Vidroplano
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Entrevista exclusiva com Isidoro Lopes, novo diretor da AGC

27/01/2020 - 12h10

Neste mês de janeiro, o comando da AGC no Brasil mudou de mãos. Isidoro Lopes passa a ser o novo diretor-geral da Divisão de Vidros para Construção Civil e Indústria para a América do Sul no grupo, cargo até então de Francesco Landi – que está a caminho da Europa para um novo posto na empresa. No dia 15, Isidoro recebeu a editora de O Vidroplano, Iara Bentes, no escritório da usina, em Guaratinguetá, para uma conversa sobre os desafios que ele irá encontrar no Brasil. Paulista, Isidoro tem 25 anos de experiência no setor vidreiro, tendo trabalhado os últimos três pela AGC na Bélgica.

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Isidoro, queria começar falando um pouquinho sobre como foi receber esse convite para se tornar o responsável pela operação dos fornos da AGC no Brasil.
Isidoro Lopes: Foi uma grande honra ser considerado para essa posição, na divisão de construção e indústria na América do Sul. Venho buscando uma gerência no Brasil desde que eu entrei na AGC há três anos, já com o objetivo de voltar ao meu país. Porém, foi necessário um período na Europa, pra conhecer a organização, ter todo o networking da empresa, desenvolver trabalhos de parcerias, conhecer os produtos e a parte de desenvolvimento e inovação. Foi um prazer imenso. Minha família está supercontente de retornar também. É uma satisfação profissional muito grande ver a operação brasileira crescendo e, agora, participar disso.

 

É uma tradição da AGC movimentar seus executivos por diferentes braços locais pelo mundo. No Brasil, por exemplo, diretores como Davide Cappellino, Denix Ramboux e o próprio Francesco Landi passaram por nosso país e voltaram para atuar na Europa. Por outro lado, você fez o caminho contrário. O que essa troca de experiências traz de positivo para a companhia?
IL: Traz principalmente agilidade nas decisões e nas discussões. O Davide estava aqui anteriormente, foi pra Europa, agora já está nos EUA, responsável por uma operação no Brasil, inclusive. Para o profissional, isso é excelente, principalmente pra nós brasileiros, pois gostamos desse tipo de desafio. É uma tradição da AGC. Eu, como estive na sede corporativa na Bélgica, vi a diversidade de pessoas, de todos os continentes. É uma riqueza para todos ter essa experiência de diferentes culturas. Isso é algo muito rico, você tem ali uma universidade de conhecimento disponível.

 

Você tem em sua trajetória profissional passagem por processadoras de vidro. Já tendo estado do outro lado, o que você pode dizer ao processador brasileiro?
IL: Tenho muita coisa a dizer. Fui sempre cliente de float, toda minha vida, e, agora, principalmente nos últimos três anos na Europa, eu tinha uma responsabilidade de excelência operacional na AGC em relação ao processamento do grupo na Europa. Só pra ter uma ideia da dimensão: são mais de quarenta plantas por lá, em dez países, com diferentes tecnologias, metodologias de trabalho, fluxos de processos, níveis de automação. Tem planta com portfólio de mais de 180 tipos de vidro. Então, eu vou trazer toda essa bagagem pra dividi-la com nossos clientes, promover discussões técnicas, workshops, parcerias. Realmente fazer uma evolução no processamento de vidro no Brasil. E vejo muitas boas oportunidades por aqui. Por isso, vamos ter uma massiva presença nos clientes, discutindo projetos de melhorias operacionais, pra promover ainda mais a boa utilização do float pelos processadores.

 

Quais são seus maiores desafios no novo cargo? Nesse tempo que você chegou, já pôde ver como está o mercado?
IL: Os principais desafios são consolidar a posição com clientes e parceiros, ainda mais com a abertura do segundo forno, trazendo uma capacidade produtiva 140% maior. Agora é realmente encontrar os canais de venda para colocar nossos produtos no mercado. A operação tem uma performance técnica muito boa, acima do esperado, então é hora de melhorar ainda mais os serviços, o relacionamento e desenvolver novos mercados para suportar a operação.

O Guará 2 está em operação desde abril, mas ainda não tivemos aquecimento na demanda. Como está a operação do forno?
IL: Há uma pequena parcela de exportação e estamos fazendo trabalhos de desenvolvimento de mercado externo. Mas a prioridade é o mercado interno, ninguém constrói um forno para exportar a produção.
O que o Guará 2 em funcionamento agregou para a operação da AGC?
IL: Agregou flexibilidade, maior facilidade de planejamento. Com dois fornos, você consegue otimizar a produção de cores, espessuras, melhorar o rendimento da planta. Em termos de portfólio, estamos trazendo em 2020 alguns produtos que antes eram somente importados e, com isso, reduzir custos.
E como está o desempenho de vendas do novo forno?
IL: Está dentro do esperado, mas poderia estar melhor. A gente espera um pouco mais sempre. Porém, tem um crescimento natural, pois não é de uma hora pra outra que consegue fazer 140% a mais de capacidade achar mercado. Até antes do forno já viemos incrementando o crescimento das vendas para o impacto ser menor.

 

No evento de inauguração oficial do segundo forno, realizado em novembro, Francesco Landi afirmou que seu objetivo seria tornar a empresa no Brasil o que ela é no mundo – nas palavras dele, “uma líder em produção e tecnologia”. O que vem por aí para posicionar a AGC dessa maneira no País?
IL: É exatamente isso. A AGC vai continuar investindo no mercado brasileiro e sul-americano, trazendo valor agregado assim como produtos de segurança também. Tem uma evolução natural do mercado de vidros no Brasil para isso, que é apostar em laminado, temperado-laminado, vidro corta-fogo, antiterrorismo, antivandalismo, tudo que na Europa hoje já é padrão. Lá, por exemplo, o primeiro andar de um prédio já vem com vidros desses tipos. É uma combinação de produtos em um projeto.

 

Também nesse evento da apresentação do forno, foram anunciados diversos produtos de valor agregado que já estão ou estarão disponíveis no Brasil em breve. Vocês têm um plano específico para eles?
IL: Sim, existe um plano para a introdução desses produtos. Obviamente, precisa ser feito um trabalho de divulgação, alguns produtos têm uma legislação a ser trabalhada… Agora é colocar isso em ação.

 

Por falar em mercados externos, um dos assuntos mais relevantes deste ano para o setor é a questão de renovação do direito antidumping para o float. Qual a opinião da AGC sobre isso?
IL: Temos uma expectativa boa de que será renovado. Ainda não estou 100% familiarizado com todos os detalhes desse processo. Mas existem todas as condições e indicações pra que seja renovado, não tem motivos para o contrário.

 

Tem alguma possibilidade de a AGC desenvolver linhas de produtos específicos para o mercado brasileiro?
IL: Tem, sim. Nós mantemos um plano estratégico de portfólio de produtos. Veio inicialmente o float com espelho, depois o coater. Existem planos e estaremos divulgando no momento oportuno.

 

Começo de ano é sempre o momento de avaliar perspectivas e o que nos espera. Como a AGC vê 2020 para o Brasil?
IL: Com otimismo. Esta semana já tivemos a primeira reunião do ano, mostrando os indicadores de confiança do consumidor, da construção, a boa notícia do mercado automotivo, que foi muito melhor que em 2018. No Brasil, a gente precisa ter um pouco de cautela. Mas temos de passar e promover esse otimismo no mercado, porque confiança gera confiança. Temos um plano bem desafiador para 2020, que é consolidar a posição, incrementar vendas e volume para manter o Guará 2 em total capacidade.

Quais são os principais desafios para os fabricantes de float hoje no Brasil?
IL: O primeiro é o preço do gás, um grande inimigo. A parte de logística também. Comparada com o que acontece na Europa, ainda é uma operação muito manual, de risco. Uma operação de carregamento leva horas pra ser feita. Às vezes, você tem o produto, está disponível, mas não tem agilidade. Esse é um desafio, desenvolver a logística. E, claro, aumentar o valor agregado.
E quais as principais diferenças entre o mercado vidreiro na Europa e no Brasil?
IL: A aplicação de produtos de valor agregado. O maior uso de coating, vidros especiais, como eu falei antes. Vidro duplo, triplo: a AGC na Europa tem inúmeras plantas produzindo e aqui no Brasil a aplicação é muito pequena. E a performance desses produtos é extremamente elevada, comparada com o vidro normal. Existe a commodity, vai sempre existir, mas com esse diferencial do valor agregado você consegue entregar obras que elevam o produto vidro.

O Brasil está indo por esse caminho, na velocidade brasileira, normal, mas essa minha experiência na Europa foi fantástica pra observar isso, aprender e entender como promover o cenário aqui.
Gostaria de deixar alguma mensagem ao setor?
IL: Primeiro, como estou chegando agora, quero afirmar, assim como na minha função anterior na AGC, gosto de colocar para os clientes as melhores tendências de processamento. Minha paixão é discutir melhoria operacional. Aposto bastante nas parcerias, em trazer esse conhecimento e oportunidades aos processadores. Além, claro, da coerência nos negócios, sempre dentro da ética, do compliance, do cumprimento das palavras. Os processadores podem me esperar, irei visitá-los para trabalhar o float da melhor maneira possível com todo o time de assistência técnica, de vendas, marketing. E, pra finalizar, quero deixar a mensagem de continuidade. Pra mim, é uma honra ver a operação do Brasil, com uma atmosfera fantástica, um time muito motivado e comprometido. Estou muito feliz de ver o trabalho que os outros diretores fizeram. É uma mudança sem ruptura.

 

Este texto foi originalmente publicado na edição 565 (janeiro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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