A busca por uma operação mais eficiente, que permita aumentar a produtividade, minimizar desperdícios e otimizar processos, é fundamental para qualquer beneficiadora. As linhas integradas para processamento são uma boa forma de alcançar esse objetivo – mas é importante saber como projetá-las e montá-las de acordo com as especificidades da sua empresa.
Em 2016, uma reportagem especial de O Vidroplano apresentou as linhas integradas de algumas grandes processadoras no País na visão de quem as utilizava; desta vez, a revista traz fabricantes e comerciantes de máquinas para explicar, entre outras coisas, como são feitas a automação e a integração entre todas as partes dessas linhas – e também se é possível aproveitar os equipamentos de que a empresa já dispõe para a montagem delas.
Definição
Diretor da Lisec Sudamerica, Luiz Garcia define uma linha integrada: é uma linha automatizada cuja principal característica é dispensar a necessidade de mão de obra para transferir os vidros entre os diferentes tipos de processo.
As etapas contempladas por essas linhas, segundo Ricardo Costa, diretor-comercial da GlassParts, podem incluir:
- Corte, com mesas automáticas e sistema de armazenagem integradas;
- Lapidação, em lapidadoras retilíneas e bilaterais;
- Furação, por meio de furadeiras CNC;
- Lavagem, com lavadoras verticais e horizontais de alto desempenho;
- Têmpera, em fornos com sistema de bandejas para carregamento automático.
Dessa forma, uma linha integrada funciona como uma cadeia produtiva interligada, que pode abranger do fornecimento da matéria-prima à embalagem do produto final. “Cada equipamento executa uma etapa, e todos estão conectados física e logicamente para garantir eficiência e controle”, explica Jones Hahn, CEO da NEX Soluções Inteligentes.
Pensando no produto a ser beneficiado
Dependendo das particularidades da beneficiadora, as linhas podem ser montadas com diferentes equipamentos ao longo do processo produtivo. O tipo de produção da empresa também precisa ser levado em conta na hora de planejar a linha automática. “Não existe uma solução única para todas as empresas: cada uma escolhe o tipo de equipamento para automatizar conforme as necessidades que tem. Por exemplo, como regra geral, as beneficiadoras que trabalham com vidros para a construção deverão escolher máquinas mais flexíveis com setups automáticos”, indica Ricardo Mello, Area Manager da Biesse. “Já aquelas que trabalham com lotes grandes, para atender a linha automotiva ou a linha branca, precisam de máquinas de alta produtividade, como bilaterais e de controles numéricos horizontais, segundo a qualidade de acabamento para cumprir com as normas daquele segmento específico em que atuam.”
“Quanto mais padronizado o produto, a integração entre linhas se torna mais fácil, uma vez que há menos variáveis, como as dimensões no processo; dessa forma, vidros com tamanhos padrões têm maior ganho de cadência na produção”, observa Gustavo Gonçalves de Carvalho, gerente de Vendas e Pós-Vendas da Bottero do Brasil. Ricardo Costa, da GlassParts, complementa: “A integração na produção de vidros padronizados, como para a linha branca ou painéis solares, é menos complexa do que para a construção civil, devido à variedade de medidas e recortes – as diferenças entre essas linhas estão na personalização dos equipamentos, na agilidade do processo e na tecnologia empregada, como automação e integração”.
Benefícios para as processadoras
Como o próprio nome diz, essas linhas contam com a automação das atividades na empresa – o que pode resolver um dos grandes problemas atuais no segmento industrial. “Em momentos como os atuais, quando estamos enfrentando dificuldades como a falta de mão de obra, a possibilidade de automatizar os processos, mitigando a necessidade da intervenção humana no processo, é o principal ganho”, comenta Gustavo Carvalho, da Bottero.
Jones Hahn, da NEX, lista vários outros benefícios que o conceito traz para as indústrias vidreiras:
- Aumento na produtividade;
- Redução de erros e retrabalhos;
- Padronização da qualidade;
- Otimização da mão de obra;
- Fácil rastreamento e controle de produção;
- Melhor uso do espaço físico;
- Flexibilidade de produção;
- Dados produtivos em tempo real.
Montagem da linha integrada
“O processo de criação de uma linha integrada ou automação com fluxo de dados inicia-se a partir de vários estudos do processo fabril, equipamentos e o desejo do investidor”, explica Hahn, da NEX. “Um escopo do projeto é preparado juntamente com uma ideia do investimento para que o empresário possa tomar a decisão de dar sequência ao projeto.”
Esse investimento significa descartar todos os maquinários da empresa por máquinas novas? Não necessariamente. Segundo Ricardo Costa, da GlassParts, a montagem da linha pode ser feita de duas formas:
a. Criação do zero, com a substituição completa do maquinário para uma linha totalmente automatizada;
b. Aproveitamento de máquinas existentes, com a integração de equipamentos já presentes na fábrica com novas tecnologias para otimizar o fluxo de produção. “Essa alternativa demanda a realização de mais estudos, pois os equipamentos precisam ter compatibilidade para que a produção desejada seja possível”, ressalta.
Vale apontar que, entre essas duas opções, aquela que envolve menos custos para a beneficiadora nem sempre é a mesma. “Alinhar expectativas com os gestores das empresas que desejam investir é muito importante, dado que a automação pode custar tanto o valor das próprias máquinas ou até mais”, alerta Ricardo Mello, da Biesse. “Outro ponto importante a considerar é que a automação precisa de espaço: os sortings de pré-processo, armazéns automáticos de vidros entre atividades, servem para decidir se o vidro vai para o processo A ou B; esse sorting em linhas jumbo pode ocupar até 24 m de comprimento entre as máquinas a serem integradas.”
Integração entre diferentes marcas: é possível?
E se as máquinas adquiridas por um processador não foram fabricadas pela mesma empresa? É possível ter equipamentos de diferentes fabricantes em uma mesma linha integrada? Isso dependerá de cada empresa e dos programas responsáveis pela automatização e integração dos processos – a seguir, cada fabricante consultada para esta reportagem responde à pergunta:
- Ricardo Mello, da Biesse: “Nossas máquinas podem, sim, ser integradas com outras existentes na empresa dos clientes, com algumas exceções. A principal limitação é a impossibilidade de interligar as máquinas existentes em operação, porque elas foram originalmente adquiridas para trabalhar de forma individual. Em relação ao software, as máquinas da Biesse podem ser integradas ao sistema ERP de clientes e a softwares de terceiros específicos predispostos para automação; a maioria deles precisa de transfer files [arquivos de transferência] para trocar informações entre os sistemas de software de gestão de fábrica com as máquinas. As máquinas da Biesse incluem software de CAD/CAM e importação de desenhos DXF, assim como automação com ERP com diversos programas de gestão de fábricas tanto internacionais como brasileiros”.
- Gustavo Gonçalves de Carvalho, da Bottero: “Sim, é totalmente possível integrar nossas máquinas com as de outros fabricantes. Para essa realidade, os departamentos técnicos de ambas as partes devem fornecer os projetos necessários para a comunicação entre si. Hoje, essa realidade é bem comum”.
- Ricardo Costa, da GlassParts: “É possível, mas isso irá demandar estudos para analisar a compatibilidade dos equipamentos. A GlassParts trabalha com grandes players como Enkong e Yinrui, com larga experiência nesse tipo de integração, que são fabricantes de grande relevância no mercado com expressividade na indústria chinesa e asiática, e pode integrar máquinas de diferentes marcas”.
- Luiz Garcia, da Lisec: “Sem dúvidas, nossas máquinas podem ser combinadas com as de outros fabricantes em uma linha integrada – nesse caso, a única necessidade que não pode ser eliminada é que o software usado para comandar toda a etapa produtiva da linha precisa ser da Lisec”.
- Jones Hahn, da NEX: “O ERP da MAC [fabricante de máquinas representada pela NEX no Brasil] pode ser integrado com outras marcas de equipamentos, e a NEX garante a possibilidade dessa integração por parte da MAC. Porém, pode haver algumas dificuldades por parte dos outros fabricantes para disponibilizar as informações para a integração ou cobrarão muito caro a customização para integração; nesse caso, aplicamos outras técnicas para que a integração seja feita sem necessidade dessas informações e sem atrapalhar o bom uso desse equipamento. É possível também fazer qualquer reprogramação e construção de um novo software. Porém, a NEX recomenda que isso seja sempre feito diretamente com o fabricante do equipamento a ser reprogramado, pois ele já tem todo o conhecimento da estrutura que ele mesmo construiu”.
Por fim, nunca é demais lembrar, todo o trabalho de projeto e montagem de uma linha integrada deve ser feito por um profissional especializado para que não haja solução de continuidade. “Quando um processo depende do outro para continuar o trabalho, a falta de funcionamento de uma parte pode gerar a interrupção total ou parcial do trabalho”, ressalta Gustavo Carvalho, da Bottero. Jones Hahn concorda: “O que parece tão simples pode ser um investimento desastroso; por isso, nossa orientação a todos os beneficiadores é que escolham acima de tudo alguém que conheça o que está fazendo e que seja um parceiro fiel, pois um sistema mal-instalado ou sem respaldo se torna uma terrível dor de cabeça, como observamos em vários parceiros que já tentaram a automação”.
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