A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revelou ontem, segunda-feira (28), um panorama sobre o desempenho da construção civil nacional durante o segundo trimestre de 2025. A análise, conduzida pela economista-chefe da entidade, Ieda Vasconcelos, revelou que o nível de atividade do segmento, medido pela Sondagem da Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), atingiu 48,8 pontos em junho – o que representa o melhor desempenho desde novembro de 2024.
Apesar de ainda estar abaixo da linha dos 50 pontos (nível que separa expansão de retração), o resultado mostra uma sinalização positiva: o setor segue em desaceleração, mas com menor intensidade do que nos meses anteriores. A utilização da capacidade operacional segue elevada, com média de 67% no semestre. Porém, o Índice de Confiança do Empresário da Construção caiu, chegando a 47,1 pontos em julho, menor valor do ano. O resultado está relacionado à alta dos juros, à inflação acumulada em doze meses (5,35%) e às incertezas macroeconômicas, incluindo a tarifação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos.
“O leve avanço registrado em junho sugere uma possível tendência de recuperação gradual, impulsionada por lançamentos anteriores e pela manutenção da atividade em segmentos como os de serviços especializados e da construção de edifícios. No entanto, o cenário ainda inspira cautela, principalmente diante da persistência dos juros elevados e da menor oferta de crédito para o setor”, comentou o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
Crédito e empregos
Um ponto crítico do trimestre foi a retração do crédito voltado à produção da construção: nos primeiros cinco meses deste ano, foram financiadas 24.115 unidades com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), redução de 62,9% em relação ao mesmo período de 2024. Em valores, a queda atingiu 54,1% (de R$ 15,5 bilhões para R$ 7,1 bilhões).
Para Ieda Vasconcelos, o cenário pode ser explicado pelo descompasso entre a alta da taxa Selic e a queda na captação líquida da caderneta de poupança, que perdeu R$ 38,4 bilhões no primeiro semestre. “O custo do crédito está elevado tanto para o comprador como para o construtor. Os bancos têm priorizado o financiamento da aquisição, em detrimento da produção”, analisa.
A construção segue, no entanto, como uma das principais locomotivas da geração de empregos formais no País. De janeiro a maio, foram criadas 149.200 vagas. O número é inferior ao visto em 2024, mas superior a 2023. 47,7% das vagas criadas foram ocupadas por jovens de 18 a 29 anos – e o salário médio de admissão (R$ 2.436) é o maior entre os setores pesquisados, incluindo serviços, indústria e administração pública.
Perspectivas para o restante do ano
De acordo com a CBIC, a projeção de crescimento do setor para 2025 segue a mesma: 2,3%. Contudo, as expectativas para novos empreendimentos e serviços caíram para o 2º menor patamar do ano. “Estamos vivenciando o reflexo do que foi lançado nos últimos dois anos. Se o atual ambiente de juros elevados persistir, há risco de desaceleração mais acentuada a partir de 2026”, afirma Ieda Vasconcelos.