Vidroplano
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Norma para vidraceiros é publicada pela ABNT

20/02/2020 - 14h40

No dia 11 de fevereiro, a ABNT publicou a tão esperada norma NBR 16823 — Qualificação e certificação do vidraceiro – Perfil profissional. O texto, que esteve em consulta nacional desde o final de 2019, define os parâmetros e requisitos para a qualificação dos vidraceiros, para que esses profissionais exerçam seus trabalhos com qualidade e segurança. O Vidroplano apresenta o conteúdo da norma e explica como ela pode ajudar no desenvolvimento do setor vidreiro nacional.

 

Profissão colocada em palavras
Logo no início, a NBR 16823 traz a definição de vidraceiro: “Profissional responsável pela instalação e manutenção de vidros, incluindo sua venda, especificação, medição, orçamento, transporte, armazenamento, inspeção e análise do material, a fim de planejar e organizar o próprio trabalho, conforme projetos ou ordens de serviço, de acordo com os procedimentos de execução de serviços, normas técnicas, de segurança, de meio ambiente e saúde específicas, respeitando os critérios de qualidade”.

Cirilo Paes, coordenador da comissão de estudo que elaborou esse documento, aponta que a norma abrange desde o profissional de vendas, passando pelo especificador, transportador e instalador. “Nós fizemos o possível para valorizar todos os profissionais que trabalham com vidro e participam do processo desde o início até a entrega final ao consumidor”, explica Paes, que é técnico em aplicação de produtos da empresa Glasspeças e consultor para vidros e esquadrias de alumínio.

O texto determina que o campo de atuação do vidraceiro envolve o trabalho com os seguintes sistemas:

• Boxes padrão;
• Instalações autoportantes (basculantes e porta de giro, entre outros);
• Revestimentos verticais decorativos (espelhos ou vidros, entre outros);
• Vidros em esquadrias;
• Vidros em móveis.

Contudo, o novo documento não restringe o profissional a esses produtos, indicando que ele também pode especializar-se em sistemas diferenciados, que requeiram conhecimentos específicos, como, por exemplo, instalação de guarda-corpos, envidraçamento de sacadas ou coberturas.

 

Classificação de competências
Um dos destaques da norma é a definição e divisão das chamadas unidades de competência. “Elas mostram as diferentes atividades dentro de uma vidraçaria, as quais podem ser realizadas pelo mesmo profissional ou por pessoas diferentes, de acordo com as competências de cada um”, explica Vânia Caneschi Oliveira,  coordenadora de Atividades Técnicas da Escola Senai Orlando Laviero Ferraiuolo.

São quatro as unidades de competência:

1) Vender e avaliar o serviço a ser realizado, levantar os dados necessários para a precificação e elaborar a proposta comercial;
2) Especificar vidros e componentes necessários à instalação conforme normas técnicas;
3) Transportar vidros e componentes até o local da instalação;
4) Instalar e manter vidros seguindo normas de saúde e segurança no trabalho, qualidade e meio ambiente.

Cada uma dessas unidades conta com uma tabela própria no documento, listando os elementos de competência e padrões de desempenho necessários para elas.

Vânia destaca que, na descrição detalhada dessas unidades, fica bem claro que todos os profissionais dentro de uma vidraçaria devem ter conhecimento técnico na área.
Conhecimento e escolaridade necessários ao desempenho das competências
A norma também estabelece os conhecimentos necessários para o melhor desempenho de cada uma das unidades de competência, por meio de uma tabela. Tais conhecimentos podem ser adquiridos em cursos ou experiência profissional. A norma faz apenas uma exigência com relação ao vidraceiro especificador: ele deve comprovar escolaridade mínima correspondente ao Ensino Médio completo.

 

Outros pontos abordados pela NBR 16823:
• Meios ou ferramentas e materiais necessários ao desempenho profissional do vidraceiro;
• Técnicas, métodos e procedimentos inerentes ao desempenho da função de vidraceiro;
• Algumas das condições de trabalho às quais esse profissional é submetido durante a execução das suas atividades.

norma-vidraceiro-instalacao

 

Por dentro dos bastidores do documento
O trabalho para a elaboração da norma teve início em 2016, organizado pela Abravidro por meio do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37), sediado na entidade, juntamente com o Comitê Brasileiro de Qualificação e Certificação de Pessoas (ABNT/CB-99). Reuniões para discutir e desenvolver o texto foram realizadas mensalmente, contando com a participação de vidraceiros, processadores e instrutores de cursos, além de outros profissionais.

Antes da NBR 16823, o ABNT/CB-37 nunca tinha elaborado um texto técnico voltado para a qualificação de um tipo de profissional. “No início, esse processo foi bastante complicado, pois não possuíamos parâmetros para elaboração da norma; mas, com a ajuda do Senai, conseguimos tomar um rumo, ficando mais fácil determinar os parâmetros e requisitos”, conta Paes.

“A Abravidro não mediu esforços para envolver os elos da cadeia vidreira e buscar parceiros, como o Senai, que pudessem nos ajudar na elaboração do texto”, explica Clelia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro. “Foi um grande desafio organizar a contribuição de todos os envolvidos dentro da estrutura formal de uma norma.”

Outro pioneirismo no desenvolvimento dessa norma é que ela foi o primeiro trabalho, dentro do ABNT/CB-37, a contar com transmissão e participação remota em todas as discussões. Isso permitiu que pessoas de várias partes do País participassem efetivamente do desenvolvimento do texto técnico.

 

Importância para o setor
Para Cirilo Paes, a maior importância da norma é a valorização que ela traz para a profissão do vidraceiro. Antes, o vidraceiro não tinha um reconhecimento como um profissional com tanta relevância no setor de serviços. “Hoje, é possível ver que esse ofício é um dos mais importantes em uma edificação, pois trabalha diretamente com um produto que deve ser aplicado com segurança. Para isso, é necessário que o profissional seja alguém qualificado.”

O coordenador da comissão de estudo acrescenta ainda que, ao longo dos trabalhos para desenvolvimento do texto, diferentes pontos de vista foram debatidos,principalmente por tratar-se de uma norma que abrange um país tão grande e diverso como o Brasil. “Acredito que não conseguimos atender a necessidade de todas as regiões, mas o primeiro passo já foi dado”, diz ele. “Para mim, o maior aprendizado foi que não podemos olhar somente para a nossa realidade.Conversando com muitos colegas de todo o País, aprendemos que o mais importante nesse processo é que só podemos melhorar nosso setor ouvindo todos e trabalhando juntos.”

 

Próximos passos
Com a publicação da NBR 16823, conclui-se uma etapa importante para a valorização e qualificação do vidraceiro. O próximo passo é a criação do procedimento para certificação desse profissional. Ao ser certificado pelo organismo certificador de pessoas, ele poderá comprovar que atende a norma relativa à sua profissão. A Abravidro já está trabalhando no processo junto ao Senai, entidade que também atua na certificação de profissionais. “A norma do vidraceiro e sua futura certificação são etapas importantes no sentido de valorizar e diferenciar o profissional que trabalha com qualidade e segurança”, afirma o presidente da Abravidro, José Domingos Seixas. “O vidraceiro desempenha um papel fundamental na nossa cadeia, sendo responsável pelo vidro ser considerado não só um material bonito e versátil, mas seguro e com uma longa vida útil.”

 

Vozes do setor
Veja a seguir o que alguns participantes da elaboração da NBR 16823 consideram sobre ela: “Ter uma norma com o perfil profissional para o setor é importante para padronizar as competências requeridas para os vidraceiros. Um profissional que tenha as qualificações descritas na norma ajudará no crescimento do setor e da empresa da qual faz parte, realizando trabalhos com mais técnica, segurança, qualidade e produtividade.”
Vânia Caneschi Oliveira, coordenadora de Atividades Técnicas da Escola Senai Orlando Laviero Ferraiuolo (São Paulo)

 

“Essa norma, antes de tudo, é a comprovação de que o trabalho de vidraceiro precisa ser entendido como um ofício complexo e, por isso, exercido por pessoas e empresas capacitadas conforme os tipos de envidraçamento que esses se propõem a fazer. O fato é que o vidraceiro tem de conhecer — e muito — o campo da arquitetura e engenharia civil, pois integramos esses mercados, além de sermos os consultores e fonte de informação para esses profissionais, assim como também temos de entender de pessoas, suas necessidades e sonhos.”
Gabriel Batista, diretor do Grupo Setor Vidreiro (São José dos Campos, SP)

 

“Essa norma é uma conquista, resultado de um pouco mais de dois anos com várias reuniões, discussões, estudada e discutida para sair da melhor forma possível. Vale destacar os elementos de competência e padrões de desempenho que são requisitos mínimos de conhecimento para cada qualificação. Participei de 80% das reuniões e fico feliz com o resultado.”
Daniel Estrela de Oliveira, sócio-diretor da Sev Exclusivv (São Paulo)

 

“A norma do vidraceiro é algo fundamental para o segmento. Hoje, apesar de o conhecimento para nosso ofício de ser de fácil alcance, temos diversos profissionais que não se atualizaram e outros que entraram nele há pouco tempo e desconhecem fatores de segurança, direitos e deveres que temos com a aplicação do produto vidro. Por meio dessa norma, todos competiremos pelas mesmas regras, de forma que os bons profissionais se destaquem e os que não cumprem requisitos básicos sejam expostos, fazendo assim com que o mercado se nivele para cima.”
Gabriel Rosa, gerente-comercial da LuxSol Glass (São João de Meriti, RJ)

 

“Essa norma vai mostrar quem é o profissional certificado e quem é o amador. Ela vem para levar as empresas a fazer melhorias internas e diferenciar as vidraçarias no longo prazo. Ao qualificar melhor seus vidraceiros, elas também terão vantagens ao apontar aos seus clientes a sua certificação, obtendo assim mais credibilidade no mercado. Com isso, os vidraceiros terão condições de formatar melhor as informações na gestão de suas empresas e expandir seu conhecimento das normas ABNT, normas regulamentadoras (NR) e Código de defesa do consumidor.
Rosita Brummer, consultora (Joinville, SC)

 

“A publicação dessa norma foi o primeiro grande passo para a real profissionalização dos vidraceiros, com destaque para a exigência da qualificação com certificação para cada estágio. A definição desse processo será feita agora, na segunda etapa.”
José Romão da Silva Neto, proprietário da R4 Vidros (Salvador, BA).

 

Mais novidades nas normas para o vidro
A Emenda 1 para a NBR 16023 — Vidros revestidos para controle solar — Requisitos, classificação e métodos de ensaio foi publicada pela ABNT no dia 23 de janeiro. Ela esclarece pontos a respeito da homogeneidade de cor dos vidros, explicando como eles devem ser avaliados e quais são os equipamentos utilizados para analisar as variações entre as diferentes peças, além de deixar claro que o fabricante do vidro, sempre que solicitado, deve informar quais são as tolerâncias que ele considera na variação de cor daquele produto específico.

 

Este texto foi originalmente publicado na edição 566 (fevereiro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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