Vidroplano
Vidroplano

O Vidroplano entrevista Leopoldo Castiella

22/07/2022 - 10h52

No começo de abril, a Cebrace informou ao mercado que o argentino Leopoldo Castiella deixava a diretoria-executiva da usina após 13 anos. Ele tinha assumido o posto de head of Architectural Glass (chefe de Vidro Arquitetônico) SBU Global e senior executive officer (diretor-executivo sênior) do grupo NSG. Presente no Brasil durante a Glass South America, Castiella conversou com exclusividade com O Vidroplano sobre sua jornada no vidro brasileiro. Confira a seguir.

O que apontaria como destaque em sua longa trajetória no setor vidreiro nacional?
Leopoldo Castiella — Foram anos bem-positivos, de muito aprendizado, realizações e projetos levados para a frente. Eu dividiria essa trajetória em alguns períodos. O primeiro é quando cheguei ao Brasil, em 2001. A gente tinha a operação da Blindex, que ainda fazia temperado para arquitetura, e aí decidimos transformar essa operação no sistema de franquias Blindex. Depois, passei a ser responsável pela área comercial da Cebrace. Naquela época, existiam dois agentes comerciais e eu era responsável tanto pelo mercado doméstico como pelo marketing de exportação, do lado da NSG. A gente fez toda a preparação para a introdução do C4. Naquele momento me lembro que, como a participação da empresa no Sul do País era muito baixa, a gente definiu toda uma estratégia para que, quando o forno chegasse, já tivesse uma base na região para consumir esse vidro.

O C4 é de 2004, certo?
LC — Sim, julho de 2004, e logo na sequência veio uma crise – para variar. Sempre que se acende um forno de float aparece uma crise (risos). Em 2005, nós exportamos mais de 200 mil t, mais do que o C4 fabricava. Foi um ano recorde de exportação, chegando a vender automotivo para China, África do Sul, países da América do Sul e até da Europa. Realmente foi algo superinteressante. Consegui aprender muito sobre o mercado internacional. E depois isso me serviu em todos os pleitos no trabalho de defesa comercial do setor.

A terceira etapa é com a Cebrace completamente unificada, com uma única área comercial, todo mundo em Jacareí [interior de São Paulo]. A empresa conseguiu criar outra dinâmica, fizemos mudanças na governança interna que ajudaram a acelerar e a consolidar o projeto. Nessa época, construímos o C5, o reparo e o aumento da capacidade do C1, o coater de Jacareí, a linha jumbo de Caçapava [interior de São Paulo], o centro de distribuição na Bahia e Fortaleza e a linha de laminado em Fortaleza também.

E tive ainda a oportunidade de conduzir a Abividro, como presidente e participando da diretoria. Então, foi toda uma etapa de realizações. Saio satisfeito.

Como é para um latino estar numa posição alta na hierarquia da NSG, uma empresa japonesa com poucos nomes estrangeiros na liderança?
LC — Te confesso que minha adaptação não está sendo muito difícil, pois conheço há muito tempo várias pessoas com quem trabalho hoje. Por outro lado, estou aqui no Brasil fazendo conferência às 2, 3 horas da manhã, coisas que fogem do meu controle. Em muitas dessas reuniões participam pessoas de regiões diferentes, e é muito difícil amarrar todos os fusos horários. Mas está sendo uma experiência bem positiva e desafiadora. Espero contribuir para o grupo como contribuí aqui na América do Sul.

2022 é o Ano Internacional do Vidro. Como essa data pode marcar uma nova relação entre o consumidor e o material?
LC — A gente tem de aproveitar esse momento pra colocar no topo da agenda o tema da sustentabilidade. Qualquer que seja a aplicação, o vidro tem a vantagem de ser totalmente reciclado. Existem objetivos concretos no Grupo NSG para reduções de CO2 até 2030, chegando em 2050 à neutralidade de carbono. Há ainda desafios tecnológicos: usar mais eletricidade nos fornos para consumir menos gás, usar fontes renováveis etc. Em relação a isso, deverão entrar outros combustíveis – e nesse sentido a NSG foi pioneira com testes com hidrogênio recentemente.

Gostaria de deixar um último recado ao setor?
LC — Apenas agradecer a acolhida aqui no Brasil, um lugar que sempre será meu lar.

Este texto foi originalmente publicado na edição 595 (julho de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Crédito da foto de abertura: Marcos Santos e Meryellen Duarte



Newsletter

Cadastre-se aqui para receber nossas newsletters