Vidroplano
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‘Nosso maior patrimônio: o respeito de todo o setor’

15/05/2017 - 17h44

Primeiro semestre de 2011, posse como presidente da Abravidro: por melhores que fossem os prognósticos, nem o mais inventivo guru poderia prever o cenário agitadíssimo que aguardava o setor vidreiro.

Atingimos o auge no consumo de vidros no Brasil e atraímos vultosos investimentos de toda a cadeia produtiva vidreira. Entraram dois novos players fabricando float e, na sequência, encaramos a maior retração econômica do País.

Agora, prestes a deixar a liderança da maior entidade vidreira brasileira —, Alexandre Pestana conversou com O Vidroplano a respeito das ações da associação ao longo desses seis anos. Ele refletiu sobre a importância de alguns projetos, como o Panorama Abravidro, orgulhou-se do número de associados da entidade e reafirmou a importância da interação com o ramo varejista, composto pelos vidraceiros. Um de seus recados ao mercado: “Com a crise, a Abravidro passa a ser ainda mais imprescindível, pois atua como principal interlocutora na organização da cadeia produtiva vidreira”.

Nesses seis anos de mandato, de qual projeto mais se orgulha de ter encabeçado?

“Oferecemos um portfólio de serviços essenciais às processadoras diante da crise”

Alexandre Pestana — Em meio a tantas ações que a Abravidro realiza, fica muito difícil eleger apenas uma delas. Entre muitos projetos, fizemos a implementação da Especialização Técnica, a desoneração da folha de pagamentos, três edições do Simpovidro e atuamos firme na questão tributária. Porém, o Panorama Abravidro, que estamos publicando pelo sexto ano consecutivo, é algo que me marca pessoalmente. Tinha grande frustração por não conseguir quantificar nosso mercado — a ausência dos números era um grande entrave para muitos objetivos. Em 2012, nossa diretoria decidiu abraçar essa causa e cada um de nós foi a campo mobilizar as empresas para responder à pesquisa. Hoje contamos com uma amostra de quase setenta processadoras, representantes de uma parcela significativa de nosso mercado. O Panorama Abravidro abriu portas para várias conquistas que vieram depois.

E dentre os seus projetos iniciais, o que não conseguiu fazer?
Alexandre Pestana — Desde que me elegi, sempre quis fazer projetos com foco nos vidraceiros. Considero que eles têm um poder enorme de alavancar nosso setor. Ocorre que essa atividade de mercado extremamente intensa nos primeiros anos de meu mandato impôs à Abravidro uma agenda extensa, com ações focadas no segmento como um todo. Apenas ao final tivemos oportunidade de trabalhar com os varejistas de forma mais direta, algo que eu queria ter feito antes. Pelo menos construímos alicerces firmes para várias ações que deverão ser lançadas em breve, o que muito me orgulha.

“A Abravidro ampliou seu protagonismo, assumindo papel contundente em todas as questões que impactam a cadeia produtiva vidreira”

O que foi feito que não estava previsto inicialmente?
Alexandre Pestana — Esse é um ponto interessante. Assim que assumi a presidência, estava muito preocupado em formular um plano de trabalho, quando a Celina [Araújo, superintendente da Abravidro] disse uma frase que define exatamente o ritmo da entidade: “A Abravidro trabalha diante das demandas de mercado e a maioria delas não pode ser prevista”. Achei estranho, mas hoje vejo o quanto esse posicionamento é desafiador, pois é preciso ser dinâmico para atuar nas mais diversas frentes, em prazos muito curtos.

Apenas como exemplo: em 2012, estávamos levantando os números setoriais para um pleito ao governo sobre defesa comercial. Essa pesquisa propiciou a edição do primeiro Panorama Abravidro. Com eles em mãos, fomos a Brasília solicitar uma redução do IPI dos vidros processados e não encontramos um cenário favorável. No entanto, por estarmos no lugar certo e na hora certa, vimos a oportunidade para pleitear a desoneração da folha de pagamentos, que acabou saindo. Nosso trabalho é cheio de situações desse tipo. Num outro viés, gerenciamos algo impensável nos dias de hoje: a falta de matéria-prima em nosso mercado.

Qual é a principal marca de sua gestão?

“Nossa capacidade empreendedora permitiu que tenhamos hoje um parque industrial moderno, com tecnologia de ponta”

Alexandre Pestana — Começamos o mandato com cem empresas associadas à Abravidro e hoje, apesar da crise, temos mais de duzentas. Esse número traduz muito do que aconteceu no setor de 2011 para cá. Recebemos a entidade com grande confiança e credibilidade por parte do mercado e procuramos manter e ampliar esses atributos, pois considero este nosso maior patrimônio: o respeito de todo o setor.

Seu período à frente da Abravidro compreendeu o auge do consumo de vidros planos no Brasil e também a maior crise econômica de todos os tempos. Em sua avaliação, quais foram os principais erros e acertos do setor nesses anos?
Alexandre Pestana — Assim como todo o País, acredito que erramos mais na pujança do que na recessão. Motivados com o crescimento observado até 2014, nossa principal preocupação era aumentar a capacidade produtiva, sem nos atentarmos para a eficiência e o cálculo de retorno dos investimentos. Agora, o ônus desse comportamento está sendo debitado, pois estamos com um excedente produtivo incalculável, pouco preparados para um ambiente tão competitivo. Essa queda brusca no consumo de vidro teve grandes impactos, pois nossos erros não são mais acobertados pelo crescimento de mercado. Portanto, estamos aprendendo a ser industriais muito mais competentes.

Por outro lado, nossa capacidade empreendedora permitiu que tenhamos hoje um parque industrial atualizado, com tecnologia de ponta, alinhado aos mais modernos do mundo.

“A queda brusca no consumo de vidro teve grandes impactos, pois nossos erros não são mais acobertados pelo crescimento de mercado”

Em junho de 2014, época de sua reeleição na Abravidro, você comentou em entrevista para ‘O Vidroplano’ que a indústria precisava mudar a forma de atender o mercado. Isso aconteceu?
Alexandre Pestana — Quando o mercado está ascendente, temos um consumidor menos exigente e também mais oportunidades de negócio. Agora, o cenário se inverteu: precisamos estar mais atentos às demandas dos clientes e buscar maior eficiência. Nessa revolução no padrão de consumo, a indústria tem um grande desafio, adequando-se à nova realidade.

O que mudou na Abravidro internamente e institucionalmente durante o seu mandato?

“Recebemos a entidade com grande confiança e credibilidade por parte do mercado e procuramos ampliar esses atributos”

Alexandre Pestana — A Abravidro ampliou seu protagonismo, assumindo papel contundente em todas as questões que impactam a cadeia produtiva vidreira. Internamente, a estrutura da Abravidro modificou-se bastante. Já tínhamos uma equipe de alta performance, que foi ampliada para que possamos oferecer um portfólio de serviços essenciais às processadoras diante da crise. Criamos em nosso estatuto o cargo de superintendente, regulamentando as atividades de gestão e proporcionando maior dinamismo ao dia a dia da entidade. Tudo isso foi concretizado com a mudança de nossa sede — a qual agora demonstra o enorme potencial de conforto e segurança que o vidro pode proporcionar.

E como você vê o futuro do mercado e da Abravidro?
Alexandre Pestana — Na maior parte desse mandato que começou em 2011 e termina agora, vivemos sob grande pujança e a Abravidro foi muito importante para discutir os grandes temas surgidos.

Com a reversão do cenário econômico e uma drástica redução no consumo de vidros nos últimos dois anos, considero a Abravidro imprescindível! Nossas empresas, em especial os processadores, precisam se adaptar à realidade, muito mais desafiadora. Por isso, uma entidade forte e atuante passou a ser decisiva. Um dos principais papéis da Abravidro neste momento é atuar como principal interlocutora na organização da cadeia produtiva. Mais do que nunca, é preciso dialogar com as usinas de base e promover o desenvolvimento dos varejistas, considerando a realidade da indústria de transformação.

“Construímos alicerces firmes para várias ações com os vidraceiros que serão lançadas em breve”

Este texto foi originalmente publicado na edição 533 (maio de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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