Vidroplano
Vidroplano

O Vidroplano celebra a força de trabalho feminina em nosso setor

04/04/2024 - 10h26

Segundo estudo do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as mulheres respondem por um quarto da força de trabalho na indústria brasileira. Em relação a cargos de gestão, a participação é maior – mais de um terço. Apesar de o número ser inferior a outros setores, nos quais elas ocupam quase a metade das funções de liderança, o crescimento desse indicador na indústria foi três vezes maior (considerando o período de 2008 a 2021).

É uma representação pequena, mas o aumento constante da presença feminina num ramo considerado “masculino” mostra que, felizmente, a retrógrada ideia de certos trabalhos “não serem para mulher” vem perdendo espaço na sociedade. E o setor vidreiro é um exemplo claro disso, como pode ser visto a seguir.

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, O Vidroplano dá voz a diversas profissionais de vários elos da cadeia. Elas contam sua trajetória no vidro, mostrando que capacidade e qualificação não se medem a partir do gênero de uma pessoa, e comentam sobre o preconceito ainda existente no mercado.

 

camille-mar2024

 

 

Camille da Silva Jacinto
Diretora-geral da Temperlândia

  • Trajetória no setor
    “Meu pai fundou o grupo empresarial PR Jacinto há mais de cinquenta anos. Então costumo dizer que nasci no vidro. No entanto, antes de trabalhar no meio, estive em outros setores, como consultoria empresarial e dando aulas no Senac [Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial]. A minha vinda para nosso ramo se deu por uma necessidade interna familiar e, por mais que eu não atuasse, o vidro sempre foi minha paixão.”
  • Preconceito
    “Posso dizer que o preconceito é tão institucionalizado e enraizado que eu mesma cometia e me cobrava, não só por ser mulher, como pela idade e também pelo fato de querer romper o paradigma de herdeira. Ainda hoje me vejo explicando a normalidade de uma mulher dentro da produção, conversando com uma maioria esmagadora de homens e me sentindo confortável ao discutir assuntos dominados majoritariamente por eles há muito tempo. Creio que o esforço maior seja quebrar nossos próprios paradigmas.”
  • A importância das oportunidades
    “Assim como em outros mercados, o setor vidreiro tem passado por atualizações e mudanças que incluem maior participação feminina, inclusive em cargos de gestão. Além de uma visão mais detalhista, as mulheres têm trazido condições trabalhistas mais favoráveis, mais aproximação familiar e melhores práticas ambientais.”

 

 

 

gloria-mar2024

 

 

Glória Cardoso
Gerente-geral de Arquitetura Pilkington e Blindex

  • Trajetória no setor
    “Iniciei minha carreira na Pilkington/Blindex há treze anos, como estagiária de marketing, e passei pelas funções de assistente, analista e gerente de Marketing. Atualmente respondo sobre o sistema Blindex de franquias e licenciamento, linhas de vidros e sistemas especiais para grandes obras e vidros para linha branca. O que eu buscava lá no início era uma oportunidade em uma grande empresa, preferencialmente uma indústria. Foi o que encontrei na Pilkington, onde se deu meu primeiro contato com o mercado vidreiro, o que rapidamente despertou meu interesse por conta de sua grandeza, versatilidade e inúmeras possibilidades de crescimento.”
  • Preconceito
    “Não sofri preconceito por ser mulher. Sempre me posicionei como profissional, palavra sem gênero, que serve tanto para homens como para mulheres e, desde que iniciei minha carreira, me esforço para fazer com que os resultados do meu trabalho me credenciem para os próximos passos.”
  • Desigualdade
    “Eu acredito em meritocracia. Mas não podemos negar: para além da dedicação profissional, a jornada de uma mulher na sociedade é, sim, muito mais extensa. Considere uma profissional que chega às 8 horas para trabalhar e já cumpriu uma jornada doméstica antes de começar o expediente – e ainda cumprirá outra quando retornar ao lar no fim do dia. Essa jornada em casa consome parte importante da energia disponível ao trabalho na empresa, de modo que, para entregar resultados excelentes, essa mulher precisará de ‘estoques adicionais’ de energia física, mental e emocional. E tudo isso, se não reposto na mesma proporção, pode representar risco não só à carreira, mas à saúde dela.”
  • Visibilidade
    “É uma alegria imensa e uma grande responsabilidade ocupar uma posição de liderança em uma empresa que está inserida em um mercado predominantemente masculino. Em 2024, vamos para o 5ª Transparência com Elas, que cresce a cada ano e já faz parte do calendário anual de eventos da empresa, sendo palco para palestras e discussões sobre o papel da mulher no mercado de trabalho, na indústria e na sociedade. Vale lembrar também que, em 2022, a companhia recebeu o Selo Paulista de Diversidade, do governo do Estado de São Paulo, que certifica boas práticas empresariais como a preocupação e inclusão das temáticas relacionadas às questões étnicas, raciais, de gênero, idade, orientação sexual etc.”
  • A importância das oportunidades
    “Com certeza o setor tem se atualizado. Ainda somos minoria, ainda temos muito território a conquistar, mas é preciso reconhecer que o número de mulheres atuantes tem crescido ano após ano, também em posições de destaque. Acredito que isso se deva, primeiro, à competência das profissionais e à necessidade, reforçada por demandas sociais e legais, que as empresas hoje têm de trabalhar em prol da equidade.”

 

 

 

denise-mar2024

 

 

Denise Fonseca
Diretora-comercial da Glasspeças

  • Trajetória no setor
    “Completo dezenove anos no setor em julho. Estava me desligando de uma instituição financeira e, a convite de uma grande amiga, iniciei minha jornada em uma metalúrgica. Não tinha conhecimento nenhum do mercado vidreiro ou de ferragens, mas sempre fui curiosa e procurava entender qual a finalidade de cada item que vendíamos – não somente a ferragem, mas sua aplicação no vidro. Assim, pouco a pouco, fui absorvendo conteúdo, técnicas e a vasta possibilidade do material. Me encantei e sou vidrada até hoje por nosso segmento.”
  • Preconceito
    “Sofro até hoje, por parte de instaladores e vidraceiros que não confiam nas informações técnicas que me solicitam. É comum eu esclarecer uma questão para alguém e, na sequência, ouvir o telefone do nosso técnico tocar – é a mesma pessoa com a mesma dúvida. Eu sorrio e me preparo para auxiliar o próximo que me chamar.”
  • A importância das oportunidades
    “Assim como em outros mercados, o setor vidreiro tem passado por atualizações e mudanças que incluem maior participação feminina, inclusive em cargos de gestão. Além de uma visão mais detalhista, as mulheres têm trazido condições trabalhistas mais favoráveis, mais aproximação familiar e melhores práticas ambientais.”
  • Visibilidade
    “Criei no mês passado uma página no Instagram, a Divas do Vidro (@divasdovidro). Senti o desejo justamente por poder unir a força feminina e dar voz e destaque a ela. No segmento temos muitas mulheres capazes que se desdobram para dar conta de suas multitarefas de mães, esposas, filhas, amigas e profissionais qualificadas. Desejo ter o apoio do segmento para promover eventos e ações voltados à força feminina do setor.”

 

 

 

jaqueline-mar2024

 

 

Jaqueline Fazolim
Gerente de Projetos e Relacionamento da Fazolim Vidros

  • Trajetória no setor
    “Meu pai teve grande influência em minha decisão de trabalhar com vidro. Ele abriu a nossa empresa em 1990, um ano antes de eu nascer. Tenho muitas lembranças da infância em fábricas de vidro, com meu pai visitando clientes. Em 2009, comecei a atuar no departamento comercial e fui crescendo dentro da empresa até alcançar a posição atual. Pude fazer diversos cursos, participei de feiras nacionais e internacionais, tive o privilégio de trabalhar para um cliente em Nova York. Operar com vidros sempre foi muito dinâmico, e isso sempre me trouxe um sentimento gostoso e anseios por crescimento.”
  • Preconceito
    “Lido com homens o tempo todo, desde o instalador, engenheiro ou investidor das obras, e, quando eles veem uma mulher falando tecnicamente sobre algo relacionado a vidros, é normal receber ‘olhares tortos’ ou perceber que mudam de assunto. Aprendi a não deixar isso me abater. Às vezes levo um homem comigo na equipe só por estratégia, e acabo tocando os assuntos técnicos mais levemente. Mas o mais engraçado é que, às vezes, esse homem não tem conhecimento algum sobre vidro – é só um colega de outro setor ou mesmo meu marido, que não atua no mercado. A figura masculina ainda faz diferença no nosso setor. Já com fornecedores e colaboradores a situação é diferente: existe um respeito muito bacana comigo e com toda a minha equipe técnica, formada por mais de 90% de mulheres.”
  • A importância das oportunidades
    “Isso existe, é real e cansativo, mas tenho visto muitos profissionais homens sem experiência ou falhos, que não se aprofundam nas normas, processos e cometendo muitos erros. Isso abre um campo de trabalho muito grande para nós mulheres, pois já somos mais organizadas e atentas a detalhes por natureza, com um senso de responsabilidade muito grande. Temos tantas mulheres que são a prova viva de que existe espaço para nós. E ainda ouso dizer que, em breve, haverá disputa no mercado vidreiro por profissionais capacitadas para gestão, projetos e tantas outras vagas essenciais.”

 

 

 

rosemari-mar2024

 

 

Rosemari Bremm
Diretora-administrativa-financeira da MaryArt

  • Trajetória no setor
    “Meus pais eram vidraceiros e colocaram em mim a paixão pelo vidro. O segmento ser historicamente dominado pelos homens é algo que sempre ouvimos, mas que me coloca dúvidas, afinal todas as histórias de empresas do setor sempre têm uma mulher junto – o que sou hoje eu aprendi muito mais com minha mãe, um exemplo de gestora. Atuo no mercado há 28 anos. No início, fiz de tudo: vendia, emitia notas, controlava estoque, otimizava, recebia e pagava. O primeiro ano foi difícil, pois trabalhei até o último dia da minha gravidez e retornei ao trabalho dez dias depois. Isso me tornou uma mulher forte e determinada.”
  • Preconceito
    “É algo que está no outro e não em mim. Nunca senti nenhum tipo de discriminação por ser mulher. Penso que isso está em nosso posicionamento: acredito que eu soube me posicionar de uma forma que me fez ser respeitada mesmo sendo a única mulher entre muitos homens em diversas situações. Existem ainda, infelizmente, alguns homens que não perceberam a força da mulher, principalmente no associativismo. Por outro lado, o próprio associativismo identificou muitas mulheres que atuam nas empresas como gestoras e que estão com a caneta na mão.”
  • Desigualdade
    “A desigualdade salarial ainda é uma triste realidade. Porém, isso está mudando. Hoje já temos mulheres ganhando mais que os homens. Nosso setor, por exemplo, na sua grande parte conta com gestão financeira feita por mulheres. Acredito que no ritmo em que estamos em breve a mulher não vai ter de provar mais nada com relação à sua competência.”
  • A importância das oportunidades
    “É uma questão de necessidade, pois acredito que a mulher tem uma visão mais conciliadora, mais sensitiva, e isso abre um leque de possibilidades na busca do desenvolvimento de nosso setor. Fui a primeira mulher a assumir um cargo de presidência de entidade regional e, mesmo na Abravidro, como diretora, eu era a única mulher durante muitos anos. O fato de ter sido precursora incentivou outras mulheres, e essas outras incentivam as próximas. Quem participou do Encontro de Mulheres Vidreiras conseguiu identificar o que nós somos capazes de fazer. As entidades se tornam um trampolim para essas mudanças.”

 

 

 

neide-mar2024

 

 

Neide Torres Gusmão
Diretora-administrativa-financeira da GR Gusmão

  • Trajetória no setor
    “Quando concluí minha carreira profissional na Telefônica, onde atuei por 22 anos, o Yveraldo Gusmão, meu esposo, me convidou para atuar na empresa. E deu muito certo. Na verdade, o setor vidreiro me capturou. Estou efetivamente na Gusmão há catorze anos, tendo acompanhado todas as edições do Simpovidro e da Glass South America, visitado feiras na China, Alemanha, Itália e participado de diversos outros eventos.”
  • Preconceito
    “Acredito que o nosso setor seja particularmente especial, pois é um espaço acolhedor, no qual fiz grandes amigos ao longo dos anos. Sem preconceitos para relatar.”
  • A importância das oportunidades
    “As mulheres estão mundialmente ganhando cada vez mais espaço na questão profissional – e isso inclui o setor vidreiro. Temos várias mulheres à frente de empresas de sucesso. Felizmente, essa é uma tendência que não vai mudar.”

 

 

 

myrian-mar2024

 

 

Myrian Ang
Diretora-executiva da PKO Vidros

  • Trajetória no setor
    “Estou há quinze anos trabalhando no setor. Comecei no departamento de marketing, que é a área da minha formação. Após isso, assumi o departamento comercial e controladoria (financeiro/contabilidade/recursos humanos/tecnologia da informação). A partir de 2020, a empresa passou por um processo de sucessão e governança e, desde então, ocupo o cargo de diretora-executiva.”
  • Preconceito
    “Percebo que, em função do cargo que ocupo, as pessoas que ainda não me conhecem estranham no primeiro contato. Acredito que isso esteja associado ao fato de o setor ser majoritariamente ocupado por profissionais homens. No entanto, nunca fui desrespeitada, pois acredito que colhemos o que plantamos. Eu sou uma pessoa cordial, trabalhadora, respeitosa e esse meu comportamento permite muita conversa e trocas agregadoras acerca de qualquer tema.”
  • A importância das oportunidades
    “Entendo que mulheres enfrentaram e enfrentam muitos desafios para assumir cargos maiores, pois temos não só a responsabilidade da empresa, mas também a da casa e filhos. Isso faz com que o nosso esforço seja maior, embora nos torne mais eficientes e prontas para os desafios. Na PKO, 43% das mulheres estão no papel de gestoras. Temos excelentes profissionais mulheres no setor. Torço para que elas assumam cada vez mais cargos de lideranças, ajudando o mercado a se profissionalizar e se desenvolver.”

 

 

 

esabel-mar2024

 

 

Esabel Szeuczuk
Sócia-administradora do Grupo Metalkit Alumínio

  • Trajetória no setor
    “Estou no setor há mais de 35 anos. Iniciei minha carreira na MaryArt, lugar fundamental para minha carreira, pois lá permaneci durante quinze anos. Nesse período, percebi a necessidade de uma empresa que oferecesse produtos de alumínio de qualidade com atendimento diferenciado. Era hora de colocar a ideia em prática: em abril de 2006 nasceu a Metalkit Alumínio pelas minhas mãos e do meu marido Alex. Atualmente sou responsável pelas áreas de RH, financeira e administrativa.”
  • A importância das oportunidades
    “Sou movida a desafios, gosto de romper barreiras. Sou apaixonada pelo vidro e seus benefícios. O alumínio também entra nessa conta, com leveza e sofisticação, sendo a oportunidade perfeita para empreender, gerando oportunidades para outras mulheres se realizarem nesse segmento.”
  • Visibilidade
    “Vencemos preconceitos, enfrentamos barreiras e inovamos em processos. Hoje a mulher tem espaço garantido no mercado de trabalho. Porém, é preciso continuar se dedicando e gerando mais oportunidades a todas. A mulher pode ser o que ela quiser, basta se preparar e trabalhar duro que o sucesso acontece.”

 

 

 

Mais vagas, mas e o salário?
Apesar de as mulheres estarem mais presentes em segmentos aos quais tinham pouco acesso tempos atrás, existe um tema que ainda se mostra um desafio: a paridade salarial. O levantamento Mulheres no Mercado de Trabalho, da CNI, tenta entender melhor essa e outras questões. Usando como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo revela que, nos últimos dez anos, as mulheres brasileiras estão chegando mais perto de serem remuneradas com o nível de salários recebidos por homens. No período, a paridade salarial cresceu 6,7 pontos, alcançando a marca de 78,7 no ano passado – quanto mais próximo de cem, maior a equidade entre mulheres e homens.

Essa mudança de consciência parte das próprias empresas, as quais, finalmente, parecem entender a falta de lógica em pagar menos a uma mulher para exercer o mesmo cargo de um homem – apenas pelo fato de a profissional ser mulher. Ainda de acordo com a pesquisa, seis em cada dez indústrias contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero. Entre as ações mais usadas, estão políticas que proíbem a discriminação em função de gênero, programas de qualificação voltados para mulheres e licença-maternidade ampliada.

Este texto foi originalmente publicado na edição 615 (março de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: auremar/stock.adobe.com



Newsletter

Cadastre-se aqui para receber nossas newsletters