Hugo Martinez fala sobre setor nacional de esquadrias no VidroCast

Especialista em esquadrias acústicas comenta as perspectivas para esse segmento no Brasil
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Hugo Martinez fala sobre setor nacional de esquadrias no VidroCast

O VidroCast teve um estúdio especial montado dentro da 16ª Glass South America – e, durante os dias da principal feira do setor vidreiro na América Latina, o espaço recebeu diversos convidados. Um deles foi Hugo Martinez, especialista em esquadrias acústicas, que também foi curador de palestras ministradas na Arena de Conteúdo da mostra. No bate-papo com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Martinez esclareceu alguns mitos envolvendo esquadrias acústicas e deu sua opinião sobre como o mercado deve sair da bolha e levar informações sobre o valor agregado dos produtos aos consumidores. Leia a seguir alguns destaques dessa conversa – e assista à entrevista na íntegra no canal da Abravidro no YouTube.

Como você vê o setor de esquadrias hoje no Brasil?
Hugo Martinez – Eu penso que esse setor está em plena ascensão, e gosto do movimento que tem sido feito, no sentido de entender mais sobre as normas, e como isso vem crescendo na cadeia – porque aí, se a gente fala de esquadrias, a gente fala dos desenvolvedores de sistemas, de que eles vão trazer todos os benefícios do produto para o restante da cadeia, até chegar ao serralheiro. Eu sei que esse trabalho de conscientização é muito árduo e que a gente precisa fomentar muito, precisa fazer isso chegar ao cliente final já que ele ainda não tem essa informação.

Qual é o papel da esquadria no desempenho do vidro – ou qual é o papel do vidro no desempenho da esquadria?
HM – Quando a gente fala de composição de materiais, a gente fala de contribuições – e, quando a gente olha uma esquadria composta com vidro, o vidro tem a maior parte de participação. E aí a gente precisa entender um pouco mais dos desenvolvimentos, dos modelos de perfis, o quanto eles geram conexão para atribuir às suas vedações e para que o vidro participe da sua forma plena.

É muito comum dizer que o vidro é o total responsável pelo sistema, mas não é. Por exemplo, a gente olha para um determinado vidro e pensa: “Seu desempenho acústico é tal, eu vou colocar ele nessa esquadria, vou dar uma ‘mexida’ na esquadria e vai acontecer”. Não vai. Então eu acho que a resposta é buscar a harmonia da composição do sistema construtivo.

“O setor de esquadrias está em plena ascensão, e gosto do movimento que tem sido feito, no sentido de entender mais sobre as normas, e como isso vem crescendo na cadeia” Hugo Martinez

Você acha que falta conhecimento por parte dos especificadores e também dos consumidores sobre os benefícios que o vidro pode trazer, principalmente quando falamos de conforto térmico e de conforto acústico?
HM – Falta conhecimento principalmente na ponta final, por parte de quem executa – por exemplo, o serralheiro e o vidraceiro – e por parte do cliente final. Mas, para o sistemista ou para a usina de vidro, não acho que falta conhecimento, mas sim movimento de mercado – e aí a gente pode entender ou fazer uma previsão de como isso vai acontecer.

Existem alguns materiais que ainda não estão funcionando da forma como deveriam, porque eles ainda não foram fomentados da forma como deveriam para dar clareza para o serralheiro, para o vidraceiro e para o cliente final. O vidro com PVB de alta densidade, que é o famoso PVB acústico: ele contribui? Contribui, bastante. Mas como fazer com que ele dê essa contribuição? Por que ele contribui? Por que ele tem um valor agregado maior? Vale a pena ou não colocá-lo na esquadria? Qual tipo de esquadria vale a pena? Esse é um movimento que precisa ser mais bem-feito, e aí eu conto com a nossa força, com a Abravidro, com as usinas, com os sistemistas.

E quais você acha que são os maiores mitos envolvendo acústica que ainda são repetidos por aí, seja pelo próprio setor vidreiro ou de esquadrias – ou mesmo pelo consumidor?
HM – É uma pergunta polêmica, e aí você está me jogando contra a parede [risos]. Mas, é interessante a gente focar na acústica aplicada em esquadrias. É muito comum tentar entender o que é melhor, separando por modelo, por tipologia.

Então, o que é melhor: uma janela de correr ou uma janela de giro? O que é melhor: a janela de alumínio ou a janela de PVC? A gente pensa muito nos materiais, pensa muito nas suas tipologias, mas não vê isso com detalhe.

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Eu acho que o grande mito é o seguinte: quando comparamos tipos, precisamos entender a engenharia que está por trás desses tipos, e qual é o material que a gente está comparando. E isso faz com que os mitos aconteçam. Um mito muito latente no setor é que, para a acústica, janelas ou portas de giro são muito melhores do que as de correr – mas a resposta é “depende, nem sempre”. A de correr, de fato, traz um desafio maior para fazer com que ela seja um produto de alto desempenho. Mas, quando você compara realmente produtos de alto desempenho, a de correr pode chegar a um bom nível também. Outro mito, agora sobre o material: o que é melhor, alumínio ou PVC? A resposta também é: “depende”. Depende do uso, da aplicação.

“Quanto mais a gente voltar o nosso olhar para a saúde, para o conforto, para o bem-estar, mais isso vai ser determinante para o nosso posicionamento no mercado.” Hugo Martinez

Você consegue imaginar o que vamos ver no futuro das esquadrias?
HM – Essa é uma pergunta muito importante. Eu gosto de uma visão de uma pessoa com quem eu conversei, que também participou do VidroCast recentemente, que é o Roberto Papaiz, e a visão dele é a seguinte: a palavra certa é conforto. O cliente final precisa entender quando a gente fala o que é uma esquadria de alto desempenho, uma esquadria de alto padrão, e a gente precisa entender o que o cliente está procurando, qual é a necessidade do usuário final. Na minha visão, quanto mais a gente voltar o nosso olhar para a saúde, para o conforto, para o bem-estar, mais isso vai ser determinante para o nosso posicionamento no mercado.

Você sabe que eu sou fã do VidroCast e ouço o máximo de episódios que eu consigo. Então, por aqui já passaram o Fernando Westphal, Roberto Papaiz, Edison Claro de Moraes – diversos ícones do nosso setor que contribuíram com muitas coisas. Acho que faz muito sentido dar voz para esses especialistas e entender o quanto eles conseguem se comunicar com o cliente final. Acho que o que mais falta é pegarmos tudo isso que a gente está construindo em normas, como a ABNT NBR 15575 [Edificações habitacionais – Desempenho], pegar todos esses requisitos e transformar em marketing, em comunicação com o cliente final.

Você quer deixar algum recado para quem está nos acompanhando?
HM – O recado que eu deixo para quem está assistindo é que, primeiro, faça com que esse conteúdo chega em outras pessoas, porque a gente vive numa bolha e ela precisa cada vez mais ser estourada ou potencializada. Então, se você está ouvindo aí, analise quem você é: seja um dono de fábrica de esquadria, ou de uma processadora de vidro, coloque o seu colaborador para assistir, coloque o seu cliente para assistir também, porque é só assim que a gente vai destrinchar a informação e levá-la adiante.

A gente precisa expandir; se ficarmos só aqui, nesse nosso mundinho, e falar das técnicas só entre a gente, nunca vamos conseguir avançar. Então, voltando àquela pergunta sobre o futuro das esquadrias, entendo que esse futuro depende de mim, de você, Iara, e de todos que estão acompanhando o VidroCast. Então, por favor, compartilhem esse conteúdo, que assim todo esse conteúdo de qualidade vai conseguir chegar em mais pessoas.

Este texto foi originalmente publicado na edição 634 (outubro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: reprodução

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