Vidroplano
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A música que toca

28/06/2024 - 18h17

rafaelribeiro-jun2024Apesar de não ser músico, quando sentei para escrever este texto, várias canções passaram pela minha cabeça, de imediato. Fiquei até em dúvida sobre qual utilizar.

Depois de nove meses sem reajuste nos preços do float pelas usinas nacionais (o que pode demonstrar que lá em setembro de 2023 os preços no mercado doméstico estavam, supostamente, muito altos), veio o resultado: fomos surpreendidos por um aumento de dois dígitos.

Penso que o momento foi inoportuno, pois a demanda na construção não reagiu e temos ainda a queda do consumo na Região Sul, provocada pelo evento climático de maio. Como apontam o Panorama Abravidro e o Termômetro Abravidro, 2023 foi um ano de redução de consumo – e 2024 não mostra nada diferente.

Então, quando recebemos as cartas de aumento das usinas, sempre me vem aquele questionamento: é bom ou é ruim? Aí me lembro de diversos argumentos, a favor ou contra, mas no final chego à conclusão de que, na prática, são as mazelas do setor que nos trazem dificuldades.

Percebo que todos os insumos que o processador utiliza, mais mão de, obra, alimentação, transporte e benefícios do pessoal, energia elétrica, óleo diesel etc., têm seus preços reajustados periodicamente. O processador, no entanto, só consegue realizar reajustes quando ocorre aumento do valor da matéria-prima.

Percebo, também, que, no momento do reajuste, quando o processador tem estoque, ele mantém os mesmos preços para tentar vender mais (ou vender igual por mais tempo), ao invés de reajustar de imediato, obtendo melhor margem sobre o valor do estoque, o que significa dinheiro parado sem receber juros.

Percebo que o cliente do processador, há anos, já identificou essa fragilidade, e muitas vezes “blefa” entre seus fornecedores, afirmando que o concorrente não subiu, ou que está praticando valor menor. O processador acaba, muitas vezes, abrindo mão do resultado para não perder o cliente e o volume de produção. Percebo que o processador troca de fornecedor de matéria-prima ou até efetua importações somente para reduzir o preço de venda e manter volumes de produção, nunca para obter melhor margem.

Percebo ainda que o processador compra matéria-prima com pagamento à vista e, depois, processa, vende e entrega para pagamento em até cinco vezes, além de entregar suas mercadorias com frota própria, mesmo em grandes distâncias, arcando com os custos do frete. Percebo que, apesar das baixas margens de venda, surgiu entre o processador e o cliente mais um elo na cadeia: o do atacadista de vidros temperados.

A Abravidro está aqui para defender os interesses de seus associados e sempre vai lutar pelo desenvolvimento do nosso setor. Mas o que percebo, “caros coleguinhas” (expressão corrente em nosso segmento), é que sempre estamos descontentes com os outros, mas aceitamos e convivemos com as mazelas do nosso elo na cadeia — estas, aliás, são muitas.

Até quando vamos sobreviver? Quem vai sobreviver? Realmente, não sei. O fato é que até agora não paramos de nadar, e são grandes os riscos de morrermos na beira da praia. Voltando a falar de música, ainda não sei se vou de Banda Brasil ou de É o Tchan.

Rafael Ribeiro
Presidente da Abravidro
presidencia@abravidro.org.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 618 (junho de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto: Marcos Santos



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