eficiência energética da solução;
  • Ferragens: incluem dobradiças, trincos, maçanetas, fechos. São os elementos responsáveis pela movimentação, travamento e fechamento das esquadrias;
  • Vedações: feitas de borracha ou materiais similares, garantem a estanqueidade contra água e vento. “Eu costumo dizer que as escovas são os elementos mais importantes porque elas criam memória. Se você deixar uma porta ou janela fechada por muito tempo, as escovas, se não forem de boa qualidade, não retornam, ficam amassadas. E isso, com o tempo, faz com que o desempenho vá embora”, revela Edison Moraes, da Atenua Som;
  • Alma de aço: reforços de aço que oferecem maior estabilidade e resistência estrutural. “São cruciais para suportar cargas estruturais e garantir que a esquadria mantenha sua forma e função ao longo do tempo, mesmo sob pressão ou uso intensivo”, esclarece Priscila Proença, coordenadora de Marketing da Bazze PVC. “Essa proteção é especialmente importante em ambientes úmidos ou salinos, onde a corrosão pode ser um problema significativo.”

Como lembra o engenheiro Antonio Duarte Ramos, CEO da Viametal Esquadrias e InfinitePerfis, existem inúmeros outros componentes, dependendo da tipologia da esquadria e do valor agregado a ela: “Entre esses, estão os sistemas multipontos de travamento das portas de correr, acionados com maçanetas com sistemas de segurança acoplados; roldanas para cargas elevadas; sistemas de fechamento dos cantos de perfis com conexões especiais etc.”

 

Vedações, borrachas, maçanetas: cada componente de uma esquadria tem papel importante para o desempenho da solução (Foto: Олександр Пшевлоцьки/stock.adobe.com)

Vedações, borrachas, maçanetas: cada componente de uma esquadria tem papel importante para o desempenho da solução (Foto: Олександр Пшевлоцьки/stock.adobe.com)

 

Matérias-primas: diferenças e benefícios
O alumínio, o PVC e o aço são as matérias-primas que dominam o mercado de esquadrias nacional – a madeira também pode ser usada na fabricação, mas a vemos em uma escala bem menor nos produtos feitos no Brasil. Mais do que colocar os materiais um contra o outro, vale enaltecer as características próprias deles, como aponta Edison Moraes: “Cada um tem as suas vantagens. Se olharmos para a lei das massas, o peso do alumínio é superior; já o fator térmico do PVC é melhor. Porém, os dois tipos de perfis estão sujeitos aos aspectos construtivos. Quem vai fabricá-lo? Quem vai instalá-lo? Isso passa a ser mais importante que o material em si”.

  • Alumínio
    De acordo com o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), Filipe Gattera, esse material é conhecido pela durabilidade e resistência à corrosão, garantindo longa vida útil aos produtos, mesmo em condições climáticas adversas. “Além disso, é um material leve, o que facilita a instalação e manuseio, sem comprometer a resistência estrutural”, comenta. Sua versatilidade é outro ponto relevante: “Ele permite a criação de esquadrias com designs modernos e sofisticados, atendendo às demandas estéticas dos arquitetos e consumidores mais exigentes”. O tratamento da superfície do alumínio pode ser feito por pintura eletrostática a pó ou anodização – com isso, diversas tonalidades de cores podem ser aplicadas. “O alumínio também é altamente reciclável, contribuindo para a sustentabilidade e a redução do impacto ambiental na construção civil”, revela Gattera.
  • PVC
    Como elucida Michael Lochner, da Weiku do Brasil, o PVC é altamente resistente à corrosão, ao desbotamento e às condições climáticas adversas. Dessa forma, uma de suas principais características é a longa durabilidade, além da pouca necessidade de manutenção. “Isso sem falar nas excelentes propriedades de isolamento térmico e acústico, contribuindo para a eficiência energética dos edifícios e proporcionando maior conforto aos ambientes internos”, afirma. Esse material também é reciclável, sendo uma opção sustentável em uma época na qual a construção busca soluções amigáveis ao meio ambiente. E não se pode deixar de comentar a versatilidade do PVC quando se fala em estética: “Permite uma ampla gama de designs e acabamentos, atendendo às mais variadas necessidades estéticas e funcionais”, indica Lochner.
  • Aço
    De acordo com a fabricante de perfis Sasazaki, o aço é um elemento com grande resistência mecânica se comparado a outros materiais nas mesmas condições, oferecendo rigidez e robustez aos produtos – além disso, conta com proteção anticorrosão. No quesito acabamento, pode ter pintura personalizada, para maior versatilidade estética, combinando com diferentes tipos de ambientes.

 

Foto: Favaro JR/Viametal-Infinite

Foto: Favaro JR/Viametal-Infinite

 

Quais as tipologias mais consumidas?
A resposta a essa pergunta muda conforme a evolução da arquitetura e da própria indústria de esquadrias. “Durante muitos anos, o mercado deu preferência para as esquadrias de correr de dois ou três planos, especialmente para dormitórios. Hoje, já se observa o crescimento das integradas, em edifícios residenciais de médio e alto padrão, pois oferecem iluminação quase total ao ambiente, o que não ocorre com as de três planos com veneziana, por exemplo”, analisa Filipe Gattera, da Afeal.

Atualmente, as preferidas pelos especificadores são:

  • Janelas de correr: indicadas para espaços reduzidos, pois não ocupam área interna ou externa ao serem abertas;
  • Portas de correr: usadas em áreas de passagem e integração de ambientes, proporcionando um visual clean. Cresce a tendência de utilizar folhas sequenciais, com até seis trilhos ou mais, para abrir os espaços completamente;
  • Janelas e portas oscilobatentes: permitem abertura lateral (de giro) e superior (basculante), combinando ventilação e segurança;
  • Janelas maxim-ar: indicadas para ventilação contínua e controle de fluxo de ar são utilizadas geralmente em banheiros e áreas de serviço;
  • Portas pivotantes: escolha popular para entradas principais.

Importante considerar que as tipologias de esquadrias devem ser escolhidas não apenas por suas funcionalidades, mas também pelo impacto estético proporcionado ao ambiente.

 

Foto: Victor Peiker/Weiku

Foto: Victor Peiker/Weiku

 

Valor agregado
Assim como o setor vidreiro, o mercado das esquadrias tem como objetivo popularizar produtos de maior valor agregado. Segundo as empresas consultadas para esta reportagem, há uma demanda crescente por itens premium. “De maneira geral, vemos que há uma maior conscientização sobre a importância da qualidade e durabilidade dos materiais, especialmente em projetos de alto padrão e em construções sustentáveis”, revela Filipe Gattera, da Afeal. “Sem dúvida essas são medidas necessárias para a evolução do nosso mercado, mas ainda temos um longo caminho para a evolução com qualidade”, reflete Antonio Ramos, da Viametal Esquadrias e InfinitePerfis.

É possível apontar alguns tópicos relevantes nos quais as esquadrias de valor agregado precisam se encaixar, conforme aponta Priscila Proença, da Bazze PVC:

  • Práticas sustentáveis e éticas de fabricação: isso ressoa com consumidores que estão cada vez mais preocupados com questões ambientais e sociais;
  • Personalização: fazer com que os consumidores possam adaptar o produto às suas preferências e necessidades individuais, aumentando a percepção de valor;
  • Uso de materiais de alta qualidade: aliado a processos de produção avançados, resulta em maior desempenho e satisfação do cliente.

Fazer com que esses consumidores, incluindo especificadores, conheçam todos esses benefícios é um dos grandes desafios para a cadeia vidreira e de esquadrias – e uma iniciativa que pode ajudar nesse sentido é o Educavidro. A plataforma de ensino a distância, criada por Abravidro e Abividro ano passado, conta com conteúdo técnico preparado pelos maiores especialistas no trabalho com nosso material. Levar conhecimento de qualidade a todos os públicos é uma ótima aposta para o aumento no uso de produtos de valor agregado.

A importância das normas
E foi justamente a normalização das esquadrias que permitiu a especificadores e consumidores conhecer mais de perto a eficiência desses produtos, por meio da ABNT NBR 10.821 – Esquadrias externas para edificações. “As Partes 2 e 4 dessa norma trazem modelos de etiquetas para demonstrar ao consumidor a classificação e o desempenho da esquadria que ele está adquirindo. Afinal, esquadria é um produto técnico e que precisa ser bem especificado, projetado e fabricado”, comenta Fabiola Rago, diretora do Instituto Beltrame da Qualidade, Pesquisa e Certificação (Ibelq). “A identificação força o consumidor final ou o projetista da edificação a escolher o produto adequado para cada projeto: as condições de desempenho necessárias são bem diferentes para uma janela numa casa térrea, uma porta para uma varanda ou uma janela para edifícios de trinta pavimentos, por exemplo.”

Para que a esquadria tenha um bom desempenho na edificação, alguns requisitos precisam ser seguidos, incluindo:

  • Ser projetada de acordo com a altura da edificação, região do País, tipo de cômodo e desempenho acústico e térmico apropriados;
  • O protótipo do produto deve ser ensaiado para avaliação de seu desempenho, de acordo com a Parte 3 da ABNT NBR 10.821;
  • A esquadria deve ser recebida em conjunto com seu projeto para conferência de que está em conformidade com o projeto ensaiado e aprovado.

Outro exemplo de documento técnico fundamental para o assunto é a ABNT NBR 15.575 — Edificações habitacionais – Desempenho, publicada em 2013. “Essa norma, considerando principalmente a Parte 4, sobre os requisitos para sistemas de vedação, contribuiu muito para a evolução do mercado de esquadrias”, explica Fabiola Rago. “Ela juntou em um só documento mais de trezentas normas aplicáveis na construção civil, que infelizmente não eram conhecidas por boa parte dos engenheiros e arquitetos. Hoje, os fabricantes de esquadrias recebem solicitações dos construtores solicitando o atendimento a essa norma.”

Filipe Gattera, da Afeal, concorda com o impacto positivo causado pelo documento: “A ABNT NBR 15.575 estabeleceu requisitos claros de desempenho térmico, acústico, resistência e durabilidade, incentivando os fabricantes a inovarem e aprimorarem seus produtos para atender a essas exigências”. Para Edison Claro, da Atenua Som, a norma é um pouco branda nas exigências quando comparada à regulação de outros países. “É uma norma relativamente nova, com apenas uma década, sendo que outras iguais pelo mundo existem há trinta anos. Ainda estamos aprendendo com ela. Mas, sim, considero um divisor de águas, com uma importância vital”, analisa.

Não se pode deixar de citar também a ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil — Projeto, execução e aplicações, responsável por indicar o vidro correto para cada tipo de instalação, ajudando a proporcionar segurança às edificações.

Vendo toda a variedade desse produto e a complexidade de seu mercado, é ótimo perceber que o vidro está muito bem acompanhado.

Este texto foi originalmente publicado na edição 620 (agosto de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Divulgação Bazze PVC



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