O vidro é um material que atende diversos mercados – entre eles, os da arquitetura, decoração e design de interiores. Os texturizados (nova denominação dos vidros impressos, oficializada pela norma ABNT NBR 7199, tipo de vidro conhecido como “fantasia” tempos atrás) são opções bastante interessantes para esses segmentos, com seus relevos contribuindo para o visual dos ambientes. Basta relembrar recentes mostras de arquitetura, como as últimas edições da Casa Cor São Paulo, para perceber que esse produto se firmou como elemento de destaque em interiores, incluindo ambientes de alto padrão.
Para entender o uso desse material, O Vidroplano conversou com empresas que trabalham com esses produtos para saber como eles vêm sendo aplicados, quais as possibilidades de processamento para eles e os atrativos que proporcionam.

Disponibilidade
Diferentemente do float, cujas superfícies são totalmente lisas e planas, com transparência total, o texturizado tem textura em relevo em uma das faces: durante sua fabricação, a chapa, ainda pastosa, passa por cilindros que imprimem o padrão na superfície. A Cebrace é hoje a única fabricante de vidros texturizados no Brasil, após o fim das atividades da União Brasileira de Vidros (UBV), em 2018, e o encerramento da produção da planta da Saint-Gobain Glass em São Vicente (SP), em 2023, dando continuidade aos produtos desta última em sua unidade em Barra Velha (SC).
E como está a oferta dessa solução atualmente, com todas essas mudanças nos últimos anos? Luciana Teixeira, coordenadora do Mercado de Decoração e Interiores da Cebrace, responde: “A disponibilidade dos nossos vidros texturizados está excelente. Atualmente, os produtos estão com entrega imediata”. A produção bruta média para esse segmento é de 80 t por dia, mas Luciana ressalta: “Como os produtos possuem rendimentos distintos, a produção líquida pode variar”. Embora a empresa seja a única no Brasil a produzir esse tipo de vidro, há quem importe peças texturizadas de outros países. Para a Cebrace, essas importações não atuam como uma concorrência direta aos seus produtos, mas sim como um complemento para atender demandas específicas de projeto.
De acordo com Rosangela Souza, coordenadora de Vendas da Brazilglass, de fato não há diferença no fornecimento dos vidros texturizados em relação ao do float. “Há somente falta de opções em relação aos tamanhos de chapas dessas soluções”, avalia.

Como processar
Uma das grandes questões envolvendo os texturizados: é possível para uma processadora realizar os mesmos trabalhos nesse produto que os feitos com chapas float? A resposta é sim, embora haja diferenças a se levar em consideração devido aos relevos. “Essas características exigem cuidados adicionais, principalmente no processo de destaque pós-corte, que tende a ser mais suscetível a trincas inesperadas”, aponta Eduardo José Moser, gerente-industrial da Linde Vidros.
Juliano Passi e Leandro Gonçalves – respectivamente, diretor e gerente técnico da Divinal Vidros –, ressaltam também que, embora alguns tipos de vidro texturizado possam ser cortados com mesa automática, outros requerem processos manuais; além disso, as irregularidades também impactam a eficiência e a estabilidade em outros processos.
“Na grande maioria dos casos, o vidro texturizado aceita furação, curvação e serigrafia. Apenas no caso da serigrafia é recomendado estudar mais profundamente alguns padrões a fim de utilizar a pintura adequada”, comenta Sérgio Moreira de Souza, gerente de Vendas da Unividros.
E, sim, esses produtos também podem ser temperados e laminados. “No entanto, a complexidade dos processos aumenta significativamente: na têmpera, é essencial avaliar o tipo de textura para garantir que o aquecimento e o resfriamento sejam adequados; já na laminação, o desafio é ainda maior, pois a variação de espessura e o relevo da superfície dificultam que o acoplamento entre as chapas seja uniforme, além de complicar o processo de corte do laminado, que naturalmente já é mais complexo”, orienta Moser, da Linde Vidros. Dessa forma, os processos exigem um controle de qualidade rigoroso e experiência técnica especializada.

(foto: Gabi Drewes/divulgação Lá Na Teka)
Atrativos e mercados
Entre os ambientes presentes na edição deste ano da mostra Casa Cor São Paulo, o espaço Feira na Rosenbaum destacou-se pela fachada montada com diversas peças texturizadas. O projeto foi elaborado pelo escritório Lá Na Teka, da arquiteta e urbanista Anike Tomanik e da designer de interiores Kalyn Diegues, com a estrutura montada pela vidraçaria Europa Vision.
Anike e Kalyn gostam desses produtos como alternativa de textura, considerando que eles, algumas vezes, também podem trazer memórias afetivas por já terem sido muito usados anteriormente. Outro benefício que as fundadoras do Lá Na Teka listam para os materiais é a maior privacidade que proporcionam ao ambiente. Luciana Teixeira, da Cebrace, acrescenta que os texturizados agregam sofisticação a essa privacidade, o que os torna ideais para ambientes que pedem delimitação sem perder a leveza visual.
De acordo com Juliano e Leandro, da Divinal Vidros, arquitetos e decoradores são os principais demandantes dessas soluções. Além deles, a indústria moveleira também utiliza esses vidros em portas de armário e outras aplicações decorativas. Eduardo Moser, da Linde Vidros, destaca que a empresa também recebe pedidos por parte de vidraçarias e clientes do varejo, geralmente para aplicações em banheiros, janelas basculantes e maxim-ar, portas internas ou detalhes decorativos, onde o fator estético é predominante.
Quanto ao perfil de aplicação dos texturizados, Luciana informa que ele passou por uma mudança significativa ao longo dos anos. Se, antes, eram usados principalmente em portas de armários, janelas de banheiro e divisórias internas, com foco em privacidade e estética, hoje suas aplicações se expandiram para revestimentos de parede, tampos de mesa e prateleiras e divisórias em ambientes corporativos e comerciais. “A Cebrace reconhece essa evolução como reflexo de tendências de mercado e avanços tecnológicos.”

(foto: Marcos Santos)
Texturizado de segurança?
Houve um aumento na procura por esses produtos nos últimos dois anos. Sérgio, da Unividros, acredita que a cadeia produtiva como um todo, desde arquitetos e projetistas, passando pelo setor moveleiro e vidraçarias, está utilizando um pouco mais o vidro texturizado em seus projetos e serviços, “possivelmente por tendências de mercado que podem ter influenciado arquitetos e designers a recomendar e especificar o material”.
A Linde Vidros também notou um aumento na demanda por texturizados em 2025, mas Eduardo Moser ressalta que esse crescimento não seguiu a mesma linearidade observada em outras famílias de produtos, como insulados ou temperados laminados. “Esse comportamento indica que o interesse por vidros texturizados está mais associado a tendências estéticas e arquitetônicas do que a soluções técnicas ou funcionais”, avalia o gerente-industrial.

O apontamento vai ao encontro do que Anike Tomanik e Kalyn Diegues, do Lá Na Teka, consideram como a maior dificuldade do trabalho com esse tipo de vidro. Segundo elas, por não ser um vidro de segurança, o texturizado não pode ser usado em grandes vãos. “A indústria precisa voltar o olhar para a necessidade de investir cada vez mais em tecnologia para aumentar as possibilidades de aplicação desses vidros com segurança, e também fiscalizar quando indevidamente utilizados”, sugerem.
Nesse cenário, o que hoje já é uma possibilidade pode se mostrar uma tendência para o crescimento do consumo dessas soluções. Lembra da informação, citada anteriormente nesta reportagem, de que o texturizado também pode ser temperado e/ou laminado? Pois a Divinal Vidros já vem percebendo um aumento pela procura de texturizados de segurança (laminados e temperados), possivelmente tendo em vista a procura por produtos de dimensões maiores e que possam ser usados em projetos mais ousados, buscando atender as normas de segurança atuais. “A Divinal vem investindo em pesquisa e desenvolvimento para ampliar as aplicações dos vidros texturizados, buscando aprimorar sua viabilidade para têmpera e laminação, conciliando estética com segurança normativa”, afirmam Juliano e Leandro.
Foto de abertura: Gabi Porto/divulgação Lá Na Teka