Vidroplano
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‘A competitividade às escuras precisa se transformar em parceria’

19/06/2017 - 20h11

Empossado em cerimônia realizada no dia 19 de maio, o novo presidente da Abravidro, José Domingos Seixas, assumiu oficialmente o cargo em 1º de junho. Portanto, ele começa a pôr em prática seus planos para os próximos três anos na maior entidade vidreira do Brasil.

A equipe de O Vidroplano conversou com Domingos para conhecê-lo melhor e saber de seus projetos e visão de mercado. “Meu foco principal é unir não apenas processadores e distribuidores, mas também usinas de base e vidraceiros”, comentou. Veja a seguir a íntegra da entrevista.

Para começar, gostaríamos de saber um pouco sobre sua trajetória no setor.
José Domingos Seixas — Nossa empresa completa 92 anos em 2017 — foi fundada pelo meu avô, com o nome de Seixas e Cia. Há doze anos mudamos o nome para Cyberglass e meus sobrinhos Rodrigo e Gláucia já representam a quarta geração no negócio, o que me dá muito orgulho. Trabalho no vidro há 46 anos, iniciei com meu pai, naquela época em que se carregava vidro na mão e se cortava com diamante. Vivenciei toda a mudança de nosso mercado quanto ao acesso à matéria-prima, formação das indústrias de processamento, aumento do consumo de vidro e, agora, esse momento de retração.

Com toda essa experiência, o que o motivou a aceitar o convite para ser o presidente da Abravidro?
_MG_5767Domingos — Foi algo muito pessoal, despertado pela minha aproximação dos sindicatos e também de Alexandre Pestana, pessoa que admiro muito. Eu já admirava o trabalho de seu antecessor, Wilson Farhat Júnior, e quando me aproximei da entidade, vi que era um trabalho tremendamente dedicado, honesto e árduo. A capacidade da Abravidro de contribuir com o desenvolvimento de nosso setor me motivou muito.

Quais são seus principais objetivos como presidente da Abravidro?
Domingos — Meu foco principal é unir não apenas processadores e distribuidores, mas também usinas de base e vidraceiros. Existe uma competitividade às escuras que eu gostaria que se transformasse em parceria. Este é meu maior objetivo: fazer com que essa união promova desenvolvimento do mercado. Afinal, formamos uma cadeia produtiva, em que um elo depende do outro, temos de somar para que todos ganhem.

Você assume a Abravidro em um momento muito difícil do setor. Vimos o consumo de vidro aumentar nos últimos anos, assim como a capacidade instalada em todos os elos da cadeia. No entanto, ocorreu uma queda abrupta da demanda pelo material a partir de 2015. O que o segmento precisa fazer nesse momento de baixa atividade?
Domingos — Ninguém tem a solução para a crise, mas vejo que precisamos nos movimentar e nos mobilizar para viabilizar a nossa atividade apesar da crise. Existe uma política de governo que não está clara, de impostos malcobrados em nosso setor, gerando um desequilíbrio muito grande e estimulando a competição desleal, portanto, essa será uma grande prioridade.

Por outro lado, acredito que a crise não é só econômica — é política e social também e a Abravidro tem muito a contribuir com educação, disseminando conhecimento em várias frentes de trabalho. Estou aqui para representar uma classe e, junto com a diretoria, buscar não apenas uma, mas várias soluções. Vou acompanhar os projetos pessoalmente, mas diante da grande extensão do trabalho da Abravidro, estou dividindo tarefas para que não fique tudo concentrado apenas no presidente. Para isso conto também com nossa nova superintendente Iara Bentes, que em tão pouco tempo já se mostrou capaz e envolvida com a Abravidro.

Sobre a questão tributária no setor vidreiro, que você acaba de mencionar, o que pode ser melhorado?
_MG_6030Domingos — O modelo tributário do vidro plano é um pouco deturpado, sujeito a interpretações que geram competição desleal, dificultam a fiscalização e estimulam a informalidade. O ideal para nossa categoria seria o sistema monofásico, em que todos os impostos seriam recolhidos pelo primeiro elo da cadeira produtiva, logo no fornecimento da matéria-prima. Tentamos por um momento levar isso até Brasília, mas nos deparamos com inviabilidade técnica de implementação. Hoje, estamos pleiteando a equalização do Imposto sobre produtos industrializados (IPI). A ideia é aumentar a alíquota desse imposto na base e reduzir o porcentual na indústria de transformação, estimulando a completa formalização das operações e proporcionando facilidade de controle do mercado. Nesse momento, é nisso que a Abravidro está trabalhando, junto com a Abividro, representante das usinas de base.

Outro ponto relevante é a organização da cadeia produtiva vidreira. No modelo clássico, temos a usina de base fazendo a fusão do vidro e produzindo a matéria-prima. Depois, vem a indústria de transformação e, por fim, seus clientes — vidraceiros, construtoras, indústria automobilística, moveleira e de linha branca. Essa organização, atualmente, não é seguida à risca. Como o senhor vê isso?
Domingos — As usinas de base trataram o mercado de forma deturpada. No passado, elas não tiveram armas suficientes para lidar com a importação de vidro e uma fórmula criada para combater essa importação foi dar poderes a alguns — que se transformaram em grandes distribuidores de nosso produto, meros intermediários que não agregaram valor a essas operações. Isso fez com que os processadores de vidro perdessem poder de negociação, tanto na relação das usinas com o mercado como do próprio mercado com seus clientes. E os negócios se tornaram muito predatórios, ainda mais com a retração do consumo.

A Abravidro tem concentrado energias na divulgação de conteúdo técnico, assim como na formação de novos treinamentos para a cadeia produtiva. Quais serão os planos nesse sentido para seu mandato?
_MG_5767Domingos — Como já coloquei, temos grandes planos ligados à educação. A Abravidro tem feito muita coisa, mas ainda assim está cheia de projetos na gaveta. Nos próximos três anos, temos de colocá-los em prática — são quase noventa iniciativas diferentes a serem levadas adiante. Esse é meu maior objetivo: manter as rotinas e colocar em prática tudo aquilo que já foi planejado. Vamos profissionalizar cada vez mais nosso setor e isso inclui principalmente a participação dos vidraceiros, profissionais fundamentais para essa evolução.

Por falar em vidraceiros, como você enxerga o trabalho deles nos próximos anos?
Domingos — No discurso de posse, mencionei que hoje o vidraceiro está tão técnico e provido do conhecimento de normas que é preciso trazê-lo para perto de nós para discutir práticas e melhores caminhos na utilização do vidro. Penso que, no futuro, aqueles que não tiverem alto nível técnico estarão fora do mercado. Precisamos construir um setor em que não haja espaço para amadorismo em todos os elos da cadeia produtiva.

Que mensagem você deixa para os leitores de ‘O Vidroplano’?
Domingos — A minha mensagem é de colaboração. Farei uma gestão participativa, mantendo a transparência característica da Abravidro e ampliando canais com as empresas associadas. Não são apenas os 23 da diretoria que devem carregar essa classe pra frente, mas, sim, todas as mais de duzentas empresas associadas à Abravidro. Estamos abertos a todos.

Este texto foi originalmente publicado na edição 534 (junho de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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