Vidroplano
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Como atuam os interlayers estruturais?

03/08/2023 - 17h11

Com a revisão da norma de laminados (ABNT NBR 14697) no início do ano, esse tipo de vidro ganhou ainda mais relevância nos debates do setor. Como mostram as últimas edições do Panorama Abravidro, sua produção vem crescendo nos últimos tempos, apontando que a solução está se tornando popular em nosso país. Daí vem a importância de comentar sobre uma variação do material: os vidros laminados feitos com interlayers estruturais. Ao contrário das camadas intermediárias comuns, esses insumos oferecem maior rigidez e segurança extra às aplicações, sendo utilizados em situações que necessitem de maior resistência mecânica e no pós-quebra.

Nas próximas páginas, descubra como atuam os interlayers estruturais, para quais instalações eles são indicados e quais são suas limitações.

Qual a função?
A camada intermediária tradicional faz com que, em caso de quebra, os fragmentos do laminado não se desprendam, mantendo o vão fechado enquanto se aguarda a troca da peça. No entanto, existem aplicações em que o vidro também funciona como parte da própria estrutura da obra. Nesses casos, o material precisa apresentar um desempenho superior em termos de resistência – é aí que entram os interlayers estruturais. “Devido à sua rigidez elevada, laminados estruturais são capazes de suportar cargas maiores de esforço mecânico utilizando a mesma espessura de um laminado comum – e a espessura pode até ser reduzida para atingir igual resistência na comparação com interlayers convencionais”, explica Douglas Alves, especialista técnico da Eastman para a América Latina (fabricante do produto Saflex Structural). A conta é simples: maior resistência mecânica significa mais segurança para as pessoas nos locais em que o material está instalado.

Alguns tipos de interlayer estrutural podem chegar a uma rigidez muito maior que a de um PVB comum. “Além disso, são menos vulneráveis à umidade e oferecem maior claridade nas bordas”, comenta Marcos Aceti, coordenador de Vendas Técnicas AIS da Kuraray, dona da marca Trosifol.

Onde usar
Nem todo laminado precisa de interlayer estrutural – afinal, o laminado já é um vidro de segurança. Esse tipo de camada intermediária é recomendado quando os esforços mecânicos são aplicados no próprio vidro. “Diversas soluções podem se encaixar nesse uso, como fachadas, coberturas, pisos, escadas, guarda-corpos, portas e janelas, entre outros. São projetos que exigem alto nível de segurança e resistência, tornando o interlayer estrutural essencial”, orienta Sergio Permanyer Bueno, gerente de Marketing e Comunicações da espanhola Pujol (dona da marca Evalam).

Para entender melhor, é importante diferenciar o conceito “estrutural”:

  • O fechamento com sistema estrutural (peles de vidro, sistemas encaixilhados) coloca nosso material como parte de um todo. É composto por vidros cuja espessura e resistência suportem as cargas às quais serão submetidos (como o vento);
  • Já o vidro estrutural é outra coisa: a resistência, redundância do sistema e desempenho pós-quebra dependem diretamente da composição do vidro – e, para isso, uma camada intermediária estrutural é usada.

“Conhecendo as principais características desses interlayers, suas aplicações mais necessárias são para vidros que não têm pelo menos dois lados fixos ou engastados mecanicamente”, indica Ângelo Arruda, diretor da Vidrosistemas. Um exemplo disso são guarda-corpos fixados pela base e com borda exposta: em caso de quebra, o laminado com interlayer comum se dobraria como um tapete. Para instalações com sistema spider, a versão estrutural do insumo também é indicada, pois o silicone de vedação não suporta o peso em caso de quebra de uma das lâminas de vidro.

Felipe Aceto, diretor-operacional da Avec Design, reforça que projetos de fachadas, coberturas e janelas podem necessitar desse tipo de interlayer quando expostos a climas severos, como ciclones, ou quando projetados para resistir a cargas acidentais atípicas. “Pisos, vigas e colunas envidraçadas também requerem o produto, pois ele desempenhará um papel fundamental no aumento da capacidade de carga e na resistência a impactos”, alerta.

Vale anotar esta dica: o uso do interlayer estrutural tem de ser avaliado conforme a necessidade do projeto, até porque nenhuma norma prescreve especificações para seu uso. Além disso, ele impacta nos custos da obra e, em muitos casos, o laminado convencional já consegue atender os requisitos da aplicação. Por isso, a especificação precisa ser sempre acompanhada por um consultor especialista em estruturas com nosso material.

Crédito: Divulgação Eastman

Crédito: Divulgação Eastman

 

Cuidados no processamento
Todo o processo de beneficiamento de um laminado estrutural é semelhante ao do comum – seja em autoclave ou forno.

Por outro lado, alguns cuidados especiais são necessários. “É altamente recomendado que sejam feitos testes de rotina para o controle da qualidade, incluindo, no mínimo, medidas de adesão por meio do chamado ‘teste de Pummel’ e das propriedades ópticas, como opacidade e transmissão”, aponta Marcos Aceti, da Kuraray. Os cuidados para armazenamento devem ser redobrados, de forma a controlar o nível de umidade – afinal, ela afeta diretamente a qualidade de adesão, podendo causar delaminação precoce.

Existem restrições ao uso?
Apesar da superioridade em relação aos interlayers comuns, os estruturais contam com certas especificidades que, se não forem avaliadas, farão com que seu desempenho caia consideravelmente. Esses impedimentos variam de acordo com o tipo de interlayer estrutural, disponíveis no mercado brasileiro nas versões:

  • Polivinil butiral (PVB);
  • Ionoplástico;
  • Etileno acetato de vinil (EVA) com polímero.

Consultar as fabricantes no momento da especificação ajudará a sanar dúvidas sobre o assunto.

Em relação à aplicação com borda exposta, a estabilidade dessas camadas é muito superior à do PVB comum, desde que o sistema de instalação tenha drenagem adequada e não permita que a água entre em contato de forma permanente ou por um período prolongado – isso vale para os de PVB e ionoplástico. Em piscinas de borda infinita, por exemplo, é necessária a utilização de selante ou silicone de cura neutra em toda a extensão da borda do vidro exposta.

Além da água, altas temperaturas também afetam o desempenho de todos os interlayers estruturais, independentemente da marca ou matéria-prima usada: segundo as fabricantes consultadas, quando instalados em um ambiente com temperaturas que atinjam determinados níveis, eles perdem as propriedades estruturais e passam a atuar como interlayers comuns. “É importante destacar que, mesmo em temperaturas acima de 40 °C, o laminado com nosso produto, o Saflex Structural (DG XC), continua atuando como laminado de segurança e tenderá a manter os fragmentos de vidro aderidos a si após a quebra, mesmo expostos à água ou a outras condições climáticas”, ressalta Douglas Alves, da Eastman, fazendo referência a seu produto de PVB. Os ionoplásticos, por sua vez, perdem a eficiência estrutural em uma faixa de temperatura mais alta, em 50º C, de acordo com a Kuraray. Os de EVA com polímero também alcançam 50º C, conforme indica a Pujol.

Dessa forma, em aplicações nas quais a camada estrutural está suscetível às altas temperaturas no ambiente, recomenda-se a fixação em duas ou mais bordas, para garantir a integridade do sistema.

Um planejamento cuidadoso é essencial para garantir o desempenho adequado do sistema ao especificar e instalar vidros com interlayer estrutural. Conforme explica Felipe Aceto, da Avec Design, deve ser dada muita atenção aos seguintes fatores:

  • A compatibilidade com outros tipos de camada intermediária, como as estéticas, acústicas ou de controle solar, precisa ser cuidadosamente avaliada;
  • Variações de temperatura, exposição ao Sol, umidade e vento devem ser considerados durante a instalação;
  • Recomenda-se proteger as bordas, sempre que possível, para evitar danos.

O que dizem as normas
ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações: determina em quais aplicações o laminado de segurança deve ser utilizado, sem restrição quanto ao tipo de interlayer usado em sua composição;

ABNT NBR 14697 – Vidros laminados: estabelece critérios para determinação e classificação dos vidros laminados de segurança, sejam eles com ou sem interlayer estrutural;

ABNT NBR 14718 – Esquadrias – Guarda-corpos para edificações: estabelece níveis de resistência ao impacto e de deflexão que essas estruturas devem apresentar sob determinadas condições de esforços mecânicos.

 

Crédito: xiscomonserrat/ Pujol

Crédito: xiscomonserrat/ Pujol


Soluções disponíveis no mercado

EASTMAN
Saflex Structural (DG XC)

  • Com composição de PVB, oferece flexibilidade para processadores acostumados a processar interlayers comuns e também para arquitetos e designers, uma vez que é adequado para todas as aplicações em que o PVB é usado;
  • Pode ser combinado com outros produtos da linha de arquitetura Saflex, como PVB acústico, solar e os coloridos da linha Vanceva.

 

KURARAY
SentryGlas*

  • Feito de ionoplástico, oferece desempenho estrutural até 50º C, com aplicações de borda exposta;
  • Cinco vezes mais resistente que interlayers comuns, é menos vulnerável à exposição das intempéries.
    * No momento da publicação desta reportagem, há falta do produto no mercado

 

Trosifol Extra Stiff

  • PVB estrutural indicado somente para aplicações internas;
  • Possui desempenho estrutural em ambientes com temperatura de até 30º C.

 

PUJOL
AB-AR

  • Feito de uma composição de EVA e polímero, garante boa estabilidade pós-quebra;
  • Dispensa cuidados especiais relacionados à temperatura e umidade durante o armazenamento e processamento.

Este texto foi originalmente publicado na edição 607 (julho de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: jovannig/stock.adobe.com



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