Luiz Barbosa e Silvio Carvalho comentam versão atualizada da ABNT NBR 7199

Entrevista no VidroCast explica que a atualização da norma representa um grande avanço para a segurança das pessoas
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Luiz Barbosa e Silvio Carvalho comentam versão atualizada da ABNT NBR 7199

Já que o principal assunto desta edição é a atualização da norma técnica vidreira mais importante, a ABNT NBR 7199 — Aplicações de vidros na construção civil – Requisitos, a seção “Opinião” também traz o tema. Luiz Barbosa, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Vivix e coordenador da comissão de estudos responsável pela atualização da norma, e Silvio Carvalho, gerente técnico da Abravidro, foram entrevistados por Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, no VidroCast. Eles comentaram a importância do novo texto e explicaram algumas das mudanças realizadas. Leia alguns destaques dessa conversa a seguir – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.

Para começar, como funciona uma comissão de estudos de uma norma, seja para criar um documento novo, revisar ou fazer uma emenda?

Silvio Carvalho – Esse trabalho sempre começa em cima de uma demanda, que pode ser identificada por nós ou chegar pela sociedade ou pelo setor de alguma forma – no caso da ABNT NBR 7199, a gente identificou essa necessidade de trazer algumas melhorias e abriu esse trabalho, reunindo os interessados para contribuir. Após chegar a um consenso entre todas as partes envolvidas em relação ao texto produzido, ele é então enviado para a consulta nacional, por um período de trinta dias; em seguida, o documento volta para o comitê e, dependendo dos votos que a gente recebe, decide-se se o texto seguirá direto para a publicação ou se há necessidade de se fazer uma análise desses votos.

Se a gente pudesse resumir, em poucas palavras, o objetivo dessa atualização da ABNT NBR 7199, quais seriam?

Luiz Barbosa – Aumentar a segurança das aplicações, principalmente para as pessoas, para o consumidor final. Melhorar essa relação das pessoas com o vidro é fundamental.

Qual foi a importância da participação dos diversos elos da nossa cadeia e também dos setores da construção e das esquadrias para um trabalho desse porte?

LB – Primeiro, são as visões diferentes, porque nós do vidro muitas vezes não temos acesso a uma visão mais ampla. Então, ter a participação da construção civil traz um olhar diferente para coisas que a gente, de repente, não tinha percebido. Segundo, a representatividade: quando a gente publica uma norma atualizada, sabendo que todos os elos participaram, eu fico satisfeito em saber que todos ali foram representados, e que a gente está colocando algo que foi realmente um consenso.

“Um dos cuidados que tivemos foi desenvolver normas mais acadêmicas, de mais fácil acesso e compreensão para os diferentes públicos que atuam no setor.”
Luiz Barbosa

Luiz, você tem coordenado as comissões de vários projetos, como a revisão da norma para vidros temperados atualmente em consulta nacional e o projeto de norma de envidraçamento amigável aos pássaros. Como foi ser o coordenador do trabalho com a ABNT NBR 7199? Essa publicação tem um gostinho especial?

LB – Sim, porque é a principal norma do setor. Foi uma responsabilidade muito grande. Quando foi chegando o momento, teve ali um friozinho na barriga; eu sabia que precisaria ter muita frieza e muita calma para tocar essa norma – minha maior preocupação era que em algum momento nós, ou a ABNT, percebêssemos que esse não seria o momento, que o mercado não estivesse maduro para seguir com essa atualização. Mas foi muito bom, cresci muito, aprendi muito nesse processo.

Silvio, você gerencia a área técnica da Abravidro há muitos anos – e, desde 1998, somos a entidade responsável pelo desenvolvimento e atualização das normas para o setor de vidros planos pelo ABNT/CB-37, que é sediado na associação. Qual é a importância desse trabalho para o mercado brasileiro?

SC – Na Abravidro, a conformidade técnica é uma bandeira antiga que sempre foi defendida. Entrei na entidade em 2003: são 22 anos de trabalhos dedicados a isso. Então, ver essa norma publicada, depois de todo o trabalho envolvido nesse período, envolvendo tanta gente, com as mudanças que a gente conseguiu, é muito gratificante. Acho que foi um avanço muito grande para a segurança das pessoas, com a evolução das regras que tragam essa segurança. A gente fala que o vidro é seguro, desde que seja utilizado corretamente.

Aproveito para agradecer ao Luiz por ter aceitado esse desafio frente à coordenação da comissão de estudo, frente a discussões tão intensas que a gente teve; à equipe que trabalha comigo na Abravidro, como a Clélia [Bassetto, analista de Normalização] e a Vera [Andrade, coordenadora técnica], que se dedicaram muito junto comigo para trazer o máximo de informação para ajudar a comissão a construir o resultado a que a gente chegou; e, obviamente, a todos que participaram das reuniões, cada um contribuindo com seu conhecimento, dispondo-se a estar ali participando.

Vamos falar agora sobre o que mudou na prática: para começar, já que a gente estava falando de segurança, por que o vidro aramado deixou de ser um vidro de segurança?

SC – O vidro aramado é um produto que já é pouco utilizado no Brasil – e, nessa pesquisa que fizemos, a gente percebeu que em outros países ele já não é mais considerado um vidro de segurança: ele permitiu que acidentes ocorressem, não podemos aceitar isso. Tendo conhecimento dessa informação, fizemos essa mudança para deixar de considerá-lo um vidro de segurança aqui – mas ele ainda pode ser utilizado onde não seja exigido um vidro de segurança.

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“A atualização da ABNT NBR 7199 foi um avanço muito grande, com a evolução das regras que tragam segurança para as pessoas: o vidro é seguro, desde que utilizado corretamente.”
Silvio Carvalho

Outra novidade é que a norma ganhou novas ilustrações que mostram de forma mais clara as recomendações do texto. Qual é a relevância de a gente literalmente desenhar para as pessoas entenderem o que está escrito no texto?

LB – Eu comecei na coordenação do ABNT/CB-37 com a norma para vidros laminados, em 2017. Algumas das normas para o setor vidreiro foram desenvolvidas por engenheiros, como eu, que muitas vezes escrevem de uma forma que só eles entendem. Então, um dos cuidados que eu tive foi que a gente tivesse normas mais acadêmicas, de mais fácil acesso e compreensão para os diferentes públicos que atuam no setor. Esses desenhos e ilustrações contribuem para isso, para que todos – desde um engenheiro até alguém que não tem essa formação que está começando agora, como um vidraceiro ainda jovem no setor – consigam entender o que o texto e o desenho que ali estão querem dizer, para que executem trabalho deles da melhor forma possível. Além disso, eles também reduzem a possibilidade de outras interpretações, eliminando a subjetividade.

Que outros destaques da nova versão da ABNT NBR 7199 vocês apontariam como fundamentais?

SC – Há a flexibilização no caso do insulado, permitindo que outros tipos de vidros possam ser utilizados na sua composição, agregou bastante à norma. Somada a isso, está a tabela que trata dos tipos de vidro que podem ser usados em cada aplicação; eu diria que ela é o “coração da norma”: a gente remodelou essa tabela seguindo o que já tínhamos feito com a tabela Que Vidro Usar?, então a gente trouxe isso para dentro da norma e sabemos o quanto ela contribuiu para facilitar o entendimento. Assim, esse também foi um avanço muito grande, pois qualquer pessoa que conferir essa tabela vai conseguir saber para tal aplicação qual tipo de vidro que eu posso utilizar, incluindo aqueles que só podem levar vidros de segurança, como no caso de muros, vitrines e divisórias.

Há também o caso das escadas: qualquer vidro abaixo de um metro e meio de altura próximo à escada obrigatoriamente tem que ser de segurança; esse foi um caso em que a gente colocou uma ilustração junto para ficar mais claro. Esse também é o caso das portas: não só as portas de vidro só podem levar peças de segurança, mas também todos os vidros instalados nas áreas adjacentes a até 600 mm nas laterais da porta – essa orientação também é acompanhada por uma ilustração para facilitar o entendimento.

“Infelizmente, o acidente em Caxias do Sul não é o primeiro que a gente vê, causado por quem tenta reduzir o custo do vidro nas obras, tratando-o como se ele fosse apenas um ‘tapa-buraco’.”
Luiz Barbosa

Quando essas diretrizes da versão atualizada da norma começam a valer efetivamente?

SC – A gente tem um prazo que foi definido na norma, em comum acordo com toda a comissão, de 180 dias a partir da publicação da versão atualizada da ABNT NBR 7199. Durante esses 180 dias, ainda podem ser protocolados novos projetos considerando as regras da versão antiga de 2016. Após esse período, eles terão de ser protocolados seguindo obrigatoriamente a nova versão da norma – mas claro, quem já quiser seguir a nova versão antes do fim desse período pode fazer isso, evoluindo na segurança antecipadamente.

Recentemente, ocorreu uma tragédia envolvendo vidro mal-especificado em Caxias do Sul (RS). Será que, a partir de um acontecimento terrível como esse, mais profissionais do nosso setor e da construção civil vão estar mais atentos para a necessidade de seguir a norma?

LB – Espero que sim, Iara; estamos nessa jornada já faz um bom tempo e, infelizmente, esse não é o primeiro acidente que a gente vê, causado por quem tenta reduzir o custo do vidro nas obras, tratando-o como se ele fosse apenas um “tapa-buraco” para proteger da chuva e do vento. Vale a pena comentar que, nesse caso, também foram indiciados o arquiteto, o dono do empreendimento e os bombeiros que liberaram o funcionamento. Espero que esse acidente trágico realmente ajude a melhorar um pouco o nosso mercado.

Este texto foi originalmente publicado na edição 631 (julho de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Ivan Pagliarani

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