Vidroplano
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Rafael Ribeiro concede entrevista para O Vidroplano

22/06/2023 - 21h56

Desde o dia 1º deste mês, a Abravidro está sob nova direção: Rafael Ribeiro assumiu oficialmente a presidência da entidade no lugar de José Domingos Seixas. Diretor da processadora gaúcha Vidrobox e atual presidente do Sindividros-RS, o novo dirigente vem de uma família com imensa tradição no associativismo vidreiro (seu pai, Gilberto Ribeiro, foi presidente da Abravidro de 1999 a 2002).

Poucos dias após começar a tarefa de liderar a entidade, Rafael foi entrevistado pela editora de O Vidroplano, Iara Bentes. Na conversa, ele detalha a responsabilidade do cargo, revela como enxerga a atual composição do mercado e reflete a respeito dos desafios que encontrará em sua gestão.

Qual o sentimento de assumir a presidência da Abravidro?
Rafael Ribeiro — O primeiro sentimento, realmente, é o de responsabilidade. No período de atuação do meu pai na Abravidro, ele sempre dividiu comigo suas opiniões relativas à política empresarial. Como acompanhei isso desde sempre, é natural seguir esse caminho que ele já trilhou.

E qual o tamanho da responsabilidade de gerir uma entidade do porte da Abravidro, uma associação nacional com mais de trinta anos de história?
RR — É enorme, do tamanho da entidade, pois representa um país inteiro. É a entidade com maior representatividade em nosso segmento, principalmente após a gestão vencedora do presidente [José] Domingos [Seixas]. Então, realmente é uma responsabilidade enorme — e vou me esforçar ao máximo para dar sequência ao trabalho que veio sendo realizado pelos presidentes anteriores.

Levando em conta que você já está há alguns anos à frente também do Sindividros-RS, como enxerga o associativismo no setor vidreiro nacional?
RR — Sim, presido o Sindividros-RS há três gestões, sete anos, e nas gestões anteriores já participei da composição da diretoria. Entendo que o associativismo é um processo indispensável. E a porta de entrada para uma participação associativa são as entidades regionais, sejam sindicatos ou associações. É nesse espaço que se discutem as diretrizes e o futuro do setor, pois você está debatendo com pessoas diretamente interessadas no desenvolvimento do seu mercado.

Mas ainda vejo como pequena essa participação. Existem alguns Estados mais expoentes, como o Paraná, mas há regiões como o Nordeste e Norte quase sem representatividade. Por isso, temos de evoluir muito nesse sentido.

 

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O setor vem de tempos um tanto complicados. Tivemos a pandemia que, apesar da tragédia humana, trouxe resultados positivos para a construção civil, embora o bom momento já tenha passado. E os resultados do Panorama Abravidro referentes ao ano passado mostram uma performance fraca, com queda em todos os indicadores – produtividade, produção, faturamento. Como você vê o mercado vidreiro neste momento?
RR — Eu fico um pouco preocupado porque vejo os elos da nossa cadeia atuando de forma independente, no “salve-se quem puder”. Não enxergo um trabalho direcionado, e acho que isso não é saudável. Temos no Brasil, iniciando pela indústria de base, grandes multinacionais com investimentos altíssimos aqui e na América do Sul, mas o nosso país é o local de maior foco desses grupos em razão de seu tamanho e desenvolvimento. Isso é uma responsabilidade para nós, pois eles estão apostando no País e, de certa forma, não podemos deixar que percam esse interesse, até porque a nossa cadeia já está vinculada ao fornecimento desses entes.

Então, vejo que não há essa coordenação, essa ligação mais próxima entre os elos: usina, distribuidor, processador e revendedor. Tenho essa preocupação e entendo que deveríamos ter uma maior aproximação.

Você acha que a aproximação dos elos é um dos principais desafios da sua gestão?
RR — Com certeza. O primeiro seria essa instabilidade pós-pandemia. Como você apontou, num primeiro momento a pandemia trouxe bons frutos para o segmento, principalmente vinculados à arquitetura e construção, com grandes investimentos residenciais em 2020, 2021 e, de certo modo, em 2022. Mas do segundo semestre do ano passado para cá, a gente vem enfrentando uma ressaca que fragilizou bastante o segmento vidreiro, principalmente no primeiro semestre de 2023. Em razão disso, a aproximação dos elos da cadeia precisará de muita atenção da Abravidro, buscando sempre o desenvolvimento do setor vidreiro e o aumento do consumo do produto.

Quais outros desafios você imagina que haverá nesse período?
RR — Eu vejo a necessidade de um debate tributário em nosso setor, em que pese a definição tributária ser de competência dos entes formalmente constituídos para isso. Podemos realmente tentar interferir nesse processo com a experiência que nós temos. Com a mudança de governo, a gente vê aí uma certa janela. Acredito que atuação nesse sentido será indispensável para tentarmos equilibrar um pouquinho mais o mercado.

Você já tem em mente projetos que gostaria de realizar ao longo de sua gestão?
RR — O primeiro realmente seria o debate tributário. Isso eu venho trazendo já há algum tempo, avaliar se é possível avançarmos no sentido de ter uma tributação mais equilibrada. O segundo seria aproximar mais a Abravidro do mercado. Buscar um aumento no número de associados e promover o associativismo também no Nordeste do País.

Você tem alguma preocupação em relação a como a cadeia vidreira se organiza atualmente?
RR — Eu vejo surgirem operações de distribuição entre os elos. Como pode passar a existir um distribuidor em uma operação na qual a venda direta já estava com margens espremidas? Só a “flexibilidade tributária” permite tal situação. Essa é a minha grande preocupação nesse sentido, da organização da cadeia – e um debate sobre a questão tributária é indispensável nessa questão.

A divulgação de conteúdo técnico, principalmente relacionado às normas técnicas vidreiras, é uma das maiores bandeiras da Abravidro. Temos a conformidade técnica como um norte, afinal a entidade é sede do ABNT/CB-37 e atua fortemente na divulgação, atualização e desenvolvimento das normas. Isso vai continuar sendo um dos focos na sua gestão?
RR — Com certeza. A Abravidro tem protagonismo nesse processo, entendo que o segmento não pode perder o domínio na definição do direcionamento das normas de acordo com seus interesses. Temos as próprias usinas de base que trazem as experiências de fora do País, com seu pessoal técnico que contribui bastante para o processo. A Abravidro não pode perder esse protagonismo.

 

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Outro desafio trilhado ao longo dos anos é a importância de estabelecer uma cultura de dados no setor vidreiro. A Abravidro tem duas contribuições importantes nesse sentido: o Panorama Abravidro, estudo com mais de uma década de existência, trazendo um retrato anual da performance do setor, e o Termômetro Abravidro, esse com periodicidade mensal e com o objetivo de medir a temperatura do mercado. Qual a importância desse tipo de dado para a gestão das empresas, para as entidades e para o setor como um todo?
RR — Qualquer administrador sabe que a gestão de dados é indispensável para o direcionamento estratégico do negócio. Penso que devemos continuar o trabalho realizado para a divulgação dos dois estudos, e entendo que as entidades regionais têm um papel fundamental no processo. A aproximação da Abravidro com o mercado pode vir a trazer bons benefícios nesse sentido. À medida que o mercado todo entender a importância dessas informações e a seriedade com a qual a Abravidro trata esses projetos, de forma sigilosa, acredito que os empresários irão participar cada vez mais, trazendo números mais robustos e seguros para a avaliação de como está indo o segmento vidreiro em nível nacional.

Você tem alguma mensagem para seus colegas do setor vidreiro?
RR — Em primeiro lugar, prudência é a palavra da vez. Estamos passando por um momento delicado de redução de consumo, então é preciso que o empresário tenha prudência tanto nas questões financeiras, de investimentos e de gastos, como nas tributárias. Em segundo lugar, gostaria de deixar uma mensagem de otimismo. O consumo do vidro sempre foi cíclico, teve seus altos e baixos em diversos momentos da história, mas nunca parou! É um material que, pelo menos até a época atual, jamais foi substituído. Portanto, devemos manter o otimismo em nossa atuação, pois em algum momento o mercado vai virar, a roda vai voltar a girar rápido novamente e precisamos “estar vivos” nos negócios para seguir produzindo e, se possível, crescendo.

Este texto foi originalmente publicado na edição 606 (junho de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Créditos das fotos: Marcos Santos



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