Vidroplano
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Cada vez mais doméstico

21/08/2018 - 11h02

Existe uma relação grande entre nosso setor e o de linha branca, aquele que produz eletrodomésticos de maior porte, usados no dia a dia das famílias. Faz tempo que o vidro é usado em fogões, claro. No entanto, atualmente, há uma forte tendência de maior aplicação do material, conferindo novas características a esses produtos. Por isso, é importante entender como funciona esse trabalho que se mostra relevante para a cadeia vidreira, ainda mais com a baixa atividade da construção civil.

O Vidroplano conversou com fabricantes, processadores e especialistas do setor vidreiro para trazer detalhes sobre a forma de produção dos vidros usados nos eletrodomésticos e o que os beneficiadores precisam fazer para se adequar às exigências do mercado.

Quais itens da linha branca levam vidro?
O material pode ser aplicado nos seguintes produtos:
– Fogões e fornos (peças internas, tampas e portas);
Cooktops;
– Micro-ondas;
– Coifas;
– Geladeiras residenciais (prateleiras internas, revestimento externo);
– Máquinas de lavar;
– Itens para churrasqueiras.

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Como é o mercado?
Rafael Nandi da Motta, diretor da processadora Vipel, comenta que “é um mercado que exige precisão de produção e logística”, opinião reforçada por João Roberto Musumeci, sócio-gerente da também processadora Diamante Vidros: “Os fabricantes de linha branca têm se tornado cada vez mais atentos em relação à qualidade, prazos de entrega e atendimento pós-venda”.

Para Glória Cardoso, coordenadora de Marketing da Pilkington, nosso material é apenas parte dos inúmeros insumos utilizados pelas montadoras para a fabricação dos eletrodomésticos e, “portanto, passam por um rigoroso processo de controle de qualidade, de modo que seja mínima a tolerância de variabilidade entre as peças”.

Apesar do mau momento econômico brasileiro ainda persistir, esse setor teve alta de 8% no volume de vendas do varejo em 2017 — e a expectativa é de um número ainda melhor em 2018, segundo dados da empresa de estudos de mercado GfK, um dos mais importantes institutos de pesquisa do mundo. Nos cinco primeiros meses deste ano, o mercado de bens duráveis cresceu 6% no faturamento em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda segundo a GfK, o perfil do consumidor final também mudou nos últimos tempos: ele está mais interessado em produtos com atributos tecnológicos ou design diferenciado. É aqui que entra o vidro.

tramontina

Os desafios da produção
“Cada projeto é único e desenvolvido em conjunto com o cliente, atendendo demandas muito específicas. Assim, o ponto chave é conhecer profundamente os aspectos relacionados ao processamento, além das características da montagem e particularidades desse cliente”, explica Evandro Neves, da Saint-Gobain Euroveder Brasil.

O módulo de Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoques, da Especialização Técnica Abravidro, pode oferecer o conhecimento técnico necessário para a adequação da produção. “O treinamento tem foco nas necessidades imediatas das empresas e objetiva proporcionar alto desempenho e excelência a elas”, comenta Cláudio Lúcio, responsável pelo curso.

A seguir, veja algumas das principais práticas a serem seguidas:

COMPETITIVIDADE
Para Flávia Possamai, gerente-comercial da processadora Rohden, é preciso estar atualizada para se habilitar a ser fornecedora. “É primordial que as empresas vidreiras tenham um sistema enxuto de produção, aprimorando sua gestão de processos”, destaca. “O investimento constante em tecnologia de ponta é outro quesito a ser analisado”, indica Hildegard Tres, responsável pela área de desenvolvimento de projetos da beneficiadora Casa do Vidro.

PADRONIZAÇÃO
Essa é a questão mais relevante. Comparando com os vidros para a construção civil, a principal diferença no processamento dos vidros para linha branca está na produção seriada, com grandes lotes de peças padronizadas. Isso aumenta a importância do setor de controle de qualidade e de se seguir os processos corretos em cada etapa do beneficiamento.

TÊMPERA
A empresa precisa ter total domínio desse processo, já que, com frequência, os produtos levam peças finas, de 3 mm de espessura, que precisam de conhecimento técnico específico para sua produção.

SERIGRAFIA
Devem-se controlar a viscosidade e a temperatura de secagem da tinta para melhor resultado.

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Quais são as tendências vigentes?
Nosso material tem cada vez mais espaço em eletrodomésticos. “O vidro vem substituindo outros elementos”, constata Fabrício Flach, gerente-comercial do Grupo Tecnovidro, dono da marca de cooktops e utilidades domésticas Casavitra. Segundo ele, plástico e aço inox estão sendo deixados de lado em prol de maior transparência e durabilidade. Algumas tendências:

– Utilização de vidros de maior valor agregado, como serigrafados ou impressos em cores variadas, refletivos e low-e;
– Preferência por formas mais complexas, incluindo curvas;
– “Um expressívo número de consumidores tem migrado de fogões tradicionais para cooktops e mesas envidraçadas”, comenta Deise Santos, responsável pela linha branca na processadora Multivetro. As cores também influenciam o consumo, segundo a diretora de Vendas e Marketing para Brasil e América do Sul da Schott, Maria Cristina Cardoso. “Os cooktops na cor preta são os preferidos, mas também há a tendência para o lançamento em outros tonalidades, como branca, vermelha e amarela”, declara;
– Acabamento externo em portas de geladeiras.

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Refrigeração: qual a diferença?
A refrigeração comercial (que inclui grandes balcões e geladeiras expositoras usadas em supermercados) é um setor bem próximo ao de linha branca. “As beneficiadoras que atendem um normalmente trabalham com o outro”, explica o instrutor técnico da Abravidro, Cláudio Lúcio da Silva.

O maior diferencial está na larga utilização do low-e, vidro de baixa emissividade que impede a troca de calor entre ambiente frio (interno) e quente (externo), auxiliando na manutenção da temperatura do equipamento. “Como consequência, tem-se menos consumo de energia em refrigeradores com portas de vidro, sejam eles horizontais ou verticais”, destaca Evandro Neves, gerente-comercial da Saint-Gobain Euroveder Brasil.

As necessidades da linha branca
A Tramontina, listada entre as maiores fabricantes nacionais de produtos de utilidade doméstica, aposta no vidro por diversos fatores, como explica Felipe Lazzari, seu diretor-comercial: “O material agrega valor na mistura de elementos, ou seja, sua combinação com o inox, por exemplo, aumenta a variedade de desenhos e possibilidades na hora de decorar a cozinha. Vale destacar ainda o fato de ser um elemento de fácil limpeza”. A relevância para o design das peças é notável. O cooktop Slim Glass Flat 4GG ganhou para a marca dois dos principais prêmios desse ramo do mundo este ano, o If Design Award e o Red Dot Award.

E o que mais a marca deseja de nosso mercado? “A Tramontina espera soluções competitivas em materiais quando o assunto é vidro fabricado no Brasil”, responde Lazzari.

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Norma para vidros da linha branca
A NBR 13866 — Vidro temperado para aparelhos domésticos da linha branca estabelece requisitos e ensaios de avaliação do material destinado a esse mercado.

Ensaios
Semelhantes aos do vidro temperado, mas com diferenças importantes: cada um deve ser feito com corpos de prova em tamanhos e quantidades diferentes.

Requisitos
– Tolerâncias dimensionais (espessura, dimensões lineares e tolerâncias para furos);
– Acabamento de bordas;
– Empenamento, afastamento e abaulamento;
– Aspecto visual;
– Resistência ao choque mecânico;
– Ensaio de fragmentação.

Este texto foi originalmente publicado na edição 548 (agosto de 2018) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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