Vidroplano
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Mantendo o vidro no lugar

18/08/2017 - 18h26

Tanto selantes como adesivos são produtos comuns no trabalho de todo vidraceiro durante a instalação do nosso material nas obras. Por fazer parte desse dia a dia, muitos profissionais podem pensar que já conhecem bem esses produtos e sabem exatamente como usá-los — mas, como esta seção mostra a cada mês, a atualização do conhecimento e o aprendizado constante são peças fundamentais para evitar aplicações erradas e os problemas que elas trarão a médio e longo prazos.

O Vidroplano conversou com especialistas e profissionais do setor para reunir informações e dicas para o uso de cada tipo de produto. A seguir, veja um pouco mais sobre esses materiais.

Adesivo

Adesivo

Adesivo X selante líquidos
Em primeiro lugar, é importante reforçar que selantes e adesivos líquidos são produtos com funções diferentes. Jordana Barros, gerente de Negócios da Adespec, explica cada um:

Adesivo — Sua função é unir uma superfície à outra. Por conta disso, são produtos mais rígidos;

Selante — É utilizado principalmente para vedar lacunas que existem entre as superfícies, tornando-as impermeáveis. Geralmente, são mais flexíveis e com resistência inferior à dos adesivos.

Selante

Selante

Mas ainda há confusões sobre esses termos no nosso setor. “No mercado de fachadas, o material industrial de silicone usado para colar vidro e alumínio é conhecido genericamente por ‘selante estrutural’, um termo errado, pois o correto, nesse caso, seria ‘adesivo estrutural’”, explica Thiago Samora, gerente técnico da Sika.

Por dentro dos componentes
porque

Outro ponto para o qual o vidraceiro precisa estar atento é o tipo de componente usado na fabricação dos adesivos e selantes: dependendo do material, ele pode ser mais vantajoso para certo tipo de trabalho — ou, ao contrário, trazer problemas em vez de soluções.

- Silicone
Fernando Martins, especialista técnico da Dow Corning, destaca que adesivos ou selantes de silicone não são afetados por raios ultravioleta e são resistentes à água e a altas temperaturas;

- Poliuretano
Produtos feitos com esse material têm alta resistência mecânica (a forças e pressões), mas não suportam raios ultravioleta, temperaturas acima de 100 ºC ou produtos químicos. De acordo com Adriana Martinelli Catelli de Souza, coordenadora do curso de engenharia de materiais do Centro Universitário FEI, a cura do poliuretano normalmente é mais rápida que a do silicone;

- Híbrido
Segundo Eduardo Mano, gerente de Marketing da Tekbond, adesivos híbridos fazem parte de uma categoria mais recente, reunindo características do silicone e do poliuretano em um único produto — apresentam resistência mecânica mais alta que a do silicone e podem ser aplicados em áreas expostas a raios ultravioleta;

- Acrílico
Jorge Luis Alday, diretor da Alpatechno, aponta que, embora selantes com esse material sejam usados para vedações internas, de pequenas fendas, são produtos não recomendados para o setor vidreiro, pois não têm boa adesão sobre o vidro;

- Polímero de MS
Para Alday, soluções com esse componente têm grande versatilidade e excelente resposta como adesivos flexíveis. Por conta desse desempenho, elas são bastante usadas no Brasil para a fixação de espelhos;

- Pesilox
Desenvolvido pela Adespec, funciona como adesivo e selante, também combinando características do silicone e do poliuretano. “Ele pode aderir a diversos tipos de substrato sem precisar do uso de primers [produto para aumentar a adesão durante a colagem do vidro ou espelho]”, indica Jordana Barros.

Visores de piscina: evite selantes de silicone nessa aplicação

Visores de piscina: evite selantes de silicone nessa aplicação

Muitas opções, uma única escolha
Com tantas composições diferentes, como o vidraceiro pode escolher a solução mais adequada para sua necessidade? Mauro Medeiros, gerente de Contas de Selantes da Momentive, responde: “Para essa decisão, é preciso levar em conta se o produto será usado em ambiente interno ou externo, quais substratos em que o vidro será instalado e as características do componente do material escolhido”.

Medeiros aponta alguns exemplos de aplicação do vidro:

Visores de piscina — Selantes de silicone não são indicados, pois o material não foi desenvolvido para ficar submerso 100% do tempo;
Envidraçamento de sacada — Embora o silicone neutro comum possa ser usado se o vidro for encaixilhado, o estrutural é sempre recomendado para janelas, por oferecer maior robustez e adesão à estrutura;

Boxes de banheiro: além de vedar o sistema, silicone acético evita a proliferação de fungos

Boxes de banheiro: além de vedar o sistema, silicone acético evita a proliferação de fungos

Boxes de banheiro — Nesse caso, o silicone acético é indicado, por conter fungicida em sua composição;
Colagem estrutural de vidro em fachada — A NBR 15737 — Perfis de alumínio e suas ligas com acabamento superficial — Colagem de vidros com selante estrutural estabelece que silicones estruturais podem ser usados;
Juntas de dilatação (dispositivos para absorver a dilatação térmica das estruturas em contato com eles) — Recomenda-se o silicone neutro, cuja capacidade de movimento costuma ficar entre 35% e 50%. O poliuretano também é uma boa opção.

Basta desenrolar para fixar
Além dos adesivos líquidos, também é possível fixar vidros e espelhos com fitas de dupla face. “Mesmo em peles de vidro, seu uso é contemplado pela norma NBR 15919 — Perfis de alumínio e suas ligas com acabamento superficial — Colagem de vidros com fita dupla face estrutural de espuma acrílica para construção civil”, afirma Laureano Silva, gerente de Negócios da Adere. Além de proporcionar rapidez e maior produtividade, por não precisar de tempo de cura, elas também são recicláveis e resistentes a dilatações térmicas e intempéries.

Dupla face: ela não precisa de tempo de cura

Dupla face: ela não precisa de tempo de cura

O uso de fitas de dupla face é recomendado para a fixação de vidros ou espelhos em superfícies planas. Victor Hugo Busato, engenheiro de Aplicação da 3M, explica: “Onde não houver planicidade entre o vidro ou espelho e a parede ou estrutura, ou ainda caso a parede seja muito rugosa ou porosa, a fita de dupla face poderá não ter contato suficiente para suportar o esforço”.

Com relação especificamente a espelhos, há um cuidado adicional: embora as fitas de dupla face não provoquem manchas neles, recomenda-se verificar se há algum solvente residual ou outro componente químico que possam atacar e alterar visualmente sua superfície. É necessário, ainda, que sua fixação permita a circulação de ar entre a parede e o espelho, evitando sua oxidação.

Se surgirem dúvidas, a consulta à fabricante do produto é fundamental para evitar erros.

Cuidados para a colagem com fitas
Para trabalhos com esses produtos, há alguns procedimentos que precisam ser seguidos:

– Observar as dimensões e peso da peça a ser fixada para realizar os cálculos necessários — Luís Claudio Gandolphi, gerente técnico da Adere, explica que a regra para fixações estáticas com fitas de dupla face é utilizar 55 cm²/kg;
– Limpar a peça e o substrato com álcool isopropílico;
– Aplicar a fita de forma contínua em todo o contorno da peça, evitando o contato direto das mãos nas partes adesivas;
– Busato, da 3M, sugere, para aumentar o nível da fixação, o uso de primer ou outro promotor de adesão tanto no vidro ou espelho como no substrato em que ele será fixado;
– Pressionar a fita com firmeza em ambos os lados, para remover bolhas de ar e aumentar a área de contato da fita;
– Após posicionar a peça, evitar removê-la ou reposicioná-la antes da ancoragem total.

Neutro ou acético?
Ao procurar selantes de silicone, você vai encontrar em sua embalagem a informação se ele é neutro ou acético. Entenda a diferença:

Acético
– O silicone acético libera ácido acético durante a cura, explica Adriana Catelli de Souza, do Centro Universitário FEI. Thiago Samora, da Sika, destaca que esse ácido pode iniciar um processo de corrosão caso o produto seja aplicado em metais;
– Segundo Eduardo Mano, da Tekbond, os selantes feitos desse material são normalmente os indicados para trabalhos de vidro com vidro;
– Ele também é a opção recomendada para boxes de banheiro (pela presença de fungicida em sua composição).

Neutro
– Libera como subproduto de sua cura uma molécula de caráter neutro, sem potencial de causar corrosão nos substratos;
– Produtos com esse componente são mais versáteis e indicados para vedação em geral;
– “Havendo dúvidas sobre os diferentes tipos de substrato em que o produto será aplicado, opte pelo silicone neutro”, aconselha Adriana.

Controle sobre a cura
Na hora de escolher o adesivo ou selante para sua obra, você já deve ter reparado que eles são vendidos em uma única embalagem ou com duas latas e em bisnagas separadas. No primeiro caso, você adquiriu um produto monocomponente. tempodecuraNo segundo, um bicomponente. Fernando Martins, da Dow Corning, explica cada um:

- Monocomponente
Já é fornecido pronto para o uso. Sua cura ocorre pelo contato com a umidade atmosférica.

- Bicomponente
É composto de duas partes: uma, com a fórmula básica, e a outra, com o catalisador. A cura tem início quando ambas são combinadas. Apesar do trabalho da mistura, os bicomponentes costumam ter cura mais rápida que os monocomponentes.

Levando as normas aos vidraceiros
vp_senai1Como foi comentado no começo da reportagem, é importante que os vidraceiros estejam sempre atualizando seus conhecimentos por meio de treinamentos. Um deles é o Curso do Vidraceiro, realizado pela Escola Senai Orlando Laviero Ferraiuolo, na cidade de São Paulo.

A Abravidro contribuiu para a capacitação de duas turmas desse curso. Nos dias 3 e 5 de agosto, Clélia Bassetto, analista de Normalização da associação, palestrou aos alunos sobre as principais normas técnicas para a instalação de vidros e suas determinações para garantir um trabalho com segurança e qualidade.

Fale com eles!
3M — www.3m.com.br
Adere — www.adere.com.br
Adespec — www.adespec.com.br
Alpatechno — www.alpatechno.com.br
Dow Corning — www.dowcorning.com/pt_BR/content/brasil
FEI — www.fei.edu.br
Momentive — www.momentive.com
Sika — bra.sika.com
Tekbond — www.tekbond.com.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 536 (agosto de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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