O arquiteto Celso Rayol, fundador do escritório carioca Cité Arquitetura, foi um dos convidados para participar do VidroCast no estúdio especial montado dentro da 16ª Glass South America. Ele também foi um dos palestrantes na Arena de Conteúdo, onde falou sobre o momento aquecido do retrofit no Rio de Janeiro. Professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) desde 2003 e ex-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Rio de Janeiro (AsBEA-RJ), o profissional defende o vidro como um material que soluciona projetos, leva conforto aos usuários das edificações e ainda ajuda a integrar o antigo e o novo – mas ressaltou: falta conhecimento ao consumidor final sobre o valor que o material pode levar às residências. A seguir, confira alguns destaques dessa entrevista. A íntegra desse bate-papo pode ser conferida no canal da Abravidro no YouTube.
Para começar, fale sobre o momento atual de retrofits no Rio de Janeiro.
Celso Rayol – O Rio de Janeiro é uma cidade histórica, cheia de belas paisagens, belas arquiteturas e construções. Mas, em certo momento, chega-se a um esgotamento do que se pode construir de novo. Então, é preciso abrir os olhos para esses edifícios que foram, algumas vezes, abandonados, esquecidos, apagados. Eu diria que não se trata somente de uma vontade de fazer retrofit, mas, sim, uma necessidade. Nesse caminho, existe agora uma lei de incentivo, responsável por instituir o programa Reviver Centro, que tem impulsionado muito esse tipo de trabalho. Acho que há uma vontade de ver a cidade melhor, de procurar caminhos que requalifiquem edifícios que estavam abandonados, e têm surgido bons exemplos.
E qual seria o papel do vidro nesses trabalhos?
CR – No Rio de Janeiro, a gente está fazendo o retrofit do Hotel Glória, com amplo uso de vidros para poder mostrar a paisagem – o edifício está no coração do [bairro do] Flamengo, com uma vista panorâmica para todos os cartões postais da cidade. Lá no alto do hotel, a gente prepara um rooftop com o uso de vidro na claraboia. Esses vidros permitiram uma “junção entre épocas”, ou seja, entre uma parte do edifício antigo e do novo, pois ele não agride essa passagem do tempo. Isso proporciona essas “costuras de época”, um elemento transparente, translúcido, que dá mais leveza, permitindo fazer o cruzamento entre presente, passado e futuro.

Falta conhecimento, de forma geral, tanto para os especificadores como também para os consumidores com relação aos benefícios que o vidro pode oferecer?
CR – Sim, falta muito. No nosso escritório, sempre recebemos muitas pessoas de áreas técnicas das empresas vidreiras, como a Cebrace e o Grupo Saint-Gobain, para falar sobre o vidro e ensinar nossa equipe a respeito dos diferenciais de cada produto. Esta semana mesmo [na semana da Glass], eu dei uma palestra sobre o quanto a nossa sociedade ainda não compreendeu o valor do vidro: a gente pode conhecer o que esse material agrega às obras, mas há uma centena de outras pessoas que acham que aquilo é só um elemento de vedação, que preenche um vão – e que é transparente. Ao contrário de outros produtos, o valor do vidro não é tão perceptível visualmente, então ainda vemos muito em edifícios residenciais, por exemplo, as pessoas não o considerarem um agregador de valor na hora da compra.
Acho que a gente precisa fazer uma campanha maior para levar esse conhecimento para toda a sociedade, não só para nossos pares; se não, parece que a gente está fazendo a propaganda do vidro só para arquitetos, especificadores e engenheiros. Esses profissionais já conhecem o valor do material, mas quem compra um imóvel hoje desconhece essas vantagens que ele poderia ter em sua vida.
No ano passado, os vidros de valor agregado, como o laminado e o insulado, tiveram um bom desempenho no faturamento e na produção, segundo dados do Panorama Abravidro. De que forma o setor vidreiro pode trabalhar para aumentar ainda mais a aplicação desses produtos?
CR – Temos visto projetos que, de uma maneira geral, já partem da premissas de vender a tecnologia, a novidade. E ainda tem as certificações, que eu acho que são as principais exigências para a chancela dos materiais de valor agregado. A sociedade precisa ser mais conscientizada em relação a isso e, assim, passar a ser mais exigente; precisa entender que aquilo não é só alguma especificação feita por engenheiros e arquitetos, mas sim que os benefícios que esses produtos agregam ao ambiente são perceptíveis.
Por exemplo, eu já vi gente trocando o vidro das casas por conta de ruído, algo já bem divulgado, mas ainda não vejo muita gente fazendo trocas de vidro para resolver problemas em relação à insolação e ao conforto térmico. Eu acho que é a hora de levar adiante esses avanços.

Há espaço para o vidro avançar ainda mais na arquitetura?
CR – Com certeza. A gente estava conversando com a Beatriz Luz, uma das maiores especialistas em economia circular no País, e ela falava o seguinte: no futuro, temos de pensar muito mais que todos os projetos podem ser montados e desmontados. Ou seja, a gente tem de evitar as demolições, porque essas, sim, são muito prejudiciais ao meio ambiente. Mas a montagem e desmontagem preconizam as construções em madeira, em ferro ou em vidro, porque essas eu posso montar, desmontar, transformar um retrofit muito mais fácil de ser feito para as adaptações do futuro.
Que recado você deixa para os seus colegas arquitetos, para os consumidores e para possíveis clientes em relação ao retrofit, o uso do vidro e melhorias na arquitetura?
CR – A minha dica maior é em relação ao repertório: você precisa conhecer, pesquisar, entender quais soluções são possíveis. Tendo isso, qualquer problema é fácil de ser solucionado, qualquer arquitetura pode ter soluções muito práticas, esteticamente viáveis e de sucesso – e, muitas vezes, no caso do mercado imobiliário, isso significa vendas.
Para dar um exemplo disso, eu estou fazendo um ambiente para a Casa Cor do Rio de Janeiro; entrei na mostra depois de outros arquitetos, e descobri que ninguém podia me mandar todos os móveis iguais ao do bar que eu estava projetando e nem conseguiria mais todas as tintas planejadas, porque já tinha acabado o momento de solicitá-las. Então, decidi fazer o projeto com o que a gente pode, e aí me lembrei de um hotel em que eu fiquei em Estocolmo com meus filhos anos atrás, o Nobis Hotel, cujo lobby misturava todos os estilos e todas as épocas de móveis, quase como um mosaico entre o novo e o antigo. Decidi então elaborar meu ambiente na Casa Cor RJ assim, e todo mundo comentou que foi uma decisão certeira; foi bom ter essa referência tão rápida nesse banco de memórias, o que permite dar respostas rápidas a determinadas soluções.
Fotos: Marcos Santos e Meryellen Duarte






