Abravidro leva palestras à Arena de Conteúdo na Glass 2025

Normas técnicas, vidros de valor agregado e responsabilização jurídica foram alguns dos temas abordados nas apresentações
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Abravidro leva palestras à Arena de Conteúdo na Glass 2025

O terceiro dia de atividades na Arena de Conteúdo, espaço na Glass South America 2025 dedicado a palestras gratuitas, contou com uma grade de apresentações com curadoria da Abravidro. A associação convidou especialistas em diferentes áreas para discutir temas de interesse para o universo vidreiro nacional.

ABNT NBR 7199: segurança aprimorada

A primeira palestra foi ministrada por Clélia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro, e teve o tema Novidades da norma ABNT NBR 7199: o que mudou na principal norma de aplicação de vidros na construção civil. A norma em questão teve sua versão atualizada publicada em junho deste ano e trouxe diversas mudanças, que foram abordadas em detalhes pela palestrante.

Antes de explicar as novidades na ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações, Clélia observou que os trabalhos de revisão da norma foram precedidos por uma ampla pesquisa para a base técnica do processo, incluindo a consulta a normas internacionais; além disso, ela destacou que a revisão envolveu um debate amplo e produtivo entre os diversos elos da cadeia vidreira e da construção civil. Tudo isso contribuiu para o aprimoramento da segurança nas aplicações do nosso material.

Algumas das principais mudanças comentadas na apresentação foram a reformulação e ampliação da tabela das aplicações, a alteração da altura do desnível entre ambientes de 1,50 m para 1 m, a inclusão de figuras ilustrativas para deixar as regras mais claras – algumas dessas ilustrações foram mostradas durante a palestra – e a passagem das regras de furação do vidro temperado para o texto da norma específica para o produto em questão, a ABNT NBR 14698. Além disso, na nova versão da ABNT NBR 7199, o vidro aramado deixou de ser considerado um vidro de segurança – e, com isso, sua aplicação não é mais permitida em estruturas como guarda-corpos, claraboias, marquises e coberturas.

Clélia também falou sobre as alterações relativas ao uso do vidro em portas (e áreas adjacentes), muros, fachadas verticais, janelas e outras aplicações contempladas pela norma. “A segurança começa com o uso correto do vidro; seguir as normas não é uma opção – é uma regra”, concluiu a analista de Normalização da Abravidro.

Vidros insulados, o futuro da construção no Brasil

Jonas Sales, gerente de desenvolvimento de mercado da Cebrace, conduziu a palestra Uso de vidros insulados no Brasil: derrubando mitos e conhecendo possibilidades, em que defendeu a necessidade de olhar com mais atenção para esse tipo de material, que vem ganhando espaço no País.

Segundo Sales, a utilização de vidros insulados cresceu 50% em 2025 em relação ao ano anterior, registrando o melhor resultado da série histórica. Até então, o avanço anual ficava na faixa de 1% ao ano.

Também chamado de vidro duplo, o insulado proporciona:

  • isolamento térmico até cinco vezes maior do que os vidros monolíticos e laminados;
  • redução na entrada de ar e de umidade, graças ao sistema de dupla selagem;
  • maior barreira contra radiação solar, calor e água;
  • conforto acústico.

“Ele é uma solução acústica, termoacústica e também de segurança. Mas tudo depende da forma como será aplicado e da necessidade do cliente”, destacou o palestrante.

Entre os nichos de maior potencial para o vidro insulado, Sales destacou os edifícios corporativos, que buscam certificações de sustentabilidade como o LEED. Já no segmento residencial, especialmente em prédios de médio e alto padrão, o material se mostra competitivo pela redução no consumo de energia, pelo conforto térmico e pelo desempenho acústico. Um exemplo citado foi o da Construtora Laguna, que já utiliza vidros insulados em seus empreendimentos, destacando ganhos de conforto térmico e acústico em seu portfólio.

“Temos que catequizar o mercado, mostrar as possibilidades do vidro insulado e explorar essa demanda por sustentabilidade e conforto. Como influenciadores, nosso papel é desenhar o futuro do setor para os clientes”, concluiu o palestrante.

O papel do vidro nas fachadas

Fernando Westphal, consultor, engenheiro e professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), iniciou a palestra Fachadas de alto desempenho contando o caso da “sustentabilidade e o saco de pinhão”: ele contou que, certa vez em que foi a um supermercado, viu um casal levando batatas e laranjas nas mãos para evitar o uso de sacolas plásticas – porém, no caso dos pinhões, eles precisaram pegar uma sacola plástica para levá-los.

Westphal então explicou que contou essa história para ilustrar que há limites em relação ao que conseguimos sacrificar para evitar impactos no meio ambiente: por exemplo, o uso de um veículo que queima combustível acaba sendo indispensável para quem mora muito longe do local onde trabalha. Nesse sentido, o professor da UFSC observou os ganhos que o vidro pode trazer para as fachadas: “Há sete fatores que a especificação do melhor vidro para cada projeto precisa levar em conta: segurança, calor do Sol, temperatura, iluminação, estética, acústica e economia”, indicou Westphal.

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No caso do conforto térmico, por exemplo, o vidro insulado se mostra vantajoso, pois a câmara de ar em seu interior funciona como isolamento térmico tanto para o frio como para o calor; já o vidro laminado contribui para bloquear até 99% da radiação ultravioleta, que causa o desgaste em pisos e móveis no ambiente interno, e vidros de controle solar, além de reduzir o calor, também podem contribuir para o controle da passagem de luz natural, evitando ofuscamento – e a especificação permite combinar essas soluções para obter todos esses benefícios.

Estratégias para vender vidros de valor agregado

A palestra seguinte, Vendendo vidros: argumentos para a venda de vidros de valor agregado, foi apresentada por Isadora Villar, analista de Marketing da Cebrace. A especialista destacou a importância de transformar benefícios em valor comercial, mostrando que a venda de vidros diferenciados vai além do produto: está diretamente ligada à experiência do consumidor.

Logo no início, Isadora instigou o público com a pergunta: “O que o vidro significa para você? Será que o consumidor paga mais quando o vidro é diferenciado?”. Para ilustrar, trouxe o depoimento de uma consumidora, Lilian Galvão, que associa o material ao bem-estar, à claridade, à integração com a natureza e à sensação de amplitude. Segundo Isadora, esse olhar mostra que a decisão de compra é movida por sensações e que, nesse contexto, o foco de venda deve ser direcionado ao setor da construção civil e aos arquitetos, que influenciam diretamente as escolhas do cliente final.

Para disputar espaço entre os materiais de valor premium, Isadora apresentou três pilares de estratégia comercial, fundamentais para ampliar a presença do vidro no mercado: o conhecimento do cliente, a capacitação do pessoal e, por fim, o domínio do processo de valorização. A necessidade é urgente: estudo da própria Cebrace mostra que apenas 2% das construções residenciais utilizam vidros especiais no Brasil.

Para concluir, a palestrante reforçou que o vidro precisa ser percebido como muito mais do que um material de separação. “O impacto do vidro vai além. Temos que trazer todos os benefícios que ele proporciona dentro da argumentação de venda”, finalizou.

Educavidro: dois anos de capacitação

Após a quarta palestra da programação organizada pela Abravidro, Clélia Bassetto retornou à Arena de Conteúdo acompanhada de Mauricio Fernandes, consultor da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) para uma breve apresentação com o tema Educavidro: a plataforma de EAD do setor vidreiro. Eles contaram que o Educavidro é uma iniciativa conjunta das duas associações, apontando que se trata de uma plataforma de ensino a distância completamente gratuita, atualizada regularmente, com aulas rápidas e emissão de certificados após o aluno concluir um curso ou trilha de formação.

Desde o lançamento do Educavidro, o setor vidreiro nacional demonstra um grande interesse em seu conteúdo: “Muitos alunos já nos perguntam quando vamos lançar as aulas sobre a atualização da ABNT PR 1010, e essa nova versão da prática recomendada ainda nem foi publicada”, contou Mauricio, acrescentando que isso deixa todos os responsáveis pela iniciativa bastante felizes.

Clélia acrescentou que o Educavidro pode – e deve – ser utilizado não só para o treinamento de novos funcionários nas empresas vidreiras, mas também para disseminar conhecimento para toda a sociedade, inclusive os consumidores finais do nosso material: “Conhecer mais sobre o uso correto do vidro é um passo fundamental para aumentar a segurança dessas aplicações e evitar acidentes”, ela ressaltou.

Responsabilidade em acidentes com vidro

Encerrando a programação de sexta-feira na Arena de Conteúdo, o advogado Thiago Adorno Albigiante, especialista em direito civil e regulatório da Fialdini Einsfeld Advogados, apresentou a palestra Acidentes com vidro: quem é responsável. Convidado da Abravidro, ele trouxe reflexões importantes sobre segurança, responsabilidade legal e os riscos que o setor corre quando não segue as normas técnicas do setor.

Logo no início, Albigiante citou a tragédia ocorrida em Caxias do Sul (RS), quando uma mulher morreu em uma academia após cair sobre o guarda-corpo. O vidro não resistiu, quebrou e ela acabou despencando do prédio. O caso, segundo ele, exemplifica a gravidade do problema da instalação de vidros fora das normas.

O advogado lembrou que o Código de Defesa do Consumidor coloca o consumidor como elo mais frágil da cadeia e questionou: quem deve provar se o vidro é defeituoso? Ele explicou que normas como a ABNT NBR 7199 estabelecem critérios técnicos obrigatórios; caso um produto ou instalação fuja dessas diretrizes, pode ser considerado defeituoso. “Seguir a norma significa prevenção de riscos e proteção jurídica para a empresa”, destacou.

Albigiante frisou que, em situações de acidente, o juiz vai verificar se as normas foram cumpridas. Caso positivo, a responsabilidade não recai sobre a empresa. As consequências, quando existem falhas, podem ser graves: penais, dentro do prazo prescricional, e também na esfera cível, com a obrigação de reparar integralmente os danos sofridos pelo consumidor.

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