Vidroplano
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Curvas de transparência

20/07/2018 - 13h00

Um produto versátil, que pode ser produzido de diferentes formas (a depender do porte da processadora envolvida), sendo instalado em diversas soluções arquitetônicas e decorativas. Esses são os vidros curvos, uma solução por vezes deixada de lado pelas empresas vidreiras, mas com capacidade para estar mais presente na construção civil.

Como é a produção desse material? Quais as dificuldades para trabalhar com esse item? Quais os cuidados a serem seguidos no processamento e instalação? Confira as respostas a seguir, além de exemplos de aplicação em obras.

Empreendimento residencial em Concórdia (SC): guarda-corpos com vidros de segurança (laminado de temperado 6+6 mm) processados pela Vipel e fornecidos pela Cebrace

 

Qual a demanda para curvos?

Enorme. A aplicação desse produto está crescendo, algo diferente do que acontecia há algum tempo, como explica Andirás Carneiro de Mendonça, da processadora Bisotê Vidros: “É possível dizer que o curvo ainda seja um produto novo em nosso mercado, pois durante muito tempo foi fornecido por poucas empresas, sempre sendo usado no campo da refrigeração”.

A própria tecnologia vidreira e o maior acesso a maquinários de curvatura permitiram esse crescimento. “Cada vez mais esse material tem entrado em diversos projetos, saindo daquela típica aplicação em mobiliários de lanchonetes, restaurantes e supermercados. Com a melhora nos métodos produtivos e maior atenção à segurança dos produtos, estamos vendo seu uso na arquitetura e em construções residenciais e comerciais”, analisa Rafael Nandi da Motta, diretor da processadora Vipel.

Sistemas para estruturas envidraçadas pequenas, como sacadas e boxes de banheiro, também estão na mira das empresas vidreiras. A Ideia Glass, por exemplo, lançou na feira Glass South America 2018, em maio, uma versão curva do boxe Kit Certo, mostrando que os clientes se interessam por soluções que fujam do óbvio.

Vitrine pode ser curva? A de uma loja localizada no Shopping Rio Sul, no bairro de Botafogo, Rio Janeiro, mostra que sim. Desenvolvida pela Vidros Belém, a estrutura foi instalada pela Darda Prestação de Serviços

 

 

Os métodos de curvatura
Cada técnica necessita de maquinários diferentes. Empresas nacionais produzem fornos para curvatura — a Sglass, por exemplo, fabrica equipamentos para atender vidros curvos pré-cozidos e temperados, em espessuras de 3,15 a 19 mm.

O diretor de Negócios da Glaston, Miika Äppelqvist, explica em artigo para o Glastory, site de conteúdo técnico vidreiro da empresa, as diferenças entre os quatro métodos existentes.

Têmpera
– O vidro é aquecido até mais de 630 ºC e, então, é dobrado de acordo com o raio desejado, em uma seção da processadora própria para essa tarefa;
– O vidro pode ser torcido em duas direções: longitudinal (no sentido do comprimento) e transversal (largura). Vale considerar que a curvatura longitudinal oferece maior qualidade óptica;
– O ângulo máximo de curvatura é, geralmente, de ¼ de um círculo;
– Na sequência, a peça é temperada, tornando-se um vidro de segurança;
– Indicado principalmente para a produção de formas cilíndricas.

Curvação a quente
– O vidro é colocado em moldes com a forma desejada para a peça, e é aquecido a 580-600 ºC;
– A gravidade faz com que o material se ajuste ao molde. Pode haver um auxílio mecânico para forçar o vidro a tomar o formato necessário;
– Permite a criação de dobras com ângulos mais fechados e formas variadas, que não sejam necessariamente cilíndricas;
– Importante: esse processo não aumenta a resistência mecânica do vidro, como faz a têmpera. Em aplicações arquitetônicas, é preciso laminar o material.

Curvação a frio
– Feita sem a necessidade de aquecimento, em temperatura ambiente;
– O vidro é colocado em um molde com o formato desejado. Este faz a dobra do material mecanicamente;
– O ângulo da curvatura é bem aberto, ou seja, a curvatura é bem pequena;
– Indicado para painéis únicos de vidros finos ou unidades de insulados;
– Pode ser realizado após a têmpera.

Curvatura com laminação
– Combina processo a frio com laminação tradicional;
– Monta-se o sanduíche de vidro e interlayer, que é encaixado em um molde para ser dobrado a frio;
– Somente após isso a peça é laminada na autoclave;
– Garante maior qualidade óptica ao material e permite a criação de formas mais flexíveis;
– Porém, é demorado e mais caro.

Em Salvador, um escritório de advocacia optou por curvos temperados (10 mm) para criar diferentes áreas de trabalho em formato cilíndrico. As ferragens usadas são da Glass Vetro e os vidros foram processados pela Unividros

 

Onde pode ser instalado?

Para Antônio Skardanas, sócio da processadora carioca Vidros Belém, algumas aplicações estão mais na moda do que outras: “O vidro curvo é muito utilizado em vitrines de lojas, fachadas e até em quiosques das praias do Rio de Janeiro. Facilita para o produto ser também um material de segurança, caso seja temperado ou laminado”. Orlando Pedro Nascimento, diretor da processadora Unividros, sugere outros usos: “Os profissionais de engenharia e arquitetura estão aproveitando ao máximo as potencialidades da matéria-prima, com destaque para aplicações em guarda-corpos de escadas monumentais e caracóis.”

Outras formas de se aplicar os curvos:

FECHAMENTOS
– Fachadas
– Vitrines
– Sistemas de sacada
– Janelas

MÓVEIS E MOBILIÁRIOS
– Mesas
– Aparadores
– Eletrodomésticos
– Mostruários
– Armários

USO ESTRUTURAL
– Guarda-corpos
– Divisórias
– Boxe de banheiro
– Visores de aquários e piscinas

 

Todas as sacadas do Hotel Blue Tree Premium, no Rio de Janeiro, acompanham o desenho ondulado da fachada. Para isso ser possível, os guarda-corpos receberam curvos laminados 8+8 mm (com interlayer SentryGlas), fornecidos pela Unividros

 

Por uma especificação e beneficiamento sem problemas

Termos importantes
Para trabalhar com curvos, é necessário saber alguns termos básicos de geometria em relação a circunferências. Eles serão muito úteis na hora dos cálculos para a especificação e beneficiamento do produto.

Diâmetro: reta que passa pelo centro da circunferência e vai de uma extremidade à outra;
Raio: reta que une um ponto qualquer da circunferência ao centro dela;
Arco: pedaço da circunferência;
Corda: reta que une dois pontos da circunferência;
Flecha: reta que une um ponto localizado na metade da corda a um ponto localizado na metade do arco correspondente.

Atenção às formas
Parece óbvio dizer, mas as processadoras devem lembrar do que elas são capazes de produzir antes de aceitar pedidos de clientes. “Análises e consultas preliminares em relação aos projetos são primordiais, a fim de ajustar as limitações e formas disponíveis para atendimento aos pedidos”, explica Luiz Hamilton da Silva, gerente-comercial da Bend Glass. Nesse momento, abrem-se novas oportunidades de negócio: “Caso tenhamos de desenvolver algum formato específico, o custo é repassado ao valor da mercadoria”.

Cálculos perfeitos
A especificação é um momento de extrema importância para os curvos. Diversas medidas precisam estar de acordo com o projeto do arquiteto ou engenheiro, como raio, perímetro, arco, corda e flecha. Caso alguma informação esteja incorreta, as peças não atenderão o pedido do cliente.

Float de qualidade
Utilizar uma matéria-prima livre de distorções ópticas ou falhas em sua superfície (como lascas e riscos) permitirá um processamento correto, criando curvos que responderão bem às questões mecânicas durante a instalação.

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A nova sede carioca do Infoglobo, empresa do Grupo Globo de comunicações, foi inaugurada no ano passado. Um de seus destaques arquitetônicos é seu revestimento externo de vidros azuis. Uma escada existente ali, de curvos temperados laminados 10+10 mm (com interlayer SentryGlas), segue a estética visual do prédio. A estrutura foi instalada pela Arte Tubos, com vidros processados pela Unividros

 

 

Este texto foi originalmente publicado na edição 547 (julho de 2018) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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