Vidroplano
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Chegou a hora de a vidraçaria virar serralheria?

19/09/2016 - 11h54

Até pouco tempo atrás, o vidraceiro era um profissional que trabalhava somente com o vidro. Aos poucos, os kits de instalação (como os de boxe) entraram na lista de serviços oferecidos. Hoje, é necessária mais uma reinvenção: trabalhar com esquadrias. Por isso, chegou o momento de se perguntar: vale a pena a vidraçaria virar também serralheria e, assim, oferecer ainda mais aos clientes? O Vidroplano conversou com especialistas para conseguir uma resposta.

Por que ser serralheiro?
O mercado dos pequenos vidraceiros, aos poucos, vem sendo tomado pelas serralherias. “Antigamente, o serralheiro era contratado para fabricar as esquadrias e o vidraceiro, para colocar o vidro. Hoje não funciona mais assim”, conta Alexandre Araújo, professor universitário, consultor e instrutor do Sebrae. Também diretor do Canal do Serralheiro, Araújo explica que o cliente está mais exigente, com pouco tempo e, por isso, prefere resolver todo o serviço com apenas um profissional.

“Nosso mercado não vende somente preço, mas, antes de tudo, conveniência, beleza e conforto ao cliente”, analisa Juan Gomes, responsável pelo Marketing da Fise (produtora de componentes para esquadrias). E reforça: “Encontrar um local com portfólio completo passa segurança ao consumidor”.

Existe ainda outra situação: a falta de conhecimento sobre a importância da relação entre o alumínio e o vidro. “Quando um vidraceiro inicia no ramo, ele nem imagina que boa parte de suas obras precisará de estruturas de alumínio”, recorda Ricardo Câmara, personal coach e diretor da Central do Vidraceiro, empresa especializada em formação de mão de obra para o setor vidreiro. “Devido à falta de conhecimento sobre serralheria, ele é obrigado a dispensar algumas obras”, completa.

Segundo o engenheiro Ângelo Arruda, diretor da Vidrosistemas, especializada em instalação de vidros, o mercado está segmentado por custo: existem as obras de valor baixo e apertado, de soluções econômicas, e os projetos caros, com alta tecnologia. “O vidraceiro tem de escolher o melhor nicho de trabalho baseado em sua capacidade”, aconselha.

Primeiros passos
Alan Bernardes, diretor da Alumake, desenvolvedora de softwares para esquadrias, aponta algumas ações para serem postas em prática pelo vidraceiro antes de ele se aventurar pelo mundo da serralheria:

  • Fazer uma pesquisa de mercado em sua região, considerando potenciais clientes, público-alvo, concorrentes e seus mercados atuantes;
  • Definir a linha de produtos com que irá trabalhar;
  • Verificar se seu local de trabalho comporta a demanda de mercado e as novas instalações necessárias para a atividade.

Rafael Nandi da Motta, diretor da processadora Vipel, chama a atenção ainda para a importância de o vidraceiro fazer parcerias com distribuidoras de vidro e fabricantes de perfis. Para isso, cita como exemplo a própria Vipel e a Alump, empresa de alumínio do grupo. “Damos todo o suporte ao profissional que se interessar em virar serralheiro”, afirma o diretor. “Oferecemos treinamento, apresentamos produtos e soluções e também damos acesso a fornecedores de máquinas e equipamentos.”

um_mercado_que_se_abre2 cópiaÉ preciso contratar mão de obra especializada?
Em primeiro lugar, o trabalho com esquadrias necessita de conhecimento técnico específico. Portanto, não basta “entender” sobre serralheria para se dar bem. A melhor solução é inscrever toda a equipe em treinamentos sobre o assunto.

Um exemplo de curso desse tipo pode ser encontrado em diversas unidades do Senai pelo País — entre em contato com a unidade de seu Estado para saber se o curso é ministrado no local. Trata-se do Curso de Qualificação Profissional Serralheiro de Alumínio, voltado para a fabricação de esquadrias para edificações. Sua carga horária é de 160 horas.

Mais uma dica esperta: a Abravidro traz em seu site (www.abravidro.org.br) uma agenda completa de treinamentos realizados nos quatro cantos do Brasil. Alguns deles são organizados por entidades do setor de alumínio, como a Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal) e Associação Brasileira do Alumínio (Abal).

Além dos cursos, é possível ainda contratar um serralheiro com experiência em corte, usinagem e montagem. Assim, esse profissional irá auxiliar a equipe nos processos industriais. Também é importante contar com um técnico especializado em orçamentos e projetos diferenciados.

Mas, afinal, vale a pena se tornar um serralheiro?
Um novo e crescente mercado vai se abrir para o vidraceiro quando começar a trabalhar como serralheiro. “A diversificação de negócios em uma empresa é um fator muito importante, pois, com isso, a vidraçaria passa a depender menos de um mercado só e sente menos suas oscilações”, reflete Rafael Motta, da Vipel. “É sempre bom lembrar que todo ramo tem seus riscos; portanto, o vidraceiro terá de dar um passo de cada vez”, analisa Ricardo Câmara, da Central do Vidraceiro. Antes de se jogar de cabeça nesse segmento, faça a lição de casa:

  • Avalie os riscos;
  • Analise em quanto tempo o investimento a ser feito poderá ser recuperado;
  • Calcule se vai conseguir atender a demanda.

Se as respostas estiveram dentro do que espera, bem-vindo ao mundo das esquadrias!

 

O que faz uma serralheria?
A serralheria faz o corte e a usinagem dos perfis de esquadrias. O espaço inclui:

  • Linha de montagem para a colagem dos vidros;
  • Setor de expedição e logística do material que será enviado para as obras pronto para ser instalado.

 

Um mercado que se abre
Quais obras o vidraceiro-serralheiro pode conseguir? “O mercado de serralheria de alumínio é muito grande: vai do portão automatizado às fachadas glazing”, explica Max Del Olmo, diretor da AL Indústria, vidraçaria até a década de 2000, quando passou a trabalhar exclusivamente com alumínio. Veja a seguir uma lista dos trabalhos mais importantes para o negócio. Os projetos podem ser de empreendimentos comerciais (pequeno e médio porte) e também de residências de alto padrão.

  • Instalação de fachadas;
  • Envidraçamento de sacadas;
  • Coberturas;
  • Claraboias fixas e/ou retráteis;
  • Guarda-corpos;
  • Portões e muros.

 

Qual o investimento a ser feito?
PrintAs fontes ouvidas pela equipe de O Vidroplano deram diferentes respostas a respeito do valor médio para esse tipo de investimento. Dependendo do tamanho do empreendimento, dos produtos que serão comercializados e do perfil de cliente que se quer atender, pode variar de R$ 15 mil a R$ 100 mil.

De acordo com a estimativa prática passada pelo consultor Alexandre Araújo: uma serralheria com capacidade para até 2 t de esquadrias por mês — ou com faturamento aproximado de R$ 140 mil mensais — teria um investimento de R$ 60 mil.

 

O que é necessário para virar uma serralheria?
Émerson Diniz, diretor-comercial da empresa de softwares W. Vetro, e Fernando Kappel, gerente de Operações da processadora Vidratto, listaram os itens mais relevantes para a atividade.

  • Equipamentos e maquinários
    • Estampo — Usado para usinagem dos perfis, faz furações, recortes e rasgos (para a passagem dos trilhos nas folhas de correr em janelas e portas, por exemplo);
    • Pantógrafo e entestadeira — Maquinários que também fazem usinagem e encaixes de fechaduras;
    • Furadeira de bancada;
    • Serra circula;
    • Mesas de montagem;
    • Ferramentas manuais — Martelo, chave de fenda, parafusadeira etc.;
    • Cavaletes — Para estoque de perfis e esquadrias prontas;
  • ‘Software’ de gestão
    Cuida do orçamento e do processo de produção, facilitando a elaboração dos pedidos e evitando desperdício de matéria-prima;
  • Veículos para transporte

 

Os cuidados a serem tomados no início dos negócios
Toda atividade comercial tem seus riscos. Antes de se tornar um serralheiro, siga os passos a seguir para aumentar as chances de ganhar dinheiro nesse ramo.

  • FAÇA A CORRETA ANÁLISE DOS CUSTOS
    Quando o cálculo dos custos operacionais não é feito, o profissional fará vendas baseadas em valores que não cobrem os gastos de produção. Por isso, considere a composição completa dos custos, incluindo matéria-prima, mão de obra, despesas fixas (eletricidade, água, aluguel etc.) e demais variantes;
  • O MOMENTO DA VENDA É CRUCIAL
    “Por ser uma área que trabalha com vendas técnicas, deve-se investir em pessoal comercial qualificado em entender as necessidades do cliente e ofertar a solução correta”, pontua a engenheira Priscila Oliveira de Andrade, gerente de Vendas da Kömmerling, que acrescenta: “Hoje, buscamos experiências ao comprar; portanto, o segredo é mudar a concepção de venda para atingir a excelência em atendimento”.
  • PEDIDO SEM DESPERDÍCIO
    O corte não otimizado do alumínio traz prejuízos em matéria-prima e financeiros. Afinal, o alumínio, uma vez cortado, não pode ser emendado. A solução está em softwares de gestão com módulos para a realização de pedidos que otimizam o processo de fabricação e diminuem drasticamente o desperdício. Além disso, esses sistemas ajudam em outras áreas. “A maior preocupação das empresas é com o caixa”, revela Celso Boderguini, gerente-comercial da Perfil Alumínio do Brasil, fabricante de perfis extrudados. “Então, uma gestão eficaz, aliada a rígido controle de custos, minimiza os riscos”.

 

O que dizem as normas técnicas?
A NBR 10821 — Esquadrias externas para edificações, norma técnica mais importante sobre esquadrias, cita os testes de desempenho para esses produtos, condições ideais de instalação e manutenção, entre outros assuntos.

A engenheira Fabíola Rago, consultora-técnica da Afeal, indica outros textos relevantes para o setor. “Se o vidraceiro seguir essas normas, estará no caminho correto”, afirma.

  • NBR 12609 — Alumínio e suas ligas – Tratamento de superfície – Anodização para fins arquitetônicos – Requisitos: trata do processo de anodização do alumínio;
  • NBR 14125 — Alumínio e suas ligas – Tratamento de superfície – Revestimento orgânico para fins arquitetônicos – Requisitos: sobre esquadrias pintadas;
  • NBR 15969 — Componentes para esquadrias: a respeito dos componentes de esquadrias (roldanas, escovas etc.);
  • NBR 13756 — Esquadrias de alumínio – Guarnição elastomérica em EPDM para vedação – Especificação: trata da vedação com guarnição EPDM;
  • NBR 15575 — Edificações habitacionais – Desempenho: norma de desempenho em edificações que também aborda o desempenho acústico e térmico das esquadrias.

 

Eles são vidraceiros e serralheiros
Ninguém melhor do que vidraceiros que já trilharam esse caminho para explicar como a mudança acontece.

A Casa Sulina, de Itajubá (MG), já tinha mais de vinte anos de experiência no setor vidreiro quando, em 1998, realizou sua primeira obra com esquadrias. Percebendo o crescimento da procura por esses produtos, especializou-se no assunto a partir de então. O investimento feito nesse momento não foi tão grande, mas aos poucos a empresa se adequou à tecnologia dos maquinários pneumáticos. Hoje, o foco de seus negócios está em projetos com temperados e alumínio. “É um trabalho gratificante, mas que demanda muita dedicação”, revela o gerente César Nabak. “A busca por conhecimento é muito importante, assim como o cuidado com o produto, principalmente no acabamento.”

 

Fale com eles!
AL Indústria — www.alindustria.com.br
Abal — www.abal.org.br
Afeal — www.afeal.com.br
Alumake — www.alumake.com.br
Alump — www.alump.com.br
Canal do Serralheiro — www.canaldoserralheiro.com.br
Casa Sulina — www.casasulina.com
Central do Vidraceiro — www.centraldovidraceiro.com.br
Fise — www.fise.com.br
Kömmerling — www.kommerling.com.br
Perfil Alumínio do Brasil — www.perfilcm.com.br
Vidratto — www.vidratto.com
Vidrosistemas — www.vidrosistemas.com.br
Vipel — www.vipel.ind.br
W. Vetro — www.wvetro.com.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 525 (setembro de 2016) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista clicando aqui



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